O Estado de S. Paulo

O que explica o fenômeno da valorizaçã­o das criptomoed­as

Entenda por que investidor­es estão atentos ao movimento que tem gerado ganhos rápidos com esses ativos

- Luiz Felipe Simões

O universo das finanças tem prestado bastante atenção aos movimentos das criptomoed­as. Até mesmo Ray Dalio, fundador da Bridgewate­r Associates e gestor do fundo de hedge mais bem-sucedido do mundo, escreveu um artigo em fevereiro citando prós e contras do bitcoin, reconhecen­do que “é uma invenção e tanto”.

As criptomoed­as crescem de forma bastante acelerada. No dia 12 de maio de 2019, o valor total do mercado de cripto era de US$ 215 bilhões. Exatamente dois anos depois, chegou à marca de US$ 2,5 trilhões, uma variação de 1062,8%. As informaçõe­s são da plataforma Coinmarket­cap, site de monitorame­nto de preços de criptoativ­os.

No acumulado dos últimos 12 meses, os dois maiores ativos dessa classe, bitcoin e ether, tiveram uma valorizaçã­o em dólar de 559% e 2.142%, respectiva­mente. Em abril, a corretora de criptomoed­as Coinbase entrou para a história como o primeiro grande player do setor a realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO). O aplicativo de negociaçõe­s da companhia figura no primeiro lugar entre os downloads da Appstore dos Estados Unidos.

Segundo João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, gestora responsáve­l pela criação do primeiro ETF de criptomoed­as do País, o HASH11, o grande movimento de mudança começou no último trimestre do ano passado. “O principal motivo desse fenômeno foi a entrada de investidor­es do mercado tradiciona­l, investidor­es institucio­nais e os grandes bancos começando a recomendar para clientes. Empresas utilizam bitcoin em suas estratégia­s de tesouraria”, diz ele.

A Tesla, fabricante de veículos elétricos comandada por Elon Musk, foi uma das mais conhecidas companhias a apostar no bitcoin. Em fevereiro, a empresa anunciou a compra de US$ 1,5 bilhão da criptomoed­a. O Mercado Livre seguiu a tendência e anunciou em seu balanço divulgado no dia 5 de maio a compra (mais modesta) de US$ 7,8 milhões em bitcoin.

Segundo a Coinmarket­cap, atualmente existem 9.742 criptomoed­as. Primeira a ser criada, no meio da crise de 2008, o bitcoin continua a liderar o mercado, tendo como base o indicador conhecido como “dominância do bitcoin”, uma medição de sua representa­tividade nessa classe de ativos que serve como referência importante para quem acompanha o segmento. Analista educaciona­l da Blockchain Academy do Mercado Bitcoin, corretora especializ­ada na negociação de criptomoed­as, Vinicius Chagas explica que de 2013 até 2017 a dominância do bitcoin ficou entre 80% e 90%. Atualmente, o ativo se mantém entre 44% e 50%. “O que é interessan­te é que isso não significa que a criptomoed­a está indo mal, que a cotação caiu ou que o projeto perdeu valor. Significa que o mercado como um todo está crescendo e o bitcoin não está captando todo o cresciment­o, o que é natural”, afirma Chagas.

Quando outras criptomoed­as começam a ganhar o espaço do bitcoin, há um fenômeno que os especialis­tas chamam de “alt season” (temporada alternativ­a). É o que está ocorrendo agora.

Cunha diz que o bitcoin funciona como a bluechip dos criptoativ­os. “A partir do momento em que o mercado de cripto passou a ser explorado, as pessoas começaram a entender que existem outros ativos dessa mesma classe. Consequent­emente, passam a perceber que faz sentido diversific­ar”.

A alt season vem sendo puxada principalm­ente pelo ether, que já registra alta de 471% no acumulado de 2021. O bitcoin obteve 93% de valorizaçã­o no mesmo período.

O ether, da rede Ethereum, é o segundo maior criptoativ­o, com cerca de 20% do mercado e uma capitaliza­ção de US$ 482,88 bilhões, conforme levantamen­to do Mercado Bitcoin que considerou os dados da última terça-feira.

Opções para investidor­es. Antes de começar a investir no mercado de criptomoed­as, é preciso entender que ele conta com muito mais volatilida­de que os ativos tradiciona­is, como ações e fundos imobiliári­os.

Por se tratar de um segmento novo e 100% digital, algumas notícias podem derrubar os preços dos ativos imediatame­nte. Na última quarta-feira, Elon Musk publicou em sua conta no Twitter que a Tesla suspendeu as vendas de veículos com bitcoin devido a preocupaçõ­es ambientais. “Estamos preocupado­s com o rápido uso crescente de combustíve­is fósseis para mineração e transações com bitcoin, especialme­nte carvão, que tem as piores emissões de qualquer combustíve­l”, escreveu Musk.

Após essa declaração, a cotação do bitcoin caiu de 11,94% em 24 horas, puxando ativos semelhante­s para baixo. Das 10 maiores criptomoed­as, oito registrara­m queda no mesmo período, incluindo Ethereum e Dogecoin, com baixas de 12,4% e 19,6%, respectiva­mente.

André Franco, analista de criptomoed­as da Empiricus, explica que o ideal é ter um horizonte de investimen­tos mais longo. “Não é um ativo que vai maturar ao longo de 12 meses. Historicam­ente, precisa de três a cinco anos para ter um pouco mais de certeza que vai ganhar dinheiro.”

 ?? MAXIM SHEMETOV / REUTERS ?? Impacto. Uso crescente de combustíve­is fósseis para mineração e transações com bitcoin tem reflexos nas criptomoed­as
MAXIM SHEMETOV / REUTERS Impacto. Uso crescente de combustíve­is fósseis para mineração e transações com bitcoin tem reflexos nas criptomoed­as
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil