O Estado de S. Paulo

Colômbia envia tropas para liberar estradas

Segundo o presidente, bloqueios feitos pelos manifestan­tes causaram perdas de R$ 9,3 bi

- BOGOTÁ

O presidente da Colômbia, Iván Duque, ordenou ontem que os militares liberem estradas bloqueadas por manifestan­tes que protestam contra o governo há 20 dias. A dimensão e duração dos protestos vêm afetando a economia colombiana. Os prejuízos são estimados em mais de 6,5 trilhões de pesos colombiano­s (R$ 9,3 bilhões), de acordo com o governo.

“Instruímos todos os níveis das forças de segurança nos território­s da Colômbia, com prefeitos e governador­es, para que utilizem sua máxima capacidade operaciona­l de modo que, dentro da proporcion­alidade e da estrita observânci­a dos direitos humanos e de sua proteção, permitam a todos os colombiano­s recuperar a mobilidade, recuperar o bem-estar”, declarou Duque, em comunicado.

Os protestos na Colômbia começaram em 28 de abril, em resposta a um controvert­ido projeto de reforma tributária do governo, que já foi retirado da pauta do Congresso. Mesmo após a derrubada da reforma tributária, manifestan­tes seguiram nas ruas pedindo o fim da brutalidad­e policial. A repressão aos protestos foi violenta e deixou pelo menos 50 mortos.

Duque reconheceu a violência da polícia – uma das poucas da América Latina que ainda estão diretament­e ligadas ao Ministério da Defesa –, mas minimizou as mortes, descartand­o qualquer reforma na corporação. “Sim, houve abuso da força”, disse. “Mas dizer que a polícia colombiana é uma violadora sistemátic­a dos direitos humanos não é apenas injusto, mas também não tem qualquer fundamento.”

Agravament­o. Rapidament­e, a agenda dos manifestan­tes se ampliou, incluindo a retirada de um projeto de reforma sanitária, que prevê privatizaç­ão de serviços, além de exigir um programa de vacinação em massa contra a covid-19 e a implementa­ção de uma renda básica universal.

Nos últimos dias, manifestan­tes protestara­m em jogos da Libertador­es, aumentando a pressão para que a Conmebol tire do país as partidas da Copa

América – que começa em junho – e realize o torneio apenas na Argentina. Os bloqueios de estradas, que impedem a passagem de alimentos e combustíve­is, também dificultam os esforços para combater o coronavíru­s, segundo as autoridade­s, no momento em que casos e mortes estão batendo recordes.

O governo colombiano também alega que nem todos os protestos são pacíficos. Autoridade­s citam centenas de policiais que ficaram feridos e um que foi morto, além de delegacias e pontos de ônibus que foram destruídos ou incendiado­s.

Diálogo. Ontem, Duque reafirmou o direito ao protesto pacífico, mas chamou os bloqueios nas estradas de ilegais, argumentan­do que eles têm afetado milhões de pessoas, incluindo camponeses pobres que não conseguem obter matéria-prima.

“Temos visto também o impacto na circulação de alimentos, o que fez com que cidades inteiras ficassem sem abastecime­nto. Esses tipos de práticas são ilegais e também puníveis, segundo o código penal”, escreveu o presidente, que há duas semanas já havia destacado usar o Exército para ajudar a derrubar os bloqueios.

Duque anunciou também a criação de um programa de geração de empregos para jovens, que subsidiará 25% do salário dos beneficiár­ios, a partir de 1.º de julho. A Colômbia é um dos países mais desiguais do continente, com desemprego de 16,8% e pobreza chegando a 42,5% da população.

O governo colombiano tem se esforçado para dialogar com manifestan­tes e a oposição, sem muito sucesso. A tentativa mais recente é a Mesa-redonda Nacional de Avaliação de Garantias para Manifestaç­ões Públicas, mecanismo que prevê, entre outros, o diálogo e a mediação entre as autoridade­s policiais e a população durante a onda de protestos.

Além disso, uma delegação do governo – chefiada pelo altocomiss­ário para a Paz na Colômbia, Miguel Ceballos – reuniuse pelo segundo dia consecutiv­o com o Comitê Nacional de Greve, que engloba sindicatos e organizaçõ­es de trabalhado­res, com o objetivo de estabelece­r uma mesa de negociaçõe­s para resolver a crise social que a Colômbia está atravessan­do.

Impacto

“Temos visto o impacto na circulação de alimentos, o que fez com que cidades inteiras ficassem sem abastecime­nto.” Iván Duque

PRESIDENTE DA COLÔMBIA

 ?? ANDRES GONZALEZ/AP ?? Repressão. Manifestan­tes protestam em Yumbo, cidade próxima de Cali; presidente admite que houve abusos da polícia
ANDRES GONZALEZ/AP Repressão. Manifestan­tes protestam em Yumbo, cidade próxima de Cali; presidente admite que houve abusos da polícia

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