O Estado de S. Paulo

NOVO DONO PARA ‘ROTA DOS GRÃOS’

Atual concession­ária da BR-163, com 851 km de extensão e localizada em Mato Grosso, acumula dívidas bancárias e multas

- André Borges

Com obras paradas, o governo procura investidor­es para assumir a concessão da BR-163, em Mato Grosso.

O governo procura um novo dono para a principal rodovia do agronegóci­o, a BR-163, em Mato Grosso. A obra, que carrega a promessa de se transforma­r em uma estrada moderna e capaz de fazer frente ao maior polo de produção de grãos do País, converteu-se em um problema bilionário e ainda sem solução. Com dívidas bilionária­s para pagar e centenas de quilômetro­s de pavimentaç­ão em atraso, a concessão da BR163 está quebrada, em processo de caducidade e dependente de um novo investidor disposto a assumir o trecho.

Com 851 quilômetro­s de extensão, a concessão tem início no município de Sinop (MT) e avança até Itiquira, na divisa com Mato Grosso do Sul. Em 2014, a empreiteir­a Odebrecht montou uma concession­ária – a Rota do Oeste – e, por meio de seu braço de logística, venceu a concessão. Dois anos depois, porém, o negócio já estava praticamen­te paralisado. Enroscada na Operação Lava Jato, a Odebrecht não conseguiu tomar o empréstimo de longo prazo com o BNDES, que deixou de liberar R$ 2,8 bilhões para a empresa. Isso impediu que outra conta já firmada com a Caixa fosse paga, um empréstimo adicional de R$ 1 bilhão. Virou uma bola de neve.

A dificuldad­e de tomar recursos, somada ao aumento de preços de insumos de o brase as exigências de construçõe­s assumidas em contrato, travou de veza obra. Sete anos depois, a Rota do Oeste, que chegou a injetar cerca de R$ 1,8 bilhão em suas obras, é dona de uma dívida que supera R$ 1 bilhão, só com bancos. Dos 450 quilômetro­s que tinha obrigação de fazer, entregou apenas 120 km. Na agênci anacional de transporte­s Terrestres( ANTT),suasm ultas já somam R $140 milhões.

Em fevereiro deste ano, depois de inúmeras tentativas de acordo, a agência reguladora deu início ao processo de caducidade da concessão, ou seja, a retomada do trecho, para que seja relicitado para outro interessad­o. Uma segunda alternativ­a, porém, passou a ser analisada. No mês passado, a empresa apresentou uma proposta diferente à ANTT. Em vez de deixar levar o contrato para caducidade, a companhia sugeriu que seja assumida por outro investidor, no lugar da Odebrecht Transport. Na prática, a concession­ária e seu contrato continuari­am a existir, mas com outro investidor como controlado­r. Trata-se de uma alternativ­a comercial entre empresas, portanto, que teria de ser autorizada pela ANTT.

Proposta formal. Roberto Madureira, gerente de relações institucio­nais da Rota do Oeste, disse à reportagem que, no mês passado, uma proposta formal já foi encaminhad­a para a agência, que deve analisar se esta é a melhor opção, ou se segue com a caducidade do contrato.

A proposta da empresa inclui empresas de logística de Mato Grosso e investidor­es internacio­nais que, juntos, passariam a ser os donos da concessão. “A proposta é uma troca de controle, com o repasse da dívida com bancos, assumindo a responsabi­lidade pelas indenizaçõ­es, inclusive”, disse Madureira.

O ministro da Infraestru­tura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que espera um desfecho positivo dessa operação. Caso contrário, o contrato seguirá para a caducidade. “Estamos tentando um caminho alternativ­o, que vai andar em paralelo à caducidade. Se aparecer um investidor, a gente faz a transferên­cia da concessão. Caso contrário, a caducidade está caminhando”, comentou. “Sabemos que tem um grupo interessad­o em assumir a concessão, que já fez ‘due diligence’ (auditoria). Vamos ver. Se esse negócio não vingar, vamos para a caducidade.”

O gerente da Rota do Oeste disse que, entre agosto e setembro, o acordo tem condições de ser firmado, o que evitaria a caducidade e permitiria a retomada das obras o quanto antes. Em valores de 2014, o trecho previa investimen­tos totais de R$ 6,8 bilhões.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO Atraso. Dos 450 km que deveria fazer, a concession­ária da rodovia só entregou 120 km

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