Investimento em LOGÍSTICA é para já
Para aproveitar janela de oportunidade, País precisa de reforços em vários modais de escoamento de derivados e agilidade nos investimentos
Há tempos o Brasil convive com deficiências na sua infraestrutura logística, mas os gargalos são menos aparentes porque o País não cresceu na velocidade esperada. O desinvestimento de 50% da capacidade de refino pela Petrobras abre espaço para uma competição cada vez mais intensa no segmento de combustíveis no Brasil, o que promoverá o incremento gradual da infraestrutura de movimentação de produtos, sobretudo para o interior.
“De maneira geral, os fluxos logísticos não vão se alterar tanto assim em um primeiro momento. Mas o investimento na expansão da logística é fundamental, pois é o que definirá a capacidade de um agente em competir mais ou menos no mercado brasileiro”, afirmou Claudio Mastella, vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Downstream (ABD), durante a segunda edição do Diálogos Estadão Think – O Novo Cenário Nacional do Mercado de Derivados de Petróleo. A mesa que discutiu o tema é fruto de uma parceria entre o Estadão Blue Studio e o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).
Segundo o representante da ABD, cada modal tem seu espaço na logística de suprimento de combustíveis no País – não são excludentes –, e todos carecem de investimentos para melhoria da sua competitividade. Prioritariamente, são necessários investimentos na infraestrutura portuária (berços de atracação, sistemas de recebimento e armazenagem) e de internalização de produtos, especialmente as ferrovias, segundo Mastella. Mas não se pode ignorar que o modal rodoviário continuará tendo um papel relevante, e investimentos na melhoria das estradas são fundamentais.
Gargalos
O consultor Marcus D’elia, da Leggio, que também participou do evento, tem bem definido na cabeça o mapa de gargalos de infraestrutura do setor de combustíveis.
“Um programa de concessões contínuo e bem planejado, com previsibilidade das áreas a serem ofertadas, estimula a participação dos agentes nos leilões”, afirma ele, que prevê investimentos prioritários para ampliação de terminais portuários em Santos e Aratu – este último para fomentar a competição na cadeia da Bahia, a construção de terminais portuários em Santarém e também no Sul, entre Santa Catarina e Paraná, e, por fim, a ampliação de terminais ferroviários nos Portos de Itaqui e Paranaguá e a avaliação do sistema de Paulínia e Araucária.
D'elia lembra ainda que é preciso uma maior coordenação entre os órgãos envolvidos no processo de concessões para que as exigências pós-leilão não venham a comprometer a efetiva conclusão dos investimentos. Outro ponto que merece atenção na visão do consultor é a criação de algum mecanismo para estimular o concessionário de ferrovias a operar com múltiplas cargas e consequentemente ampliar a movimentação de granéis líquidos por este modal.
Do lado do governo, Diogo Piloni, secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura, também presente ao evento, comentou que 25% da movimentação de cargas nos portos brasileiros e 77% do volume cabotado são de granéis líquidos, sobretudo combustíveis. “Para se ter um fluxo eficiente dessas cargas, precisamos de investimentos. O Ministério está trabalhando fortemente no Programa de Concessões e Autorizações de Portos e Ferrovias, e a expectativa é licitar mais de 70 terminais até 2022, sendo 40% deles posicionados na cadeia de combustíveis. É preciso utilizar ao máximo a intermodalidade, dado o tamanho e as longas distâncias a serem percorridas no Brasil, e para isso precisamos de disponibilidade de modais”, reforça o secretário. Ele chamou a atenção para a importância do PLS 261/2018, em tramitação no Senado, que prevê o modelo de autorização – de menor complexidade – para construção de ferrovias e que poderá acelerar investimentos neste modal, e para o Programa BR de Mar, que incentiva a ampliação do serviço de transporte por cabotagem no País.