O Estado de S. Paulo

‘ERA A ÚNICA OPORTUNIDA­DE DE ESTUDAR’

- / J.M.

Ex-aluno de uma escola estadual, Felipe Cabral, de 19 anos, mal sabia, na época do ensino médio, o que era a Universida­de de São Paulo (USP). Passou a conhecer – e desejar – a USP depois que entrou em um cursinho popular, no ano passado. Em março, a pandemia parecia mais um obstáculo.

“Foi um baque porque não tinha computador.” Onde todos viam só dificuldad­es, Felipe achou uma chance: jovem aprendiz em uma empresa, ele foi dispensado do trabalho presencial, mas continuou recebendo. “Virou uma chave na minha cabeça. Seria a única oportunida­de de não trabalhar e manter o foco nos estudos. Se antes eu já estudava bastante, teria de estudar o dobro.” Aos sábados, assistia às aulas do Curso Mafalda pelo celular e, durante a semana, estudava com apostilas.

A sombra do desemprego quase o tirou da corrida. O contrato de trabalho terminou e Felipe chegou a pensar em buscar outra renda, durante a 2.ª fase da Fuvest, para ajudar a mãe, auxi- liar de serviços gerais, a pagar as contas. A família, com dois ir- mãos mais novos, segurou as pontas. Quem deu a notícia da aprovação foi um tutor do cursi- nho, que virou amigo. “Nem acreditava, olhava meu nome na lista, conferia o CPF.” Não pode ser outro Felipe Rodri- gues Cabral?, indagava.

Agora, quer pisar na universi- dade que só conhece por fotos. “Nos primeiros dias vou ter de dormir lá para ver tudo.” E, nos planos, também está ingressar em um cursinho popular, dessa vez como monitor. “Para devol- ver o que me foi dado.”

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