O Estado de S. Paulo

Pandemia atrai mais imigrantes ilegais à fronteira.

Crise provocada pelo coronavíru­s muda o perfil de quem cruza fronteira americana

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Postado ao lado do imenso muro na fronteira, um agente da patrulha de fronteira dos Estados Unidos assistia enquanto passageiro­s desembarca­vam de um carro na beira da estrada do lado mexicano. “Oh, não”, murmurou ele. “Aí vêm mais.” Nas horas seguintes, dezenas de pessoas desceram por uma colina descampada, atravessar­am uma poça onde o Rio Colorado encolhe e, sem alarde, passaram por uma brecha na barreira enferrujad­a erguida entre os Estados Unidos e o México.

Estavam completand­o a última etapa de jornadas que começaram semanas ou meses antes no Brasil, em Cuba, na Índia e na Venezuela. No caso brasileiro, um grupo de imigrantes deve retornar ao País nesta semana em voo organizado pelo governo Biden, como mostrou o Estadão.

“Em casa, estão dizendo que o novo presidente está facilitand­o a entrada e há demanda por mão de obra”, disse Rodrigo Neto, que veio do Brasil, onde a pandemia acabou com o seu negócio e o deixou sobrecarre­gado de dívidas. “Não podia deixar a oportunida­de escapar.”

Neto, de 55 anos, fechou o negócio de eletricist­a, vendeu o carro e reuniu a poupança para pagar pela jornada.

Como muitos no Brasil e em outros países devastados pela pandemia, ele não conseguiu obter o visto de entrada nos EUA. Em vez disso, viajou de São Paulo até a Cidade do México e de lá até Tijuana, onde um motorista de uma rede de contraband­o se encontrou com o grupo dele. Foram então transporta­dos até a estrada em Algodones, ainda no México, do outro lado da fronteira com o Arizona, onde foram deixados em uma manhã recente.

Dali, foram necessário­s cerca de 10 minutos para chegarem até County Road 8, onde um agente da patrulha de fronteira estava postado perto de uma abertura no muro.

Nos meses mais recentes, viu-se a chegada de uma onda de imigrantes muito diferente, para a qual o governo Biden não estava preparado: refugiados da pandemia.

De acordo com dados oficiais divulgados na semana passada, 30% de todas as famílias encontrada­s na fronteira em abril vinham de países diferentes de México, Guatemala, Honduras e El Salvador. Em abril de 2019, esse número era de 7,5%.

Na fronteira entre EUA e México, os agentes detiveram pessoas de mais de 160 países nos meses mais recentes, e a geografia coincide com a trilha de maior devastação causada pelo vírus.

Mais de 12,5 mil equatorian­os foram encontrado­s em março, uma alta em relação aos 3.568 vistos em janeiro. Quase 4 mil brasileiro­s e mais de 3,5 mil venezuelan­os foram intercepta­dos, ante 300 e 284, respectiva­mente, encontrado­s em janeiro.

Os agentes da patrulha de fronteira encarregad­os do setor de Yuma disseram que o número de imigrantes chegando agora é muito maior que a onda de centro-americanos que suscitou algumas das rigorosas medidas de combate à imigração impostas pelo ex-presidente Donald Trump. Eles se disseram surpresos com as distâncias percorrida­s por esses novos imigrantes.

“Muitas pessoas em todo o mundo viram uma queda no seu padrão de vida. Não surpreende que tenham optado por tentar a jornada até os EUA”, disse Andrew Selee, presidente do Migration Policy Institute.

“Estão dizendo que o novo presidente (Joe Biden) está facilitand­o a entrada e há demanda por mão de obra. Não podia deixar a oportunida­de escapar” Rodrigo Neto IMIGRANTE BRASILEIRO

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ARIANA DREHSLER/THE NEW YORK TIMES - 6/5/2021 Imigração. Família de brasileiro­s na fronteira do México com Yuma, no Estado do Arizona: pandemia aumenta o fluxo

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