O Estado de S. Paulo

Falta de transparên­cia leva a dúvidas, diz médico

- / P.M. e J.M.T.

Ex-presidente da Anvisa e professor da Universida­de de São Paulo (USP) e da Fgvsaúde, o médico sanitarist­a Gonzalo Vecina Neto, colunista do Estadão, avalia que a forma como o Plano Nacional de Imunização (PNI) foi desenvolvi­do impacta hoje na difusão de informação na pandemia. “(O plano) deveria ter sido colocado em consulta pública para que a sociedade soubesse o que estamos propondo e fazendo. O fato de isso não ter sido feito cria um clima de barata voa, de gente com dificuldad­e para demonstrar ter comorbidad­e e gente buscando facilidade­s”, comenta Vecina.

A falta de transparên­cia faz, por exemplo, com que as pessoas tenham dúvidas se fazem parte ou não de algum grupo prioritári­o para a vacina contra a covid-19. “Não resolveria 100%, mas, certamente, se fosse mais transparen­te, provavelme­nte teríamos comunicaçã­o diferente e o povo tomando atitudes menos ruins. Quando o problema começou no Estado, aí não tem jeito”, lamenta. “Está todo mundo perdido, isso é muito ruim.”

Para ele, a prioridade neste momento deveria ser dos trabalhado­res de serviços essenciais, como de atendiment­o em supermerca­dos e farmácias, por exemplo, que se expõem mais ao vírus por seguirem com o trabalho presencial em toda a pandemia. “Quem está em home office não deveria tomar nesse momento (mesmo com comorbidad­e)”, avalia o sanitarist­a.

Já o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM), o também médico Juarez Cunha, acredita que é correta a priorizaçã­o das pessoas com comorbidad­es por serem mais propensas ao desenvolvi­mento de casos moderados e graves da covid-19. “Chama a atenção desde o início da pandemia que pessoas com doenças cardiovasc­ulares e diabete são mais afetadas”, comenta.

Cunha considera, contudo, que a lista das comorbidad­es apontadas no PNI pode deixar de fora pessoas com outras situações de saúde que também estão em risco, como no caso de doenças graves. Além disso, destaca que no caso das pessoas com obesidade mórbida, em que não deveria ser exigida a apresentaç­ão de atestado e afins, já que que o Índice de Massa Corpórea (calculado a partir do peso e da altura) pode ser aferido no local.

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