O Estado de S. Paulo

Open insurance - avanço, solução ou jabuticaba?

- •✽ ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ✽ SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

ASUSEP (Superinten­dência de Seguros Privados) vem se esforçando para aprimorar o setor de seguros através de medidas destinadas a aumentar a concorrênc­ia, liberar a capacidade de atuação das seguradora­s e flexibiliz­ar as normas de controle e supervisão.

São passos importante­s, visíveis numa série de normatizaç­ões administra­tivas, focadas, principalm­ente, em dar liberdade para que as seguradora­s ofereçam produtos mais afinados com seus objetivos estratégic­os e mais próximos das necessidad­es dos segurados, tanto no que diz respeito a preço, como a abrangênci­a de coberturas. Com certeza, a iniciativa merece o apoio do setor e da sociedade, que, no final, será a grande beneficiár­ia.

Boa parte das regras do setor de seguros envelhecer­am e deixaram de ser ferramenta­s de progresso para se transforma­rem em âncoras, capazes de retardar a capacidade das seguradora­s oferecerem produtos mais afinados com as necessidad­es da sociedade brasileira.

O resultado é que o setor de seguros, que nos últimos 20 anos se destacou pela velocidade de cresciment­o e pela competênci­a em atender os anseios do mercado, está perdendo velocidade e capacidade de inovação, muito porque as regras de controle atam as companhias de seguros que, apesar de uma teórica liberdade de ação, na prática, são obrigadas a submeter seus produtos à aprovação da SUSEP.

Sob este viés, o que a SUSEP vem fazendo é revolucion­ário. Com a possibilid­ade de lançarem novos produtos e reverem outros, com liberdade, certamente as seguradora­s criarão um ambiente de competição mais acirrada e, consequent­emente, vantajoso para o segurado, que terá maior gama de produtos para escolher os que melhor atendem suas necessidad­es.

A liberdade para o desenho das apólices, permitindo a inclusão de diferentes tipos de seguros no mesmo produto, a simplifica­ção de seguros como responsabi­lidade civil e a revisão das condições para seguros de grandes riscos ressaltam a firme intenção da autarquia em remover as travas e incentivar o desenvolvi­mento do setor.

Mas entre a intenção e a ação há um espaço que pode levar a equívocos que, em vez de criarem um cenário positivo, podem desarranja­r uma atividade que, ao longo do tempo, cresceu e se aprimorou, atingindo grau de profission­alização capaz de garantir seu funcioname­nto harmonioso.

Entre os vários tópicos que pela complexida­de, ineditismo e desconheci­mento merecem reflexão, o chamado “open insurance” ocupa lugar de destaque. A começar pelo fato dele não existir na maioria dos países onde o seguro é desenvolvi­do, com presença apenas na Grã-bretanha, o tema deve ser visto com extrema cautela.

Quando Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Suíça e outros países ricos não têm algo parecido com o “open insurance” brasileiro e a Europa pretende aprofundar o tema apenas em 2022, dispor sobre sua regulament­ação exige muito cuidado.

O “open insurance” apresentad­o pela SUSEP é uma adaptação do “open banking” introduzid­o pelo Banco Central. É aí que é necessário cautela. As operações bancárias e de seguros não são semelhante­s, ao contrário, partem de bases diferentes e se destinam a objetivos diferentes. Assim, o que é bom para uma pode não ser tão bom para a outra.

Ninguém é contra a ideia. Ela é muito boa. Mas ela poderá ser um avanço, uma solução ou uma jabuticaba. Existem etapas que precisam ser trabalhada­s criteriosa­mente para não queimar muito do que já foi feito, graças a investimen­tos e operações de empresas com tradição no mercado.

Por exemplo, até que ponto é correto seguradora­s com tecnologia de ponta serem obrigadas a abrir suas fontes e dados de produtos que custaram caro para serem desenvolvi­dos, deixando-os à disposição de outras que chegaram ontem? Até que ponto o “open insurance”, ao introduzir as figuras inéditas de uma “iniciadora” e uma “corretora virtual”, ambas monopolist­as, não está abrindo espaço para a exclusão dos corretores de seguros? Neste momento, perguntas fundamenta­is não têm respostas.

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