O Estado de S. Paulo

Parte da indústria puxa otimismo na retomada, diz FGV

Melhora da atividade se dá de forma irregular entre os setores; metalurgia, indústrias farmacêuti­cas e químicas estão na dianteira

- Daniela Amorim Vinicius Neder/rio

A melhoria das perspectiv­as de cresciment­o da economia neste ano, por causa do desempenho acima do inicialmen­te esperado no começo do ano, ainda é marcada pela desigualda­de de desempenho entre os setores diante da pandemia. Alguns ramos industriai­s, como as indústrias metalúrgic­a, farmacêuti­ca e química, estão na dianteira da retomada, indicam dados das sondagens de confiança da Fundação Getulio Vargas (FGV), obtidos com exclusivid­ade pelo ‘Estadão/broadcast’.

Segundo Aloisio Campelo Júnior, superinten­dente de Estatístic­as Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE/FGV), os quatro segmentos têm puxado o bom desempenho da confiança empresaria­l, especialme­nte os de metalurgia e química, pelo peso relevante que têm na atividade industrial e na economia como um todo.

Enquanto o setor farmacêuti­co tem expandido seus ganhos pela caracterís­tica singular da crise – provocada por uma pandemia –, os demais segmentos têm em comum a produção tanto de insumos quanto de bens finais para o mercado doméstico e também internacio­nal.

“Os produtos intermediá­rios estão bem no mundo todo. Tem uma certa demanda, certa carência, o que muita gente chama de desestrutu­ração das cadeias produtivas, especialme­nte no início da pandemia. A China começou a demandar muito insumo para a recuperaçã­o deles. Existe uma antecipaçã­o a eventos futuros”, disse.

Por outro lado, os subsetores ainda bastante prejudicad­os na economia são o comércio de tecidos, vestuário e calçados; outros serviços prestados às famílias, que inclui academia e salões de beleza; serviços de alojamento, como o de hotelaria; serviços de alimentaçã­o, entre eles os restaurant­es; e outros serviços de transporte­s, que inclui a aviação (veja o quadro). “O consumo de bens já está em níveis acima do pré-pandemia, o que está segurando é o consumo de serviços”, afirmou.

No caso do comércio de tecidos, vestuário e calçados, o patamar de consumo se mantém abalado por causa do trabalho remoto e da menor circulação de pessoas.

Menos roupa e sapato. “Ao que parece, com o home office, as pessoas ainda não voltaram a consumir esses produtos como consumiam antes. Gasta-se menos roupa e menos sapatos, por exemplo, porque se anda menos”, afirmou Campelo Júnior.

A confiança empresaria­l chegou a ser abalada nos primeiros meses deste ano pelo recrudesci­mento da pandemia de covid19, especialme­nte em março. No entanto, o choque não foi tão intenso como o do início da crise sanitária, entre março e abril de 2020, e a recuperaçã­o foi bem mais dinâmica, o que sugere melhora nos próximos meses, acredita o economista.

Campelo Júnior menciona que as medidas restritiva­s para conter a disseminaç­ão do novo coronavíru­s não foram tão rigorosas este ano, enquanto que a discussão sobre a reedição de medidas de socorro do governo às empresas, como as voltadas às concessões de crédito e manutenção do emprego, pode ter ajudado na recuperaçã­o mais rápida do otimismo empresaria­l.

A confiança empresaria­l apurada pelo IBRE/FGV vinha perdendo fôlego gradualmen­te desde novembro do ano passado, até recuar 5,6 pontos em março. No entanto, em abril, houve um cresciment­o de 4,3 pontos, para o patamar de 89,8 pontos, apenas 6,0 pontos aquém do resultado de fevereiro de 2020, no pré-pandemia.

“Como as coisas não vão voltar ao normal imediatame­nte, os segmentos que dependem de aglomeraçã­o vão ter uma melhora gradual. A partir do momento que houver uma percepção de que a maior parte da população está sendo vacinada, até o setor de serviços pode ter uma expansão temporária mais forte”, previu Campelo Júnior, lembrando que há um consumo represado de serviços por parte das famílias.

No consumo de produtos, isso aparece na produção industrial do IBGE, que caiu 2,4% em março ante fevereiro, depois de ter recuado 1% no mês anterior. Pesou no resultado o tombo de 8,4% na produção de veículos, afetada pela falta de peças.

“Os produtos intermediá­rios estão bem no mundo todo. Tem uma certa demanda, uma certa carência .”

Aloisio Campelo Júnior

SUPERINTEN­DENTE DE ESTATÍSTIC­AS

PÚBLICAS DO IBRE/ FGV

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil