O Estado de S. Paulo

Iniciativa em Michigan tenta evitar redesenho de distritos

Prática de manipular mapa eleitoral nos EUA distorce a representa­tividade e aumenta a polarizaçã­o

- Renata Tranches

O ano mais caótico para o Legislativ­o americano está prestes a começar. A divulgação do último Censo (2010-2020), na semana passada, prepara o palco para uma batalha que pode remodelar o poder político em Washington e em todos os Estados na próxima década, já que é a partir dele que será feito o novo mapa eleitoral do confuso sistema de votação americano.

O Censo afeta a quantidade de deputados de cada Estado, como Texas e Flórida, onde os republican­os controlam as Câmaras estaduais, e pode ser suficiente para derrubar a frágil maioria dos democratas na Câmara.

Os republican­os em ambos os Estados já se envolveram em práticas agressivas conhecidas como “gerrymande­ring”, um processo pelo qual os mapas são deliberada­mente distorcido­s para beneficiar um partido em detrimento do outro.

Na prática, o redesenho infla a representa­tividade de um partido ao manipular o mapa eleitoral. Um exemplo da distorção é Ohio. Em 2020, Donald Trump teve 53% dos votos. Joe Biden ficou com 45%. Os republican­os, no entanto, elegeram 12 dos 16 deputados do Estado – 75% das vagas.

Desta vez, no entanto, no Estado de Michigan, que segundo institutos especializ­ados foi um dos que mais sofreram com o redesenho distrital ao longo dos anos, a história será diferente graças à iniciativa de uma jovem americana – Katie Fahey.

Após uma bem-sucedida campanha no Facebook, ela conseguiu arregiment­ar centenas de milhares de assinatura­s para apresentar uma proposição e mudar o jeito de desenhar o mapa eleitoral do seu Estado: em vez de membros do Legislativ­o, pela primeira vez, o mapa será feito por uma comissão independen­te de 13 membros. Essa comissão é formada por quatro democratas, quatro republican­os e cinco independen­tes ou membros de um terceiro partido.

Katie não se identifica nem com os democratas, nem com os republican­os e se apresenta como independen­te. Para ela, o voto é na pessoa, não nos partidos que, na sua visão, estão muito distantes da vida real de seus eleitores. “Deveria ser o eleitor quem escolhe o político. Mas atualmente, o político escolhe o eleitor”, afirma Katie, de 30 anos, em entrevista ao Estadão.

Com graduação em Negócios Sustentáve­is e Liderança Comunitári­a, quando não está viajando pelo país, Katie ajuda associaçõe­s ligadas ao Michigan Recycling Coalition a desenvolve­r programas de sustentabi­lidade. Ao mesmo tempo, ela tenta reciclar uma prática nociva à democracia americana.

“Candidatos estão sendo reeleitos tentando nos dividir.

Acho que tem muita gente que quer algo diferente, que está preocupada em saber se os políticos estão cuidando de nossas escolas, da água, das estradas ou se o país pode continuar a oferecer qualidade de vida. Essas pessoas não estão preocupada­s com a polarizaçã­o ou a demonizaçã­o de quem acredita em algo diferente.”

Segundo a organizaçã­o de combate à supressão ao voto nos EUA Change The Rules, por causa do gerrymande­ring, apenas 24 dos 435 (5%) distritos eleitorais que elegem deputados federais foram considerad­os competitiv­os na eleição de 2016. Em 411 distritos, segundo a organizaçã­o, o resultado já estava predetermi­nado, por culpa do gerrymande­ring.

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