O Estado de S. Paulo

CPI vai questionar Araújo sobre China

Ex-chanceler será ouvido hoje; amanhã será a vez de Pazuello, que preocupa o Planalto

- Felipe Frazão / COLABOROU LAURIBERTO POMPEU / NA WEB Monitor. Acompanhe o andamento da CPI da Covid estadao.com.br/e/monitorcpi 6

O presidente Jair Bolsonaro vai enfrentar, a partir de hoje, a fase mais dura até agora da Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) da Covid, que interroga, nesta semana, dois ex-ministros que saíram do governo sob ataque: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Eduardo Pazuello (Saúde). Bolsonaro está preocupado com o teor dos dois depoimento­s, que podem atingir sua gestão no combate da pandemia de covid-19.

O primeiro a ser ouvido, hoje, será o ex-chanceler Ernesto Araújo, que deixou o Itamaraty “atirando” no Senado. Demitido em março e abandonado pela articulaçã­o política do governo, ele acusou o núcleo do Palácio do Planalto – influencia­do por militares e congressis­tas – de ter perdido “a alma e o ideal”. Até aqui, Araújo poupou Bolsonaro e recebeu manifestaç­ões de apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente com quem fazia dobradinha na política externa.

Araújo saiu do governo sob muitas críticas, como Pazuello. Foi acusado de atrapalhar o relacionam­ento com países-chave, como China e Estados Unidos, por causa de posições ideológica­s adotadas ao lidar com temas sensíveis aos dois governos. O ex-chanceler sempre disse, no entanto, que as vacinas hoje disponívei­s no Brasil foram negociadas quando ele esteve à frente da diplomacia.

O ex-ministro das Relações Exteriores foi um dos primeiros ícones da ala ideológica e da base conservado­ra bolsonaris­ta a ser convocado à CPI. Na condição de testemunha, ele não pediu habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal para se manter em silêncio, como fez Pazuello, e traçou sua estratégia de defesa em reuniões com um advogado particular, Rafael Teixeira Martins, sem envolvimen­to do governo. Em tese, ele teria direito a ser representa­do pela Advocacia-geral da União, como fará o ex-titular da Saúde.

“O ex-ministro está preparado, tranquilo e à disposição para prestar os esclarecim­entos à CPI, sem nenhum tipo de dificuldad­e, constrangi­mento ou óbice. Ele quer contribuir e deixar clara sua participaç­ão no processo da pandemia. Não há nada que o implique, ele é uma testemunha, não teve envolvimen­to no processo decisório”, disse Teixeira Martins.

Pazuello, por sua vez, conseguiu aval do Supremo para ficar calado diante de perguntas que possam incriminá-lo. Aliados do governo disseram que a medida é necessária para evitar “abuso de autoridade”. O habeas corpus concedido pelo ministro do STF Ricardo Lewandowsk­i, porém, não dá a Pazuello o direito de permanecer em silêncio quando for questionad­o sobre Bolsonaro, por exemplo. A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, também acionou o STF pedindo para ficar calada. Ela depõe na quinta-feira.

Governista­s tentarão blindar o chanceler, o general e a secretária insistindo nas investigaç­ões contra governador­es e prefeitos. “Queremos convocar outros gestores. É preciso chegar onde chegou o dinheiro e saber o que foi feito com ele”, afirmou Marcos Rogério (DEM-TO), membro da CPI e vice-líder do governo.

Araújo se reencontra com o Senado um mês e meio depois de passar por uma sabatina “infernal”, às vésperas de sua demissão. “Nossa expectativ­a é obter esclarecim­entos sobre a postura do Brasil na busca por vacinas e insumos no combate à pandemia. Além disso, há necessidad­e de esclarecer se o governo recebeu orientação ou teve sugestão da defesa de cloroquina e outras práticas medicament­osas sem nenhum tipo de eficácia científica”, disse o senador Alessandro Vieira (Cidadania-se).

Na lista de perguntas que serão feitas pela CPI estão as orientaçõe­s passadas a embaixadas para compra de medicament­os como a cloroquina; detalhes da missão oficial para conhecer um spray nasal em Israel; interferên­cia dos filhos do presidente na política externa; e hostilidad­es em relação à China. “O Ernesto já não prezava pelos cuidados em lidar com os senadores quando era ministro, agora não sei se ele vai segurar a língua”, disse o líder da Minoria, Jean-paul Prates (PT-RN).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–21/3/2021 Convocação. O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo será ouvido hoje pelos senadores da CPI da Covid

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