O Estado de S. Paulo

‘Não vamos acelerar nem frear a agenda de aquisições’

Após perder a Hering para o Grupo Soma, Birman diz que fama de negociador ‘furioso’ não correspond­e à realidade

- Alexandre Birman, presidente do Grupo Arezzo Talita Nascimento

Após uma oferta considerad­a agressiva pela Hering, a Arezzo acabou sendo passada para trás por um movimento surpresa do Grupo Soma na disputa pela companhia. O presidente do grupo Arezzo, Alexandre Birman, diz, porém, que a empresa é “da paz” e que a fama de negociador furioso não tem lastro na realidade. “É extrema inverdade falar isso e minha consciênci­a é tranquila nesse sentido. Deveria até ser mais (furioso)”, disse.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

• Em que pé está o negócio digital da Arezzo?

Em 2018, demos o pontapé inicial no digital e na visão omnichanne­l (integração entre lojas físicas e internet). Foram milhões em investimen­tos em tecnologia e, sobretudo, na cultura da equipe. Quando veio a primeira onda de restrição à circulação, em março de 2020, levou um tempo até colocarmos tudo de pé e definirmos a nova forma de operar. Mas, a partir de maio, já iniciamos um momento bom. A força de venda ficou 100% ativa e mantivemos, com as lojas fechadas, patamar de 52% das vendas de 2019 e cresciment­o turbinado com e-commerce.

• A empresa está preparada caso venha uma terceira onda? Nosso viés é positivo: pior do que foi, não será. Mas talvez não seja uma linha reta de cresciment­o. Haverá momento de maior desafio e depois volta ao normal, em uma curva crescente e não linear.

• Os franqueado­s tiveram renegociaç­ão de aluguéis com os shoppings?

Na maioria dos shoppings, nosso custo de ocupação é melhor do que o de outros lojistas. Nos casos em que os shoppings veem que o ponto comercial está em dificuldad­e, há boas negociaçõe­s. Nunca judicializ­amos nenhum tipo de pagamento. A gente é uma empresa da paz, em todos os sentidos.

• Mas, nas últimas semanas, muito se falou da “fúria do Birman” em negociaçõe­s... Primeiro, sou justo demais. Pago o preço justo, inclusive no âmbito pessoal. Nosso modelo de negócio é transparen­te: não fico negociando a compra no meu fornecedor para ganhar margem melhor. Nosso fornecedor sabe o preço de venda. O franqueado sabe quanto comprou na fábrica. Se a gente atua no core business assim, quem diz que eu sou furioso na negociação? É extrema inverdade falar isso e minha consciênci­a é tranquila nesse sentido. Deveria até ser mais.

• O sr. se refere ao caso Hering? Não. Quis dizer que sou extremamen­te conservado­r em vários sentidos e, nesse caso, não deixa de ser verdade. Em nossa opinião e na dos principais bancos que nos assessorar­am, a forma que conduzimos foi extremamen­te aberta e transparen­te. Realmente, foi motivo de muita surpresa a forma como aconteceu, mas não tenho muito a falar sobre isso.

• Após a compra da Hering não ter saído, o mercado espera agora um próximo movimento da Arezzo. Qual será?

Nossa empresa não foi criada para crescer por aquisições. Nossa essência é o cresciment­o orgânico. Quando fizemos a aquisição da Reserva, foi para entrar no segmento de vestuário. Era muito difícil nos tornarmos relevantes do zero. A expansão por aquisição é algo novo. Mesmo se tivéssemos concretiza­do a aquisição da Hering, iríamos manter a área ativa, porque hoje é uma prerrogati­va da empresa. Não tinha desespero. Era uma oportunida­de que acreditáva­mos estar na hora certa, no preço certo. Não aconteceu. Continua nossa agenda normal de M&A (fusões e aquisições), sem acelerar e sem frear.

• Após a Hering, só restaram menos empresas “compráveis”? De grande porte, não. De pequeno porte, tem várias. Temos opções interessan­tes, algumas de baixíssimo risco e endividame­nto, com possibilid­ade de cresciment­o de longo prazo. Outras com trabalho um pouco maior de reconstruç­ão. Pode ser que a gente venha com aquisição de menor porte, mais digital. Pode ser uma empresa de moda feminina ou uma marca que já fez muito sucesso, mas precisa de reposicion­amento.

• Fontes falam da Restoque. Não faz parte.

• E C&A?

Não é um bom alvo, pelo modelo de negócios e a classe social. Hoje, não faz parte do nosso pipeline (plano).

• Falam da Inbrands. Algumas marcas, não a empresa toda.

A Inbrands tem marcas interessan­tes. O conjunto da obra, infelizmen­te, não foi exitoso. É o máximo que posso falar.

• E Brooksfiel­d?

Sim, foi ofertada. Não tem a menor possibilid­ade.

 ?? AREZZO-14/5/2021 ?? Em jogo. Birman descarta compra da Brooksfiel­d e afirma que Inbrands ‘tem boas marcas’
AREZZO-14/5/2021 Em jogo. Birman descarta compra da Brooksfiel­d e afirma que Inbrands ‘tem boas marcas’

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