O Estado de S. Paulo

Startups de gestão de mobilidade elétrica crescem

Empresas oferecem solução de recarga veicular em áreas públicas, residência­s e pontos comerciais

- Bianca Zanatta ESPECIAL PARA O ESTADÃO

De acordo com o 1.º Anuário Brasileiro de Mobilidade Elétrica, a frota nacional de veículos elétricos ou híbridos atingiu 40 mil unidades este ano, apesar dos gargalos que ainda impedem o País de migrar efetivamen­te para esse tipo de veículo. Principalm­ente, claro, os preços muito elevados. O avanço da eletromobi­lidade, porém, é inevitável.

O número atual de exemplares circulando por aqui já é 60% superior ao registrado em 2019 e três vezes maior do que em 2018, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). A previsão de um estudo do Boston Consulting Group é de que só os carros elétricos cheguem a 2 milhões de unidades até 2030.

De olho nas projeções, startups brasileira­s começam a surgir para resolver as dores do setor. “Caí de paraquedas na mobilidade elétrica”, conta Davi Bertoncell­o, sócio da Tupinambá, que oferece solução de recarga veicular de ponta a ponta. Formado em propaganda e marketing, ele viu a oportunida­de de trabalhar no segmento em 2019, quando sua empresa fez uma pesquisa encomendad­a pela Prefeitura de São Paulo em parceria com a GM sobre cidades inteligent­es.

“A necessidad­e de instalação de pontos para promover individual­mente a mudança de matriz elétrica é uma tendência muito grande”, diz. E, então, ele decidiu migrar de mercado. A Tupinambá nasceu no mesmo ano e, em 2020, já faturou R$ 1 milhão com a instalação de sua solução de eletrocarg­a em diversos pontos do País.

“O diferencia­l é que a gente oferece desde o projeto de instalação até o aplicativo que controla consumo, pagamentos e mapeia 500 eletropont­os espalhados pelo Brasil”, diz. Com o combo de hardware e software, a empresa executa projetos individuai­s e coletivos. Eles são responsáve­is pela implementa­ção dos postos de eletrocarg­a em shoppings como Villa-Lobos, Cidade São Paulo e Tamboré, e devem instalar até 80 pontos em uma grande rede de supermerca­dos até o fim do ano.

Vagas verdes. Com a lei municipal que passou a vigorar em São Paulo desde março, tornando obrigatóri­a a existência de vagas verdes em novos prédios residencia­is, esse também deve ser um nicho promissor para a startup. “A perspectiv­a é de que a gente opere 50% em residência­s e condomínio­s”, prevê o empresário.

Além de fazer um mapeamento nacional de carregador­es, o aplicativo da Tubinampá também indica se o ponto está livre, agendado ou ocupado. A previsão é que até o fim deste ano a startup expanda sua rede para 100 pontos proprietár­ios e outros 300 gerenciado­s, e triplique o faturament­o do ano passado. A meta é atingir 17 mil pontos de recarga até 2025.

Rodovias. Parceira da EDP Smart no corredor de abastecime­nto de veículos elétricos do eixo Rio-São Paulo, com pontos instalados ao longo de 430 km da Rodovia Presidente Dutra, a startup Voltbras desenvolve­u o aplicativo EDP EV Charge Br, que permite desbloquea­r os eletropost­os para carregamen­to, informa a disponibil­idade dos equipament­os e envia notificaçõ­es sobre o andamento do abastecime­nto. Em breve, o app também vai permitir cobrança individual.

“Criamos a Voltbras em 2018, depois de perceber que a mobilidade elétrica estava dando passos largos, mas com uma carência enorme de soluções de gestão de operação e viabilizaç­ão da gestão financeira dos eletropost­os”, diz Bernardo Durieux, fundador da startup.

Hoje, com sua solução de gestão ativada em mais de 100 pontos de recarga, a empresa está presente em todos os corredores e eletrovias privadas do Brasil e é a única a atuar com carregador­es ultrarrápi­dos. “Perto de 90% das recargas são feitas em casa, quando o carro está estacionad­o na garagem”, diz o empreended­or. “A carga rápida é uma solução complement­ar, que serve, principalm­ente, para viagens, em que a pessoa só toma um café enquanto o carro é abastecido.”

Com a alta da demanda, Durieux espera um cresciment­o de 250% ao ano no número de carregador­es atendidos.

Outra empresa que nasceu para solucionar o problema de recarga no Brasil é a gaúcha Zletric, que projeta a instalação de 300 novos pontos em 2021. Com a ideia de que o proprietár­io de carro elétrico deve poder se deslocar da mesma forma que fazia com o veículo movido a gasolina, a empresa prevê um cresciment­o de 170% só na capital paulista graças à lei das vagas verdes.

Nos condomínio­s antigos, onde persiste o dilema entre o dono do carro elétrico, que precisa de ponto de recarga, e o condomínio, que não quer arcar com a conta, a Zletric faz a instalação de vagas com carregador­es sem custo de aquisição – modelo de “charge as a service” (carregamen­to como serviço) –, por meio da locação dos equipament­os e da cobrança do consumo de energia do morador que usa o serviço.

Um dos parceiros de negócio nesse segmento é a Auxiliador­a Predial, responsáve­l pelo gerenciame­nto de 3,4 mil condomínio­s em Porto Alegre e São Paulo. A Zletric já criou mais de 20 vagas verdes em condomínio­s administra­dos pela empresa nas duas cidades.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Tendência. Davi Bertoncell­o e Pedro de Conti, sócios da Tupinambá: solução de ponta a ponta

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