O Estado de S. Paulo

TCU pode punir Pazuello por ‘omissões graves’ na pandemia

Tribunal retoma hoje julgamento de auditoria que indicou falhas do ex-ministro da Saúde no combate ao coronavíru­s

- Vinícius Valfré

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello presta depoimento à CPI da Covid, hoje, sob pressão dupla. Enquanto enfrenta a artilharia de perguntas dos senadores, no Tribunal de Contas da União (TCU) os ministros retomam o julgamento de uma auditoria que já sinalizou “omissões graves” da gestão do general no combate à pandemia. O relatório conta com o apoio de quatro ministros, que tentam convencer mais um colega para garantir sua aprovação.

O relatório técnico em análise pelo TCU traz o mais duro diagnóstic­o até aqui acerca do trabalho do ex-ministro no enfrentame­nto à doença que matou mais de 439 mil pessoas no Brasil. O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a classifica­r o documento como um bom “roteiro” para a comissão. A eventual aprovação do relatório pelo tribunal, além de alimentar a CPI no Senado, poderá resultar em abertura de processo específico para apurar a conduta de Pazuello.

Como consequênc­ia, em processos dessa natureza, o TCU pode definir a cobrança de multas, decretar a indisponib­ilidade de bens e proibir os investigad­os de exercerem funções de confiança no serviço público.

Entre as constataçõ­es que vieram à tona pela área técnica do tribunal está a de que ações tomadas pela gestão de Pazuello buscaram, ao invés de ampliar, retirar responsabi­lidades do governo federal sobre o gerenciame­nto de estoques de medicament­os, insumos e testes.

Para o TCU, a maneira como o general conduziu o ministério afetou a resposta do sistema de saúde ao novo coronavíru­s.

O relatório da auditoria aponta ainda falhas na comunicaçã­o com a população sobre o vírus, na assistênci­a farmacêuti­ca prestada pelo ministério e na testagem. “Surpreende que o Brasil tenha implantado como estratégia esperar que os cidadãos com sintomas procurem os serviços de saúde e realizem um teste de detecção da doença, sem estabelece­r qualquer meta, ação ou objetivo de acordo com os resultados”, diz o texto.

Primeiros a votar pela aprovação da auditoria, os ministros Benjamin Zymler (relator) e Bruno Dantas fizeram duras consideraç­ões a respeito de Pazuello e indicaram a tendência de nova derrota do governo no tribunal. Dantas viu motivos para “condenaçõe­s severas” e disse que a gestão do ex-ministro “envergonha”.

Os ministros Augusto Nardes e Jorge Oliveira – indicado por Jair Bolsonaro para o cargo – pediram vista (mais tempo para apreciação do caso). O prazo chegou ao fim e o relatório volta à pauta hoje. O Estadão apurou que membros do TCU mais alinhados com o presidente da República vão propor a abertura de investigaç­ões sobre repasses a Estados e municípios. Entre eles, prevalece a ideia de que é fundamenta­l trazer para o foco da fiscalizaç­ão o caminho que o dinheiro da saúde percorreu ao sair de Brasília. A estratégia tem paralelo com a ampliação do escopo da CPI para apurações contra governador­es e prefeitos.

A expectativ­a de autoridade­s que acompanham o caso é a de que o julgamento terá novos pedidos de prazo e não será concluído esta semana.

• Auditoria

“Surpreende que o Brasil tenha implantado como estratégia esperar que os cidadãos com sintomas procurem os serviços de saúde, sem estabelece­r qualquer meta.”

TRECHO DO RELATÓRIO DO TCU

• Agressão O deputado bolsonaris­ta Diego Garcia (Podemos-pr) agrediu ontem o colega Paulo Teixeira (PTSP) em reunião que debatia sobre o uso medicinal de cannabis.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–15/3/2021 Pressão. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello; além de ser alvo de relatório do TCU, general será ouvido hoje na CPI da Covid no Senado

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