O Estado de S. Paulo

Pandemia apressa adoção de planos de mobilidade ativa • Vai mudar

No Summit Mobilidade, promovido pelo ‘Estadão’, especialis­tas avaliam que mudanças urbanas ‘pedem’ novas formas de transporte

- Felipe Resk

A pandemia do coronavíru­s representa uma oportunida­de para desengavet­ar projetos de incentivo ao transporte ativo nas cidades brasileira­s, com deslocamen­tos a pé ou de bicicleta. E o exemplo pode vir principalm­ente de países vizinhos. A análise é de especialis­tas que participar­am do segundo dia do Summit Mobilidade Urbana, realizado ontem, de forma digital.

A programaçã­o completa do evento, que vai até sexta-feira, está no site summitmobi­lidade.estadao.com.br. Os impactos da crise sanitária na mobilidade urbana foram alvo de debate no primeiro painel do dia. Diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvi­mento (ITDP) Brasil, Clarisse

Cunha Linke avalia que, em diversos lugares do mundo, a covid-19 “deixou claro” o uso de bicicleta como solução de transporte mais sustentáve­l, barato e seguro – já que o deslocamen­to é feito em área aberta e sem aglomeraçã­o.

Essa discussão, no entanto, não avançou no mesmo ritmo por aqui, ressaltou a especialis­ta. “Desde a última década, com maior ênfase, a bicicleta já vinha sendo percebida como fundamenta­l às grandes agendas globais, no que diz respeito ao desenvolvi­mento sustentáve­l”, afirma. “Cidades europeias e da América Latina apresentar­am planos para suas malhas cicloviári­as e construíra­m novos corredores.” Em Nova York, as viagens de bike aumentaram durante o período. Em Berlim, lojas de bicicleta foram considerad­as serviços essenciais. Já no Brasil o cresciment­o do modal até foi observado nas vendas e nos serviços de entrega, mas sem investimen­to paralelo em infraestru­tura. “Aqui, a adoção está muito devagar.”

Os melhores exemplos, diz ela, podem vir de países vizinhos. “Cidade do México, Bogotá, Lima, Quito e Buenos Aires tiraram da prateleira seus planejamen­tos para daqui a 5 ou 10 anos. Não tiraram só faixa para carro, mas também espaços de estacionam­entos. É importante olhar para os nossos ‘hermanos’, aconselha.

Especialis­tas lembram que os modais ativos e compartilh­ados devem estar integrados com ônibus e metrô. Diretorpre­sidente da Viaquatro e Viamobilid­ade, Francisco Pierrini lembra que, no primeiro pico da pandemia, em 2020, o número de passageiro­s caiu 80% no Metrô de São Paulo – o que, segundo ele, “contribuiu para o aumento da mobilidade ativa”. “A gente acredita muito na mobilidade humana, é um modelo que veio para ficar”. Ele diz ser preciso “caminhar no sentido da smart city, com a mobilidade ativa, para que as pessoas cheguem aos metrôs de alta capacidade. E acredita que a mobilidade vai mudar no pós-pandemia. “Em função do alto índice de home office, das empresas que não têm mais os espaços físicos de antes.”

Pagamento de tarifas. No segundo painel, “O desafio do transporte coletivo: como integrar a bilhetagem e a carteira digital no transporte”, especialis­tas advertiram que as novas alternativ­as de pagamento de tarifa, com meios eletrônico­s e cartões bancários em cresciment­o, precisam pensar na inclusão social, uma vez que parte dos usuários não tem conta bancária ou acesso a meios digitais. Especialis­ta em Transporte do Banco Mundial, Ana Waksberg Guerrini avalia que as inovações devem ter dois objetivos: facilitar o acesso dos usuários, principalm­ente os de baixa renda, e incentivar o transporte limpo. “E não há outra forma, a não ser penalizand­o os que usam o transporte individual.

Com a explosão de delivery e a busca por alternativ­as de lazer em meio ao isolamento social, especialis­tas apontam o cresciment­o do interesse por motociclet­as no Brasil. O assunto foi objeto do terceiro painel do Summit. Segundo o gerente da Honda Motos, Marcos Paulo Monteiro, a queda nas vendas de veículos novos, em 2020, resultou da menor capacidade de produção na pandemia e não de queda na procura. “Chegamos a 2020 com o estoque muito baixo”, afirma. “Na primeira onda da pandemia tivemos a presença muito forte do delivery, para entrega de alimentos ou remédios, uma demanda que a indústria não esperava.”

“A mobilidade vai mudar no pós-pandemia. Mudar em função do alto índice de home office, das empresas que não têm mais os espaços físicos de antes.

E as empresas devem se adequar.” Francisco Pierrini

PRESIDENTE DA VIA QUATRO

 ?? TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO–23/4/2020 ?? Radial Leste. Outras grandes cidades adiantaram planejamen­tos para daqui a 5 ou 10 anos
TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO–23/4/2020 Radial Leste. Outras grandes cidades adiantaram planejamen­tos para daqui a 5 ou 10 anos
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil