O Estado de S. Paulo

Nunes vira peça-chave para projeto de Doria

Novo prefeito de São Paulo defende aliança eleitoral entre o MDB e o PSDB em 2022

- Pedro Venceslau

Ao assumir a Prefeitura de São Paulo após a morte de Bruno Covas (PSDB), anteontem, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) provocou uma mudança na correlação de forças políticas no Estado, maior colégio eleitoral do País. Aliado do PSDB, Nunes é considerad­o peça-chave na tentativa de levar o MDB a apoiar os projetos eleitorais do governador João Doria para 2022. Caciques emedebista­s, porém, resistem ao plano e articulam alianças regionais com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.

A intenção de dirigentes tucanos é que o MDB esteja tanto na aliança nacional, em uma eventual candidatur­a de Doria ao Palácio do Planalto, quanto na regional, num cenário em que o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), seria o candidato ao Palácio dos Bandeirant­es.

O plano em São Paulo tem o apoio do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), presidente da sigla, mas o dirigente evita se compromete­r com o projeto nacional de Doria. Isso porque, antes, o governador precisa vencer as prévias do PSDB, inicialmen­te marcadas para outubro, e se viabilizar como presidenci­ável. Levantamen­to do Estadão com os 27 diretórios do partido nos Estados, no entanto, mostrou resistênci­a ao projeto do tucano. Apenas três concordam em realizar a consulta interna neste ano. Uma corrente defende a definição de quem será o candidato da sigla apenas em 2022.

Segundo integrante­s do primeiro escalão da Prefeitura e do governo, Nunes já tinha afinidade com Doria antes da morte de Covas. O governador participou ativamente das articulaçõ­es que escolheram o emedebista como candidato a vice em 2020. Agora efetivado como prefeito da maior cidade do País, a avaliação é de que Nunes ganhou estatura para ter voz nas discussões internas do MDB.

“Minha posição é que o MDB evite os extremos. Para 2022, defendo que o partido busque um nome que represente o centro, seja uma candidatur­a própria ou de outra sigla”, afirmou Nunes ao Estadão.

Um dos possíveis entraves para o acordo com os tucanos, o empresário Paulo Skaf (MDB) ficou isolado na legenda com a ascensão de Nunes. Candidato

‘Centro’ •

derrotado na disputa pelo governo paulista em 2018 e próximo do presidente Jair Bolsonaro, Skaf recebeu recados de que não terá respaldo da legenda para uma nova tentativa no ano que vem. Em conversas reservadas, o presidente da Fiesp admite que está afastado da rotina do partido e ainda não definiu seu futuro político. Na condição de presidente municipal do MDB, Nunes chegou a consultar Skaf na semana passada sobre suas intenções eleitorais, mas saiu da conversa sem uma resposta conclusiva.

Grupo político. No MDB, Nunes é próximo tanto de Baleia Rossi quanto do ex-presidente Michel Temer. Eles pregam a tese de manter a legenda no centro no momento em que o partido está emparedado entre uma ala governista e outra que se aproxima de Lula.

Para amarrar o apoio do MDB paulista ao seu projeto, Doria entregou ao partido nesta semana a Secretaria de Agricultur­a. O cargo será ocupado pelo deputado estadual Itamar Borges, nome ligado ao agronegóci­o.

Os tucanos apostam no fortalecim­ento da relação com os emedebista­s em São Paulo como trunfo no intrincado xadrez interno do partido, que é composto por alas regionais.

Integrante­s da velha-guarda do MDB nordestino, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney (MA), têm dialogado com Lula e rejeitam a ideia de apoiar Doria em uma campanha presidenci­al.

Núcleo. Em outra sinalizaçã­o da aliança com os tucanos, o novo prefeito disse também que pretende preservar integralme­nte a estrutura da máquina administra­tiva herdada de Covas, mantendo todos os secretário­s indicados pelo antecessor.

A exceção é o secretário da Casa Civil, Ricardo Tripoli, que não é considerad­o do grupo “covista” dentro do PSDB. Vereadores e até secretário­s avaliam que o ex-deputado não tem conseguido manter um diálogo “fluido” com a Câmara Municipal e por isso pode ser o primeiro substituíd­o da gestão Nunes.

Ontem, em sua primeira agenda após ser efetivado no cargo após a morte de Covas, Nunes repetiu o discurso de que sua gestão é de continuida­de. “Não existe mudança ou alteração. Participei com o Bruno da formação desse governo. Não tem por que mudar”, declarou o emedebista.

“Minha posição é que o MDB evite os extremos. Para 2022, defendo que o partido busque um nome que represente o centro.”

Ricardo Nunes (MDB)

PREFEITO DE SÃO PAULO

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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