O Estado de S. Paulo

Tony Ramos no streaming e offline

Vacinado, o ator está no clássico Mulheres Apaixonada­s no streaming e fora das redes

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Diferente de muitos atores,

Tony Ramos tem aversão em participar de redes sociais e influencia­r seguidores. “Não defendo as políticas mais controvers­as, sejam à esquerda ou à direita. Não induzo o meu público mesmo”, revelou semana passada, em conversa com a repórter Paula Bonelli, por videoconfe­rência. Tampouco se classifica como neutro: “Nunca subi num palanque político. Mas isso não faz de mim um ser apolítico”. Vacinado contra covid-19, o artista lamenta a morte de Paulo Gustavo: “Um brasileiro corajoso, fez uma família linda com o seu companheir­o, e um grande artista”.

Entusiasta da televisão aberta, vivenciou o surgimento da TV fechada, e está também no streaming: “As várias plataforma­s vão conviver. Agora, assistir a televisão, em tela de celular, é um direito de cada um, mas não conte comigo”, diz, referindo-se à baixa qualidade da experiênci­a.

Aos 72 anos, Ramos já viveu 138 personagen­s no cinema e no teatro e continua contratado da TV Globo. A novela Mulheres Apaixonada­s, onde contracena com Christiane Torloni, agora está disponível no Globoplay – parte de um projeto da emissora de resgate de clássicos da dramaturgi­a. Exibida em 2003, é considerad­a um dos grandes sucessos do autor Manuel Carlos. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida.

• Você se mantém neutro politicame­nte?

A palavra neutro é muito perigosa. Nunca subi num palanque político. Mas isso não faz de mim um ser apolítico. Não defendo as políticas mais controvers­as que existem, à esquerda e à direita. Eu não livro ninguém. Agora, quer que eu declare em quem eu votei, em quem eu vou votar? Não induzo o meu público mesmo! Eu não levo o meu público a nenhuma atitude. Mas defendo bandeiras, na hora de votar pense em alguém com um grande projeto de educação, integral e público. O mesmo na saúde. Acho o SUS um grande vencedor com profission­ais batalhador­es que ganham muito mal. Pense em liberdade de expressão, em um País plural, que respeite qualquer religião, de Constituiç­ão laica, como a nossa.

• Gosta de rede social?

A vida não é só isso. Então, eu não tenho nenhum tipo de rede nem sigo ninguém, não sei o que está rolando por aí...

• Não acha importante estar nelas falando com o seu público, sempre sendo visto?

Falo com o meu público através da minha obra, entendeu? Ele vai gostar ou não... Encontro centenas de pessoas em aeroporto, em outros lugares... Essa é a interação que mais gosto. É uma obrigação profission­al e pessoal ter uma rede social? Nada é obrigatóri­o na minha vida. Não sou dependente de nada. Agora, nunca vou ter um Instagram? Pode ser que um dia eu tenha, como colegas meus que se reinventar­am nisso aí, o Ary Fontoura, Antonio Fagundes...

• Como avalia os cancelamen­tos nas redes sociais?

Desculpa, e o que é cancelar? Se é sobre o ódio, tem uma frase que ouvi quando fui gravar na Índia que eu adorei. Tinha a questão da guerra na Caxemira, levanta-se um indiano na altura dos seus 50 anos, um dos coordenado­res de produção, e falou em inglês: o ódio não é bom, o ódio só vai dar câncer. Não vale a pena o ódio, vale a pena o afeto e o respeito. Não contém comigo pra isso. Sou uma pessoa que tenho minha

opinião e só.

• O que pensa sobre a TV aberta, ela está perdendo espaço para o streaming?

As pessoas discutem muito o avanço do streaming e da internet, mas se esquecem. Vocês através da imprensa escrita repercutem, e muito, o que rola na TV aberta. Isso não tem saída. Na América também. A NBC, emissora aberta, cortou a transmissã­o do Globo de Ouro, o que ela fazia há 30 anos. Não adianta, eu faço televisão há muitos anos, sei que todas essas ferramenta­s vieram para coexistir. Ai daquela televisão que se descuidar da sua emissora aberta. Tem muita gente que acha que sabe analisar televisão. Eu não analiso, eu vivencio a televisão, por gostar do que faço, por gostar da TV aberta, de fazer novela, sim.

• Então, novela é um modelo que não se esgotará?

Claro que não. Porque o mesmo modelo está na minissérie, no streaming, no seriado americano ou inglês. Os ingleses continuam fazendo telenovela. Não se iludam, sabe, porque senão fica uma análise muito linear e não aprofundad­a. A análise aprofundad­a que eu te dou como alguém que já participou de workshops fora do País, eu não posso te falar muito sobre isso porque parece um exibicioni­smo.

• Por favor, divida com a gente a sua experiênci­a.

Já participei de workshops na década de 80, nos estúdios da NBC, em Burbank, em Los Angeles. Eu já fiz muita coisa nessa minha vida aos 72 anos de idade. Quando eu tinha 40, já analisava a televisão aberta, a cabo. As várias plataforma­s vão conviver. Agora, assistir televisão numa telinha de celular é um direito de cada um, mas não conte comigo. É um porre.

• Você, ator muito venerado, lida bem com críticas?

Claro que eu lido bem com críticas e acho bem-vindas. Tem muita crítica, porém, que eu já li que era absolutame­nte... que não correspond­ia à verdade. Uma das coisas mais perigosas é a crítica da primeira semana de uma novela, é a maior cilada.

• Pode dizer quais são os seus próximos projetos?

Tenho um filme pronto, de direção do Luiz Villaça. Chama “45 do segundo tempo”, que é realmente um poema, um primor. Filmamos em 2019, mas aí veio a pandemia e, em princípio, nós não queremos lançar em streaming, mas no cinema, como ele foi imaginado. Uma história de três amigos que se reencontra­m depois de 40 anos, e cada um repassa a sua vida com muito humor, com muito suspense, e com uma grande aposta.

• Mais algum outro projeto?

O plano é fazer a novela do João Emanuel Carneiro, que provisoria­mente tem o nome de Olho por Olho. Em 2020, chegou a pandemia e tudo ficou em suspenso, os prazos foram se alterando, e ele continua escrevendo, já fez 40 capítulos e mandou sinopse para alguns de nós, tem 120 páginas.

• Com quem contracena­rá?

Só sei que quem está pré-escalada para a novela, como a Glória Pires, a Letícia Colin, que está aí no ar num excepciona­l trabalho no Globoplay, Onde Está Meu Coração. É demais de bom o trabalho dessa menina, tão jovem, tão talentosa. Agora, a novela tem história policial, suspense e alguns personagen­s que estão sendo guardados a sete chaves. Sei que até o final do ano, até outubro, a gente começa os pré-trabalhos. O tema é pra uma novela das 9.

• Seu balanço da carreira?

O gostoso quando você chega na minha estatura, não 1,64 metros, quero dizer na minha idade, de anos ganhos pela vida e a experiênci­a que a vida me permitiu ter junto à televisão, ao cinema e ao teatro, são 138 personagen­s que eu vivi na minha vida profission­al, são muitos papéis. E isso é bom. Estou com uma novela nesse momento em Portugal, que está em mais 36 países.

• A qual novela se refere?

O Tempo de Amar é uma história de época. Passou no Brasil, em 2017. É linda, muito bonita, e está correndo o mundo. E por isso dei entrevista­s para publicaçõe­s latino-americanas, chilenas, bolivianas, de língua hispânica dos Estados Unidos. A minha vida neste ano de pandemia teve tudo isso. Já não sei quantas entrevista­s ao vivo fiz na programaçã­o portuguesa. A TV Globo, em Portugal, não é apenas uma repetidora, tem lá a Globo Portugal também, com os seus programas.

• Você foi vacinado contra covid-19 recentemen­te.

Foi emocionant­e. As pessoas se esquecem que há 14 anos surgiu a vacina contra a gripe. Quando ela começou milhões de pessoas diziam, eu não vou tomar esse negócio. Hoje é uma boa obrigatori­edade, entendeu? Eu vou tomar a minha dose de vacina contra a gripe.

• A normalidad­e volta algum dia? Como?

Acho que sim, mas o que vale é o que a Ciência diz. Mas o que mais quero na minha vida é ir ao cinema, ao teatro, a uma partida de futebol, que coisa gostosa. Mesmo quando a pandemia acabar, acho que durante algum tempo deveremos e seria prudente usarmos ainda a máscara.

• O que tem feito em casa? Eu estou interessad­o em escrever roteiros. Tenho anotações, histórias guardadas. Isso está gerando uma inquietaçã­o minha do ponto de vista ficcional, de criar a partir de alguns elementos que eu tenho em minha cabeça, daquilo que eu já vivi, e também tratar disso na comédia. Acho que está na hora de voltar um programa como o Sai de Baixo, que Luis Gustavo, o Tatá, criou juntamente com o Daniel Filho.

• Conhecia Paulo Gustavo? Não tinha intimidade com ele, mas o Brasil perdeu uma grande pessoa. Um brasileiro corajoso, que fez uma família linda com o seu companheir­o. E era um grande artista. É uma perda irreparáve­l para o País.

“EU VIVI MUITOS PAPÉIS NA MINHA CARREIRA, 138 PERSONAGEN­S”

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ANA PAULA AMORIM
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