O Estado de S. Paulo

Prefeito de São Paulo, Bruno Covas morre no auge da carreira e da vida

Político de 41 anos lutava desde 2019 contra um câncer; seu corpo seguiu em cortejo por ruas da cidade e foi depois enterrado em Santos

- Bruno Ribeiro Paula Reverbel FERRAZ COLABOROU ADRIANA

O prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), morreu na manhã de ontem, aos 41 anos, por complicaçõ­es de um agressivo câncer no sistema digestivo. Seu corpo foi velado por familiares e amigos mais próximos no saguão da Prefeitura, onde foi celebrada uma missa transmitid­a pela internet. De lá, seguiu em cortejo em carro aberto do Corpo dos Bombeiros por algumas das principais vias da cidade, onde foi aplaudido pela população. Depois, foi enterrado em Santos, no mesmo jazigo onde seu avô materno, o exgovernad­or Mário Covas, foi sepultado há 20 anos após também morrer de câncer. Bruno Covas lutava contra a doença desde outubro de 2019, mas só se afastou da Prefeitura no último dia 2, quando foi internado no Hospital Sírio-libanês. A cidade, desde então, é governada pelo vice, Ricardo Nunes (MDB). Formado em Direito (USP) e Economia (PUC), Bruno se filiou ao PSDB aos 17 anos. Antes de comandar a maior cidade do País, foi eleito deputado estadual duas vezes, deputado federal e vice-prefeito. Assumiu o posto de prefeito com a renúncia de João Doria, em 2018, e depois se reelegeu como cabeça de chapa. Tímido e disciplina­do, sem inimigos e com respaldo das urnas, o prefeito estava no auge da carreira política. Do “PSDB raiz”, era muito apegado ao único filho, Tomás Covas Lopes, de 15 anos, com quem vivia e que o acompanhou durante todo o tratamento.

O prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), morreu na manhã de ontem após lutar por um ano e meio contra um câncer agressivo, descoberto já em metástase. O corpo foi velado por familiares e amigos mais próximos no saguão da Prefeitura, onde foi celebrada uma missa transmitid­a pela internet. De lá, seguiu em cortejo em carro aberto do Corpo dos Bombeiros por algumas das principais vias do centro, onde foi aplaudido pela população. Aos 41 anos, Covas foi enterrado em Santos, no mesmo jazigo onde seu avô, Mário Covas, foi sepultado há 20 anos.

O tucano estava internado no Hospital Sírio-libanês desde o dia 2, quando se licenciou do cargo. A nota divulgada pela equipe médica informou que “Covas faleceu às 8h20 em decorrênci­a de um câncer da transição esôfago gástrica, com metástase ao diagnóstic­o, e complicaçõ­es após longo período de tratamento”. Na sexta-feira, os médicos já haviam divulgado um boletim afirmando que a situação era irreversív­el.

Na saída do velório, o governador João Doria (PSDB) afirmou que, ao saber de sua condição, Covas decidiu não ser intubado e “viver no seu tempo”, exatamente como fez o avô Mário Covas, há mais de 20 anos.

“Estive com ele na segunda. Ele estava consciente, sensível, sorriu várias vezes. Já tinha a compreensã­o de que a doença era irreversív­el e agiu exatamente como o avô quando tomou a decisão, indagado pelos médicos, em relação ao seu próprio destino. Disse aos médicos, especialme­nte ao doutor David Uip, que cuidou do seu avô: ‘Eu quero seguir o meu destino. Não quero máquinas, não quero superficia­lidade, não quero nada além da minha existência’. Só as pessoas de muita grandeza compreende­m a direção da vida e da morte”, disse Doria.

De segunda até ontem, Covas ainda teve disposição para receber a visita de outros políticos, como o vice-governador, Rodrigo Garcia (recém-filiado ao PSDB), e o até então prefeito em exercício, Ricardo Nunes (MDB). Mesmo debilitado, os dois ainda conversava­m sobre os principais problemas da cidade por telefone e mensagens de texto e áudio.

Evolução. Depois de passar quase um ano mais disposto, sem se submeter a sessões de quimiotera­pia e tendo saúde para disputar e vencer uma eleição, Covas foi diagnostic­ado com um novo tumor no fígado em fevereiro. Ainda voltou para o tratamento com quimiotera­pia, mas a doença evoluiu muito rapidament­e e atingiu também os ossos.

Com dores e um quadro de anemia, o prefeito foi internado no início do mês e pediu afastament­o. Informou a população por meio dos médicos e de suas redes sociais, espaço que usava para demonstrar otimismo e determinaç­ão em vencer a doença. Quase sempre estava acompanhad­o pelo filho Tomás, de 15 anos, com quem dividia um apartament­o na zona oeste da cidade (leia mais nesta página).

Muito abalado, o jovem ajudou a carregar o caixão com o corpo do pai até o carro dos Bombeiros. Foi consolado pelos avós, Pedro Mauro Lopes e Renata Covas Lopes – pais de Bruno –, pelo tio Gustavo (irmão mais novo) e pela mãe, Karen Ichiba, de quem Covas era divorciado. Amigos próximos, como o assessor Gustavo Pires, e o agora prefeito Ricardo Nunes (MDB), também acompanhar­am a cerimônia e seguiram em cortejo até Santos.

Nunes chegou à Prefeitura antes de a missa ter início, e aguardou pelo ato no segundo andar do prédio. Estava na companhia do marqueteir­o Felipe Soutelo, responsáve­l pela campanha vitoriosa de 2020, e amigo próximo de Covas.

Do lado de fora do Edifício Matarazzo, no centro da cidade, admiradore­s do tucano se posicionav­am em frente ao prédio, mas o velório foi restrito a cerca de 20 pessoas, seguindo os protocolos sanitários.

Casa. O corpo de Bruno Covas chegou a Santos por volta das 17h30. Na entrada da cidade e ao longo de passarelas e viadutos que cruzam a Rodovia dos Imigrantes, apoiadores do prefeito se reuniram para homenageá-lo com faixas e bandeiras.

A rua de acesso ao Cemitério Paquetá foi bloqueada para o enterro, que foi fechado, sem a presença da imprensa. O prefeito foi sepultado no mesmo jazigo onde seu avô, Mário Covas, foi enterrado em 2001. Os restos mortais do ex-governador, porém, foram transferid­os para um mausoléu no próprio cemitério, de acordo com a Prefeitura.

Nascido em Santos em 7 de abril de 1980, Bruno Covas Lopes mudou-se para a capital paulistana para terminar os estudos e se preparar para a faculdade. Morou com os avós Mário e Lila Covas no Palácio dos Bandeirant­es e cursou duas faculdades – formou-se em Direito e Economia – até se iniciar na vida pública. De todas as eleições que disputou, perdeu apenas a primeira, em 2004, quando tentou ser vice-prefeito de sua cidade natal. /

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Luto. Covas, em foto tirada dias antes da eleição de 2020: tímido e disciplina­do
 ?? VALERIA GONCALVEZ/ ESTADÃO - 19/11/2020 ?? Eleição. Covas em novembro do ano passado, pouco antes de vencer no segundo turno
VALERIA GONCALVEZ/ ESTADÃO - 19/11/2020 Eleição. Covas em novembro do ano passado, pouco antes de vencer no segundo turno

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