Negociação sobre pacto nuclear com Irã avança
Teerã prevê retirada de sanções aos setores de energia, automóveis, bancos e portos; não há prazo para volta dos EUA
Diplomatas de alto escalão da China, Alemanha, França, Rússia e Grã-Bretanha avançaram nas negociações com o Irã ontem da retomada do acordo nuclear de 2015. A meta é trazer os EUA de volta ao compromisso, rompido pelo ex-presidente Donald Trump.
O principal representante da Rússia, Mikhail Ulyanov, disse no Twitter que os membros do Joint Comprehensive Plan of Action, ou JCPOA, “notaram hoje o indiscutível progresso feito nas negociações de Viena sobre a restauração do acordo nuclear”. A comissão se reunirá novamente no final da próxima semana.
O principal negociador do Irã disse que Teerã espera que as sanções dos EUA ao petróleo, bancos e outros setores e à maioria dos indivíduos e instituições sejam suspensas com base nos acordos alcançados até agora nas negociações em Viena. “Sanções no setor de energia do Irã, que incluem petróleo e gás, ou na indústria automotiva, sanções financeiras, bancárias e portuárias, todas devem ser levantadas com base nos acordos alcançados até agora”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, à mídia estatal.
Araghchi também participou das negociações em Viena. “Posso dizer que agora nossas discussões atingiram a maturidade, tanto nos temas em disputa quanto nas seções em que concordamos”, disse ele à TV estatal iraniana. “Embora ainda não possamos prever quando e como seremos capazes de chegar a um acordo, ele está avançando, embora lentamente.”
Os EUA não tinham um representante à mesa quando os diplomatas se reuniram em Viena porque o ex-presidente Donald Trump retirou unilateralmente o país do acordo em 2018. Trump também restaurou e aumentou as sanções para tentar forçar o Irã a renegociar o pacto com mais concessões. O presidente dos EUA, Joe Biden, quer voltar ao acordo, e uma delegação dos EUA em Viena estava participando de negociações indiretas com o Irã, com diplomatas de outras potências mundiais atuando como intermediários.
O governo Biden está considerando um retrocesso de algumas das sanções mais rigorosas da era Trump em uma tentativa de fazer o Irã voltar a cumprir o acordo nuclear, segundo atuais e ex-funcionários dos EUA e outros familiarizados com o assunto.
Ulyanov disse que os integrantes do JCPOA se reuniram ao lado de funcionários da delegação dos EUA, mas a delegação iraniana não estava pronta para se encontrar com diplomatas dos EUA.
O acordo nuclear prometeu incentivos econômicos ao Irã em troca de restrições ao seu programa nuclear. A reimposição das sanções dos EUA atingiu a economia do país e Teerã respondeu violando o acordo repetidamente, aumentando a pureza do urânio que enriquece e de seus estoques, em um esforço até agora malsucedido para pressionar os outros países a fornecer alívio das sanções. O objetivo final do acordo é evitar que o Irã desenvolva uma bomba nuclear, algo que o país insiste que não quer fazer.
O Irã tem urânio enriquecido suficiente para fazer uma bomba, mas nada perto da quantidade que tinha antes da assinatura do acordo nuclear. As negociações em Viena começaram no início de abril e incluíram várias rodadas de discussões de alto nível. Grupos de especialistas também têm trabalhado em como resolver as questões em torno das sanções americanas e do cumprimento do Irã.
Fora das negociações em Viena, outros desafios permanecem. Um ataque suspeito de ter sido executado por Israel atingiu recentemente a instalação nuclear iraniana de Natanz, causando danos. Teerã retaliou começando a enriquecer uma pequena quantidade de urânio com até 60% de pureza, seu nível mais alto até hoje.