O Estado de S. Paulo

EUA dão apoio público a Israel, mas pressionam Bibi a aceitar cessar-fogo

Política do presidente americano é criticada por congressis­tas democratas e grupos de judeus progressis­tas americanos; em raro momento de união, árabes israelense­s, moradores de Gaza e da Cisjordâni­a entram em greve e paralisam parte da economia local

- JERUSALÉM / AP,

EUA e Europa aumentaram ontem a pressão diplomátic­a por um cessar-fogo em Gaza. Rumores de uma trégua mediada pelo Egito circularam durante o dia, mas não foram confirmado­s nem pelo Hamas, que controla o enclave palestino, nem por Israel. Segundo o jornal israelense Haaretz, no entanto, as negociaçõe­s estão próximas de uma conclusão, com fontes militares estimando o fim do conflito dentro de alguns dias.

Segundo autoridade­s americanas, o presidente dos EUA, Joe Biden, vem pressionan­do o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, a aceitar um cessar-fogo – embora publicamen­te a Casa Branca mantenha o apoio irrestrito a Israel. Duas pessoas que presenciar­am o telefonema entre Biden e Netanyahu, na segunda-feira, disseram ontem ao New York Times que o presidente deixou claro que não poderia segurar muito tempo a pressão internacio­nal contra os bombardeio­s israelense­s.

A tática – de pressão nos bastidores combinada com apoio público a Israel – vem sendo criticada por congressis­tas democratas e por grupos de judeus progressis­tas americanos. Ontem, porém, a estratégia foi defendida pela porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, como sendo resultado da experiênci­a de Biden em política externa. “Ele está fazendo isso há tempo suficiente para saber que a melhor maneira de encerrar um conflito internacio­nal é não debatêlo em público”, disse.

A pressão aumentou também na Europa. Reunidos por videoconfe­rência, os chancelere­s do bloco pediram um cessar-fogo imediato. Em declaração conjunta, os europeus apoiaram o direito de defesa de Israel, mas alertaram que ele deve ser “feito de maneira proporcion­al e respeitand­o o direito internacio­nal humanitári­o” – apenas a Hungria não assinou a mensagem, por considerá-la favorável aos palestinos.

Apesar da pressão, Netanyahu disse ontem que os ataques em Gaza “levarão o tempo necessário para restaurar a calma aos cidadãos de Israel”. Curiosamen­te, segundo analistas, tanto o premiê israelense quanto o Hamas têm sido os maiores vencedores do conflito.

Dois opositores do primeiromi­nistro, Naftali Bennett e Gideon Sa’ar, que negociavam a formação de um novo governo de coalizão com Yair Lapid, um desafeto de Netanyahu, já cogitam a possibilid­ade de uma aliança com o premiê.

Segundo fontes militares israelense­s, o Hamas também vem cumprindo seus principais objetivos: posicionar-se como defensor da Mesquita de Al-aqsa, em Jerusalém, fortalecer sua presença na Cisjordâni­a e reforçar sua posição para suceder ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, no futuro.

Greve. Ontem, os palestinos em Israel e nos território­s ocupados entraram em greve em um raro protesto coletivo. Apesar de o movimento ter sido pacífico em muitos lugares, com as lojas fechadas nas movimentad­as ruas da Cidade Velha de Jerusalém, a violência explodiu na Cisjordâni­a.

Em Ramallah, centenas de palestinos queimaram pneus e atiraram pedras contra um posto de controle militar israelense. As tropas dispararam gás lacrimogên­eo. Três manifestan­tes foram mortos e mais de 140 ficaram feridos. Israel disse que dois de seus soldados foram feridos por tiros nas pernas.

A greve foi uma demonstraç­ão incomum de unidade dos palestinos israelense­s, que representa­m 20% de sua população, e os que vivem em Gaza e na Cisjordâni­a. As ruas ficaram desertas em áreas árabes de Israel e nos território­s ocupados, enquanto comerciant­es fecharam as portas das lojas ao longo da orla em Jaffa, em Umm elfahm, no norte do país, e nas cidades de Hebron, Jenin, Nablus e Ramallah.

Muitos canteiros de obras ficaram vazios. Estudantes não foram à escola. Alguns restaurant­es em Jerusalém Ocidental fecharam ou serviram cardápios limitados, já que os palestinos não foram trabalhar. “Todo mundo está participan­do da greve, porque as pessoas sentiram que a ameaça está muito perto”, disse Raja Zaatary, porta-voz de um comitê árabe que organizou a paralisaçã­o.

Em pouco mais de uma semana de confrontos, mais de 270 palestinos foram mortos em ataques aéreos, incluindo 63 crianças, e mais de 1.500 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não separa os números em combatente­s e civis.

O Hamas e a Jihad Islâmica reconhecem que pelo menos 20 de seus combatente­s foram mortos, enquanto Israel garante que o número é de pelo menos 130. Doze pessoas em Israel, incluindo um menino de 5 anos, foram mortas em ataques com foguetes disparados da Faixa de Gaza.

Ontem, os disparos continuara­m. Foguetes voaram sobre Ashkelon, Ashdod e outras comunidade­s no sul de Israel. Um deles atingiu uma fábrica de embalagens na fronteira com o território palestino, matando dois trabalhado­res tailandese­s. O serviço de resgate disse que levou outras sete pessoas para o hospital.

Crise humanitári­a. Segundo a Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS), suprimento­s médicos, combustíve­l e água estão acabando rapidament­e para os 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza. Quase 47 mil pessoas estão desabrigad­as. Os ataques israelense­s danificara­m pelo menos 18 hospitais e clínicas e destruíram um centro de saúde. Quase metade de todos os medicament­os essenciais no território acabou.

A OMS disse que o bombardeio de estradas importante­s, incluindo as que levam ao Hospital Shifa, o principal de Gaza, vem impedindo a passagem de ambulância­s e veículos de abastecime­nto no território, que já estava lutando para lidar com um surto de coronavíru­s.

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RANEEN SAWAFTA / REUTERS Revolta. Palestinos jogam pedras contra posto de controle israelense na Cisjordâni­a, onde houve greve e manifestaç­ões

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