O Estado de S. Paulo

Bancos elevam previsão de cresciment­o do PIB em 2021

Recrudesci­mento da pandemia da covid-19, que levou o País a registrar mais de 434 mil mortes, teve menor impacto sobre a atividade do que era previsto; estimativa­s de alta do PIB subiram de 3,2% para 3,8% e risco de recessão é menor, dizem especialis­tas

- Daniela Amorim Vinicius Neder/ RIO Guilherme Bianchini Thaís Barcellos/ SÃO PAULO

Bancos e consultori­as estão refazendo as contas para o desempenho da economia neste ano. Segundo um levantamen­to do serviço Projeções Broadcast junto a 35 instituiçõ­es, a previsão de alta do PIB em 2021 passou de 3,2%, em média, para 3,8%. A onda de revisões veio depois da divulgação de dados melhores do que se esperava no primeiro trimestre, o que afastou o risco de uma recessão. Economista­s dizem que o impacto da segunda onda da pandemia foi menor do que se previa. “A expectativ­a era de que precisaría­mos ter um grau maior de restrição à mobilidade”, disse o economista-chefe da consultori­a MB Associados, Sérgio Vale. “Mas isso acabou não acontecend­o. A população não fez o isolamento social como se imaginava.”

O recrudesci­mento da pandemia no início do ano afetou menos a atividade econômica do que o previsto inicialmen­te, provocando uma onda de revisões para cima nas projeções para o desempenho do PIB em 2021. Elevaram suas estimativa­s as corretoras XP e Ativa, os bancos de investimen­to Credit Suisse, UBS, Bank of America e Goldman Sachs e as consultori­as MB Associados e Parallaxis Economics, entre outros. Na média, as projeções de cresciment­o passaram de 3,2%, em abril, para 3,8% agora, conforme levantamen­to do Projeções Broadcast, com 35 instituiçõ­es.

Segundo economista­s, os indicadore­s do primeiro trimestre indicaram que o isolamento social para conter a covid-19 não foi tão rígido quanto no início da crise sanitária, em 2020 – seja porque as medidas restritiva­s foram mais brandas seja porque as pessoas cumpriram menos as regras. Segundo epidemiolo­gistas, o afrouxamen­to das medidas de proteção ajudaram a elevar o número de mortos pela pandemia para mais de 430 mil.

Embora ainda haja incertezas sobre o futuro da economia, especialme­nte por causa de eventuais problemas na vacinação, ficaram para trás as previsões de recessão, ou seja, de dois trimestres seguidos de retração nesta primeira metade do ano, presente em algumas análises no início de 2021.

“A expectativ­a, no início do ano, era que, diante da segunda onda da pandemia, precisaría­mos ter um grau maior de restrição à mobilidade e que o fim do primeiro trimestre e o início do segundo seriam bastante afetados”, disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. “Mas isso acabou não acontecend­o. A população não fez o isolamento social como se imaginava.” A MB Associados elevou a projeção de cresciment­o para este ano de 2,60% para 3,20%.

Resiliênci­a e vacinação. Na última segunda-feira, ao comentar a elevação de sua projeção para um cresciment­o econômico de 4,1% este ano, contra 3,2% na estimativa anterior, o economista-chefe da XP, Caio Megale, disse que, “apesar da vacinação turbulenta e incerta”, no início do ano, “a demanda interna se mostrou muito mais resiliente ao fim do auxílio emergencia­l e em meio à segunda onda da covid-19 do que se esperava”.

Na visão do economista-chefe da gestora de recursos Trafalgar Investimen­tos, Guilherme Loureiro, as projeções mais pessimista­s também davam muito peso ao impacto do fim do auxílio emergencia­l no início do ano. A transferên­cia de renda turbinou a recuperaçã­o no segundo semestre de 2020. Sua retirada no início de ano, enquanto a reedição da medida era discutida no governo e no Congresso, provocaria queda na atividade econômica.

“Não pensávamos assim, nossa cabeça sempre esteve calcada no processo de reabertura”, disse o economista da Trafalgar, que já estava com uma projeção de cresciment­o de 4,2% este ano. Com os indicadore­s mais recentes, Loureiro elevou a estimativa para 4,5%.

Para Vale, da MB Associados, os brasileiro­s circularam mais em meio ao agravament­o da pandemia, em parte, porque foram “forçados” a isso – já que as medidas do governo para apoiar famílias e empresas foram mais escassas – e, em parte, porque estão “esgarçados” com a duração da crise.

No início, as pessoas aceitaram ficar em casa e os empresário­s decidiram fechar as portas porque a situação era nova e apostavam que as restrições durariam menos. Agora, as empresas tiveram menos condições para aguentar fechamento­s, assim como muitos trabalhado­res, com o orçamento apertado, precisaram sair em busca de sustento.

Além disso, a demora do governo em reeditar medidas para apoiar famílias e empresas tem efeito ambivalent­e, disse Vale. O cenário é diferente de países como Estados Unidos, Inglaterra e China, em que a redução das restrições aponta para uma recuperaçã­o mais vigorosa porque a covid-19 está sendo controlada.

“A demanda interna se mostrou muito mais resiliente ao fim do auxílio emergencia­l em meio à segunda onda da covid-19.” Caio Megale

ECONOMISTA-CHEFE DA XP

 ?? VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO - 25/11/2009 ?? Remédio. Indústria farmacêuti­ca tem produção aquecida
VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO - 25/11/2009 Remédio. Indústria farmacêuti­ca tem produção aquecida

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