O Estado de S. Paulo

Governo avalia novo modelo de aluguel social

Proposta prevê parceria com setor privado para manutenção de empreendim­entos; mas plano esbarra em limitação do Orçamento

- Idiana Tomazelli /

O Ministério do Desenvolvi­mento Regional (MDR) quer tirar do papel no segundo semestre deste ano um projeto piloto de parceria público-privada de aluguel social, disse ao Estadão/Broadcast o secretário de Habitação, Alfredo Santos.

A ideia é desonerar o orçamento das famílias de baixa renda e, ao mesmo tempo, permitir a operação privada do empreendim­ento, inclusive com manutençõe­s periódicas no imóvel, evitando problemas hoje recorrente­s de deterioraç­ão em residencia­is do Minha Casa Minha Vida.

A iniciativa já foi qualificad­a no Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI) e entra agora em fase de estruturaç­ão do modelo. Uma opção é combinar contrapart­idas federais ou locais, como terreno e parte do investimen­to, na fase de construção das moradias voltadas ao aluguel social com o capital do governo local para financiar a operação realizada pela empresa – que ficaria responsáve­l por administra­r o empreendim­ento pelo período do contrato.

Segundo Santos, a participaç­ão do governo federal com recursos para as obras vai depender de fatores como disponibil­idade de Orçamento e real necessidad­e dessa contribuiç­ão para reduzir o preço final do aluguel social, adequando o valor à capacidade de pagamento das famílias. Na prática, quanto maior for o investimen­to a cargo da empresa, maior será a sua remuneraçã­o, o que poderia onerar os beneficiár­ios, o gestor local ou até inviabiliz­ar o projeto.

O governo, porém, já tem enfrentado limitações no Orçamento e, em 2021, teve zerada a verba para construção de casas cujas obras já estavam em andamento. Até o momento, o corte não afeta os estudos da pasta sobre aluguel social.

Outra hipótese é aproveitar prédios públicos hoje sem uso. Essa alternativ­a tem como vantagem o fato de posicionar essas famílias em locais centrais dos municípios, resolvendo um dos problemas da política habitacion­al de anos anteriores, que isolou moradores em áreas sem infraestru­tura básica ou equipament­os públicos como escolas, creches e unidades de saúde.

Por outro lado, o custo de adequação pode ser maior do que construir do zero. Por isso, segundo o secretário, seriam necessária­s “algumas flexibiliz­ações” em códigos de realização de obras.

Outro modelo que já existe em alguns Estados, como São Paulo e Paraná, é a produção voltada

“Temos de enfrentar o principal componente do déficit habitacion­al, que é o ônus excessivo do aluguel.” Alfredo Santos SECRETÁRIO DA HABITAÇÃO

a um público específico, como idosos. Nesses modelos, os idosos compromete­m parte pequena da renda, mas além do aluguel recebem outros serviços, como segurança, assistênci­a de saúde no local, entre outras. “Vai além do prédio, atinge realmente a questão da moradia digna”, afirma Santos.

Um desafio, na avaliação de Santos, é mudar o conceito de que aluguel social é sinônimo de moradia totalmente subsidiada pelo governo. “Hoje, aluguel social é entendido como pagamento de 100% pelo poder público em situações emergencia­is, como calamidade­s, remoção de áreas de risco. Não é disso que estamos falando. Estamos falando de enfrentar o principal componente do déficit habitacion­al, que é o ônus excessivo do aluguel (quando se compromete mais de 30% da renda com esse pagamento).”

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