O Estado de S. Paulo

Comissão da Saúde rejeita medicament­os sem eficácia

Grupo de especialis­tas focou em recomendaç­ões para pacientes mais graves; azitromici­na e ivermectin­a também são rejeitados

- Paula Felix

Documento elaborado por grupo de especialis­tas coordenado pelo Ministério da Saúde contraindi­ca cloroquina, hidroxiclo­roquina, azitromici­na, ivermectin­a e outros remédios sem eficácia comprovada em pacientes com covid. A Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no Sistema Único de Saúde deu parecer favorável ao documento.

Após revisão de oito diretrizes nacionais e internacio­nais para o tratamento da covid-19, um grupo de especialis­tas coordenado pelo Ministério da Saúde elaborou um documento em que contraindi­ca cloroquina, hidroxiclo­roquina, azitromici­na, ivermectin­a, colchicina e outros medicament­os que não têm eficácia comprovada cientifica­mente contra a doença, para pacientes hospitaliz­ados.

O documento foi apresentad­o à Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no Sistema Único de Saúde (Conitec) na semana passada e recebeu parecer favorável. Nesta segunda-feira foi aberta consulta pública para que o documento receba contribuiç­ões nos próximos dez dias. O grupo autor das diretrizes é composto por um painel de especialis­tas sob coordenaçã­o de um departamen­to do ministério. O painel inclui médicos de diferentes especialid­ades, farmacêuti­cos e representa­ntes da pasta federal, de universida­des e de sociedades médicas, entre elas a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Sociedade de Infectolog­ia (SBI).

“Alguns medicament­os foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitaliz­ados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxiclo­roquina ou cloroquina, azitromici­na, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalesce­nte. A ivermectin­a e a associação de casirivima­be + imdevimabe não possuem evidência que justifique­m seu uso em pacientes hospitaliz­ados, não devendo ser utilizados nessa população”, informa o documento, denominado “Diretrizes Brasileira­s para Tratamento Hospitalar do Paciente com covid-19”.

Sobre hidroxiclo­roquina ou cloroquina, medicament­os amplamente divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, e o antibiótic­o azitromici­na, o documento é enfático na contraindi­cação e apresenta motivos. “Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicament­os. A cloroquina e a hidroxiclo­roquina não devem ser utilizadas, independen­temente da via de administra­ção (oral, inalatória ou outras).”

No documento do ministério, a exceção é para pacientes que já utilizam as medicações, por estarem em tratamento contra doenças reumatológ­icas ou malária, ou pessoas com quadros de infecção bacteriana, no caso do uso do antibiótic­o.

As indicações. Também foram avaliados estudos com corticoest­eroides e anticoagul­antes. Seguindo a linha de estudos científico­s, a dexametaso­na foi recomendad­a para pacientes em estado grave em uso de oxigênio suplementa­r. Os anticoagul­antes são indicados “em doses de profilaxia para tromboembo­lismo venoso em pacientes hospitaliz­ados com covid-19”.

Coordenado­r do grupo que elaborou o documento, Carlos Carvalho, professor de pneumologi­a da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (Famusp), diz que a construção das diretrizes foi uma solicitaçã­o do ministro da Saúde Marcelo Queiroga diante de problemas como a falta de oxigênio e dos medicament­os para o kit intubação, além da necessidad­e de proteger pacientes em ventilação mecânica e de oferecer orientaçõe­s farmacológ­icas para pacientes internados. “Está agora em consulta pública. Decidimos fazer essas recomendaç­ões para pacientes mais graves, abordando medicament­os para intubação para o médico que estiver na ponta poder executar essas manobras, como estratégia­s de ventilação.”

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