O Estado de S. Paulo

O Oscar do novo mundo

- Alice Ferraz* MODA@ESTADAO.COM

Todo ano me preparo. Descanso à tarde (confesso sou uma dorminhoca assumida) para estar 100% atenta. São raros os programas que juntam minhas paixões, mas o Oscar sempre foi esse momento de união entre a sétima arte, o cinema e as tendências de moda e beleza. Até que 2021 mudou tudo mais uma vez. Pronta para a noite, que ocorreu na última semana, não havia, no entanto, me preparado para o “novo Oscar”. Eu sabia que a cerimônia seria online e, habituada a esse ambiente, estava animada e cheia de expectativ­a. Mas o mundo mudou e eu, agarrada às imagens já conhecidas do tapete vermelho, me vi esperando a conhecida cerimônia aparecer na tela sem me dar conta de que a premiação também era outra.

O longo e glamouroso vestido Armani vermelho da atriz Amanda Seyfried, que seria minha predileta e que trazia cabelos delicadame­nte presos em um penteado perfeito para qualquer festa de Oscar, agora, parecia saído de um túnel do tempo, do tempo pré-pandemia, pré-George Floyd, pré tantos acontecime­ntos que nos mudaram profundame­nte. Uma moda linda, de fato, mas também absolutame­nte fora de contexto. Mas qual contexto, Alice? O contexto em que está enquadrado este abril de 2021 no planeta Terra, em qualquer lugar que se esteja, respondi prontament­e para mim mesma. A partir desta tomada de consciênci­a repentina e não convidada previament­e para esse momento de puro entretenim­ento, o Oscar mudou para mim.

Quem fazia sentido na imagem do novo Oscar era a diretora chinesa Chloé Zhao que, vestida em um conjunto em tom de areia, sem joias, sem maquiagem e de tênis, recebia a estatueta pelo melhor filme de 2021 por um longa de poucos atores e muitas pessoas comuns. Em pouco tempo assistindo ao evento, percebi que o problema “túnel do tempo” da primeira atriz não era o vestido ter ou não cor, ela usar ou não joias ou salto. Assim, assisti com alegria à atriz Zendaya (foto) chegar à premiação dentro de um vestido amarelo-vivo com seus cabelos longos, naturais e soltos ao vento, usando joias e, mesmo assim, trazendo uma atualidade instantâne­a. Diferentem­ente de Amanda Seyfried e seu look vermelho, lindo, porém datado, Zendaya exalava a energia dos novos tempos, assim como Chloé Zhao.

Para ler o tempo em que vivemos através de imagens de moda, deve-se libertar da imagem da beleza pela beleza. É preciso se abrir ao novo sem saber de onde ele vai surgir. E, assim, a nova figura tem a possibilid­ade de tomar forma e mostrar um novo caminho para um novo mundo.

✽ É ESPECIALIS­TA EM MARKETING DE INFLUÊNCIA E ESCRITORA, AUTORA DE ‘MODA À BRASILEIRA’

SEG. Gilberto Amendola e Cris Berger | TER. Suzana Barelli, Mônica Nóbrega (quinzenal) QUA. Leandro Karnal, Roberto DaMatta e Patricia Ferraz | QUI. Luis Fernando Verissimo, Daniel Martins de Barros (quinzenal), Gilberto Amendola e João Wady Cury | SEX. Milton Hatoum (mensal), Ignácio de Loyola Brandão (quinzenal) SAB. Sérgio Augusto (quinzenal), Marcelo Rubens Paiva (quinzenal), Maria Fernanda Rodrigues e Patricia Ferraz | DOM. Leandro Karnal, Luis Fernando Verissimo, Sérgio Augusto (Aliás, quinzenal), Alice Ferraz e Murilo Busolin

 ?? CHRIS PIZZELLO/REUTERS ??
CHRIS PIZZELLO/REUTERS
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil