O Estado de S. Paulo

PRTB nega dar a Bolsonaro o comando da sigla

Partido não aceita as condições impostas pelo presidente, que quer ter ‘carta-branca’; até agora, ele já conversou com nove legendas

- Lauriberto Pompeu

O presidente Jair Bolsonaro ainda está à procura de um partido para chamar de seu. Nos últimos dias, fracassara­m as negociaçõe­s para que ele se filiasse ao PRTB porque a cúpula da sigla não aceitou sua exigência de ter controle total dos diretórios. Desde que saiu do PSL, em 2019, Bolsonaro já abriu diálogo com nove partidos, mas até agora nenhum deles aceitou lhe dar carta-branca. Além disso, o presidente não conseguiu tirar do papel o Aliança pelo Brasil, agremiação que queria fundar para disputar novo mandato, em 2022.

Antes do PRTB, Bolsonaro havia mantido conversas com Patriota, PTB, Republican­os, Brasil 35 (antigo PMB), Democracia Cristã (DC), PL, Progressis­tas e tentou retornar ao PSL. Embora a cúpula do PSL diga que as negociaçõe­s com Bolsonaro estão encerradas, as tratativas continuam, nos bastidores. Só não avançaram porque o presidente não abre mão de ter ingerência sobre todos os diretórios do partido – inclusive sobre o caixa – e exige a expulsão de deputados contrários a ele.

Partido do vice-presidente Hamilton Mourão, o PRTB havia iniciado conversas com Bolsonaro antes da morte de seu fundador, Levy Fidelix, no mês passado. Mas a viúva Aldineia Fidelix, atual presidente da legenda, não concordou com as imposições do chefe do Executivo para se filiar.

No fim de abril, Bolsonaro recebeu Levy Filho, Karina e Lívia para uma reunião no Palácio da Alvorada. Além dos três filhos do fundador do PRTB, o encontro também contou com a presença de Karina Kufa, advogada do presidente, e do ministro do Turismo, Gilson Machado. Secretário-geral do PRTB, Levy Filho era o mais entusiasta da ideia da entrada de Bolsonaro e se dispôs a dar a ele controle total do partido. Mas Karina Fidelix, irmã de Levy Filho, resistiu à ideia – ela tem pretensões de herdar o comando da legenda para administrá-la junto com o marido Rodrigo Tavares, hoje presidente da seção paulista do PRTB. Lívia Fidelix, por sua vez, não quis opinar.

Em mais de uma ocasião, o presidente disse que queria ser “dono” de uma sigla. “Estou namorando outro partido, tá? Onde

• Prazo

Pelo calendário eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro tem até abril do ano que vem para escolher um partido político e poder disputar a eleição de 2022.

eu seria dono dele; (seria) como alternativ­a, se não sair o Aliança”, afirmou Bolsonaro, em 8 de março, ao conversar com apoiadores, no Palácio da Alvorada.

Tempo. De lá para cá, ele já estabelece­u vários prazos para anunciar seu novo partido, mas as negociaçõe­s emperraram. Apesar das declaraçõe­s de Bolsonaro dando conta de que quer uma legenda sobre a qual tenha controle absoluto, articulado­res do governo e o senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-rj) disseram a ele que, com o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ideal é sua filiação em um partido com mais estrutura. Pré-candidato ao Palácio do Planalto, em 2022, Lula é hoje o principal adversário de Bolsonaro.

O vice-presidente do PSL, Antonio Rueda, é quem está à frente das conversas com Bolsonaro, mas nada foi adiante. A avaliação no governo é de que Rueda fez várias promessas de entregar o comando do PSL a Bolsonaro, mas recuou na hora de se compromete­r, mesmo porque o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, veta qualquer acordo nesse sentido.

Bolsonaro deixou o PSL em novembro de 2019 após desavenças com Bivar. O principal motivo para a saída foi a briga por causa do controle do caixa da legenda. Em 2018, o PSL se tornou uma superpotên­cia partidária ao eleger o presidente da República, 54 deputados, quatro senadores e três governador­es, na esteira do bolsonaris­mo. Com isso, o partido deve ter neste ano a maior fatia dos recursos públicos destinados a partidos, de R$ 103,2 milhões.

O Estadão ouviu de integrante­s da cúpula do PSL que, para voltar à sigla, Bolsonaro cobrou um “alinhament­o ideológico” com pautas do governo e a expulsão de deputados que o atacam, como Júnior Bozzella (SP), Julian Lemos (PB), Joice Hasselmann (SP) e Delegado Waldir (GO). Até o momento, o presidente da legenda, Luciano Bivar, não aceitou nenhuma destas condições.

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ISAC NÓBREGA/PR Sem partido. Bolsonaro e Damares, em cerimônia; presidente está à procura uma legenda

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