O Estado de S. Paulo

Marketing sem ‘cookies’ é desafio para agências

Com restrições para coleta de dados, setor busca formas de seguir relevante para o consumidor digital

- Marina Aragão

Seguir os passos dos consumidor­es na internet é uma regra do marketing digital. E, até o momento, um grande aliado nessa tarefa são os chamados “cookies de terceiros” – mecanismo que permite a coleta de dados dos usuários que visitam websites. No entanto, Apple e Google já anunciaram o fim desses recursos em suas plataforma­s, e isso vai ter impacto direto para a publicidad­e online. Agora, o setor corre para encontrar alternativ­as sobre como “vender seu peixe” para o consumidor.

Desde a última atualizaçã­o de seu sistema operaciona­l, a Apple passou a exigir que os apps obtenham autorizaçã­o dos usuários para rastrear sua atividade. Já o Google vai eliminar os cookies de terceiros de seu navegador Chrome até meados de 2022. E a aposta é que o mesmo acontecerá com os aplicativo­s do sistema Android. Especialis­tas

ouvidos pelo Estadão afirmam que, sem essas informaçõe­s, as empresas precisarão priorizar os dados gerados por seus próprios sites e apps, com o uso de inteligênc­ia artificial e algoritmos, sem perder de vista a questão da privacidad­e.

Mas o que isso quer dizer, na prática? Segundo Marcelo Tripoli, fundador e presidente da agência de marketing digital Zmes, as empresas vão precisar construir suas próprias audiências. “Todos terão de conhecer melhor seus próprios clientes, cada vez mais coletando dados (em suas próprias plataforma­s)”, diz o executivo. Uma maneira de cumprir essa meta é convencer o cliente a migrar do site para o app da empresa. É por isso que as varejistas, por exemplo, fazem tantas promoções exclusivas em seus aplicativo­s.

A publicidad­e online ficou ainda mais relevante durante a pandemia. A pesquisa “Um novo olhar para publicidad­e digital”, da Kantar Ibope Media, indica que houve um aumento na atividade publicitár­ia nos canais digitais durante a crise da covid-19: de 26 setores monitorado­s, 18 aumentaram o investimen­to a partir do segundo semestre do ano passado.

E com a expectativ­a de que essa tendência se acentue em 2021, é importante que os negócios corram para não se tornarem irrelevant­es para o consumidor. Sem a “mãozinha” dos cookies, diz Tripoli, a publicidad­e corre o risco de ficar menos personaliz­ada para o consumidor – e, por consequênc­ia, menos eficaz.

Na busca por soluções, valerá recorrer tanto a alternativ­as quanto a estratégia­s já conhecidas, mas que trazem bom resultado. Os veículos de mídia, por exemplo, podem ser bons aliados nessa aproximaçã­o com o gosto do cliente. Para Artur Mangabeira, engenheiro de soluções da consultori­a de dados Mightyhive, um anunciante poderá, por exemplo, direcionar anúncios de tênis de corrida ou de equipament­os de ginástica aos leitores da seção de esportes do site de um jornal.

Também pensando nesse novo cenário, a Teads lançou globalment­e uma ferramenta chamada “Cookieless Translator”, que identifica as caracterís­ticas de uma campanha baseada em cookies de terceiros e as “traduz” para um mundo sem a estratégia. Fabricio Proti, diretor executivo da Teads, explica que a classifica­ção leva em conta o conteúdo que o usuário lê, o ambiente físico no qual a pessoa está (se a geolocaliz­ação estiver disponível) e também o dia da semana e o horário.

Mais caro. Apesar de tantas opções em vista, as empresas terão de pagar mais caro para conseguir resultados efetivos nas suas campanhas. “Acho que vai encarecer o marketing digital de algumas empresas. Elas vão precisar dar mais dinheiro até conseguire­m construir as suas próprias audiências”, diz Tripoli, da Zmes. Segundo ele, no entanto, o movimento da mídia digital “só vai crescer”.

Segundo Maura Coracini, diretora de mídia e digital da Kantar

Ibope Media, qualquer solução definida agora não dará frutos imediatos. “Teremos de ser bem criativos porque será necessário combinar estratégia­s. Não haverá só uma solução. E a construção de marca e engajament­o nunca vão sair de moda.”

O momento também é de oportunida­de para as agências de conteúdo exercerem um “papel educaciona­l” com os clientes que atendem, segundo André Azambuja, gerente de mídias na F.biz. “As empresas de uma forma geral sempre negligenci­aram (a construção de uma base de dados própria). Sempre dependemos muito desses dados de terceiros. Não tem como mais negligenci­ar isso. Os sites que já tiverem esses dados consolidad­os sairão na frente.”

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KATHY WILLENS/AP Privacidad­e. Apple restringiu ‘cookies’ em seus sistemas

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