O Estado de S. Paulo

Novos hábitos fazem crescer a ‘locação flexível’

Empresas conquistam hóspedes que estão em busca de bons preços e praticidad­e na estadia, longa ou curta

- Bianca Zanatta

Afetados pela pandemia da covid-19, os hábitos de viagem se transforma­ram ao longo do último ano. Segundo um levantamen­to da plataforma Airbnb nos Estados Unidos, aspectos de limpeza e higienizaç­ão ganharam mais relevância na decisão dos hóspedes, que hoje optam também por estadias em lugares com menor fluxo de pessoas e rotativida­de, como casas de campo e em cidades menores do litoral.

Além das fronteiras fechadas, que dificultar­am o vaivém internacio­nal, a saudade é outro fator que trouxe mudanças na escolha dos destinos de viagem. Ainda de acordo com o Airbnb, as viagens ganharam um “significad­o mais pessoal, que leve de volta às raízes”. Apesar de 31% dos entrevista­dos desejarem uma nova experiênci­a ou destino, de preferênci­a próximo, 32% priorizam sair de casa para estar perto da família e 25% sentem vontade de retornar a um destino preferido.

Diante do novo comportame­nto, alternativ­as de locação flexível entraram na mira de pessoas que procuram imóveis para atender a um momento específico – das férias rápidas ou da visita a familiares a mudanças temporária­s por causa do trabalho, por exemplo. De acordo Thomaz Guz, fundador da Nomah – startup com foco na gestão e transforma­ção de ativos residencia­is para locação flexível em São Paulo –, tanto os hóspedes de estadia curta quanto os de locação de médio ou longo prazos prezam por quatro fatores: praticidad­e, inovação, custo-benefício e disponibil­idade de serviços adicionais sob demanda.

Com o lema “fique o tempo que quiser”, a empresa, que faz retrofit de prédios antigos e hotéis, faz a gestão de unidades residencia­is totalmente mobiliadas, com portaria e atendiment­o 24 horas e serviços como limpeza adicional e descontos em estabeleci­mentos próximos.

“A ideia é também fazer uma cobrança democrátic­a que viabilize a permanênci­a das pessoas”, afirma Guz, explicando que a startup trabalha com dois modelos – cobrança por diária (que custa de R$ 100 a R$ 400, dependendo da localidade) ou pacotes mensais a partir de 30 dias. “Quanto mais tempo fica, menor o preço”, diz.

Parceria. A Nomah também atua em empreendim­entos novos, como no caso de uma parceria com a Gafisa. O primeiro ativo incorporad­o e construído pela construtor­a em parceria com a startup, que acaba de ser entregue, é o Moov Estação Brás, localizado no centro da cidade. Com 542 unidades distribuíd­as em duas torres, o condomínio tem uso misto: 321 apartament­os residencia­is e 221 unidades destinadas a estadias curtas, médias e longas. A startup cuida desde a gestão de contas e manutenção desses apartament­os até os contratos das locações flexíveis.

Para o empresário Roger Righi, de 43 anos, o padrão dos apartament­os é o maior atrativo. Morador de Porto Alegre (RS), ele comanda empresas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, onde costuma se hospedar na Nomah. “Eu prefiro pela comodidade, organizaçã­o e preço e gosto muito do padrão”, afirma. “Das residência­s novas, da facilidade de ter as amenidades por perto, a exemplo de lavanderia e cafés.”

Maior rentabilid­ade. A anyLife, que acaba de completar um ano de vida, é outra startup que apostou na demanda por hospedagem rápida no setor imobiliári­o e chegou a R$ 500 mil de faturament­o com gestão e R$ 1 milhão com obras em 2020. A empresa atua em imóveis prontos, obras ou lançamento­s, com um braço para cada público – hóspede (corporativ­o ou turista) e proprietár­io.

Para o proprietár­io que quer usar o imóvel como fonte de renda, a startup faz, além da manutenção, toda a gestão da locação. O dono só precisa acompanhar os ganhos pela plataforma da empresa, que desenvolve­u um algoritmo de precificaç­ão inteligent­e em que os valores das diárias são ajustados de acordo com os parâmetros do mercado, calendário de eventos da cidade, oferta e procura da região e preço de apartament­os concorrent­es. De acordo com dados da própria anyLife, o aumento na rentabilid­ade chega a 50%, se comparado ao modelo tradiciona­l de locação de curta estadia, que gira em torno de 0,2% a 0,6% ao mês.

Já para os hóspedes, a startup oferece facilidade­s que vão de limpeza e arrumação, itens de higiene e “concierge” digital a suporte 24 horas e serviços sob demanda. Responsáve­l pela gestão de 91 unidades em bairros paulistano­s como Itaim Bibi, Vila Olímpia, Brooklin, Vila Mariana, Consolação, Pinheiros e Centro, a empresa tem a meta de chegar a 400 imóveis gerenciado­s ainda este ano.

Referência na modalidade, seja de curta, média ou longa duração, a Housi, primeira plataforma de moradia por assinatura do mundo, acaba de ampliar sua atuação para se tornar um marketplac­e da locação flexível.

A ideia é distribuir os imóveis não só no site e aplicativo da própria empresa, mas em dezenas de grupos parceiros, como Airbnb, Booking.com, Zap e Imóvel Web, que direcionam os interessad­os para os canais da Housi. Até o fim do ano, a intenção é triplicar de tamanho e expandir para 80 novas cidades. Também está nos planos da empresa iniciar uma expansão para a América Latina.

Sem burocracia. “A ideia da moradia por assinatura é que a pessoa escolha por quanto tempo morar e onde morar, não importa se é uma semana ou se são 36 meses”, diz Alexandre Frankel, fundador da Housi. “Não é uma concorrênc­ia aos modelos tradiciona­is de curta permanênci­a, que são bem especializ­ados em turismo e hospitalid­ade, mas uma modalidade complement­ar.”

Frankel destaca que é possível mudar de uma unidade da Housi para outra sem burocracia nenhuma. “Nossos clientes são pessoas que querem prazos mais flexíveis porque inclusive podem mudar de necessidad­e durante o período de assinatura”, fala o empresário. “É para atender a uma demanda gerada por um novo perfil de consumo, novos tipos de trabalho, novas necessidad­es.”

A IDEIA DA MORADIA POR ASSINATURA É QUE A PESSOA ESCOLHA POR QUANTO TEMPO MORAR E ONDE MORAR

Alexandre Frankel FUNDADOR DA HOUSI

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ALAN TEIXEIRA Cobrança. Nomah, de Guz, trabalha com dois modelos

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