O Estado de S. Paulo

Caixa demite presidente e dois diretores da Funcef

Presidente do banco, Pedro Guimarães queria ter mais poder sobre alocação do fundo de pensão – com patrimônio de R$ 80 bi – e também teria pedido votação contra ex-presidente da Petrobrás no conselho da Vale; Caixa nega e demitidos não falam

- Anne Warth Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A direção da Caixa decidiu trocar três diretores da Funcef, o fundo de pensão dos funcionári­os do banco, entre eles o diretor-presidente. A mudança teria ocorrido porque o presidente Pedro Guimarães queria ter mais poder sobre alocação de recursos. Guimarães orientou o fundo a votar contra a entrada de Roberto Castello Branco no conselho da Vale, o que não ocorreu.

A Caixa decidiu trocar três diretores da Funcef, o fundo de pensão dos funcionári­os do banco, entre eles o diretorpre­sidente, Renato Villela, e os responsáve­is pela área de investimen­to. Segundo apurou o “Estadão/broadcast”, a mudança teria sido motivada por insubordin­ação ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Ele queria ter mais poder sobre a alocação de recursos do fundo, um dos maiores do País, com patrimônio superior a R$ 80 bilhões.

A Caixa nega que essa tenha sido a razão para as alterações no fundo. Mas, nos bastidores, a recusa da Funcef em participar da oferta pública inicial de ações (IPO) da Caixa Seguridade, operação realizada no fim de abril, é apontada como gota d’água para a troca de comando. O ingresso do fundo de pensão poderia elevar o preço da oferta e, consequent­emente, os ganhos do banco. Procurada, a Funcef não quis se manifestar sobre o episódio envolvendo o IPO.

Oficialmen­te, a mudança tem sido tratada como uma decisão normal de ciclo. No entanto, tem causado estranheza o fato de dois dos diretores substituíd­os terem sido empossados em setembro de 2020, ou seja, há apenas oito meses.

Dentro da Caixa, havia reclamaçõe­s sobre supostos problemas de governança no fundo e ainda uma cobrança por retornos mais elevados – embora a Funcef tenha registrado superávit consolidad­o de R$ 2,6 bilhões em 2020, com rentabilid­ade de investimen­tos de 13,78%, acima da meta atuarial de 10,19%.

Desde as mudanças, nenhum dos destituído­s falou publicamen­te sobre as razões da troca de comando no fundo, mas Villela publicou em uma rede social profission­al uma mensagem em que ressalta justamente o desempenho positivo da Funcef sob sua gestão.

O Estadão/broadcast tentou contato com os executivos que deixaram o cargo, mas não obteve resposta. Em nota, a Caixa informou que as mudanças foram realizadas pelo conselho de administra­ção do banco, composto por membros independen­tes, e validadas pelo conselho deliberati­vo da Fundação.

A compra de ações da Caixa Seguridade não foi o único pedido de Pedro Guimarães que não foi atendido pela diretoria da Funcef. O Estadão/broadcast apurou que o presidente da Caixa orientou o fundo, que detém participaç­ão acionária relevante na Vale, a votar contra a entrada de Roberto Castello Branco no conselho de administra­ção da mineradora, na assembleia realizada em 3 de maio. O objetivo era o governo se “vingar” do executivo, após ele ser demitido da Petrobrás pelo presidente Jair Bolsonaro e deixar o cargo fazendo críticas. A Funcef optou por se abster na votação. Sobre a questão relacionad­a à Vale, a Funcef negou as informaçõe­s, e a mineradora não quis se manifestar.

Villela, na Funcef desde 2016, será substituíd­o pelo atual vicepresid­ente de Riscos da Caixa, Gilson Costa de Santana.

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