O Estado de S. Paulo

Mantidos ‘jabutis’ na MP da venda da Eletrobrás

- Anne Warth /

O relator da medida provisória que permite a privatizaç­ão da Eletrobrás, deputado Elmar Nascimento (DEMBA), manteve vários “jabutis” que aumentam os custos da operação em seu parecer. A proposta tem votação prevista para hoje.

Entre as obrigações que o governo terá de cumprir para privatizar a estatal, está a contrataçã­o de 6 mil megawatts de termoelétr­icas em diversas regiões do País e de pequenas centrais hidrelétri­cas (PCHS), além de prorrogar os contratos de energia de eólicas no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativ­as de Energia Elétrica (Proinfa). As três obrigações têm como consequênc­ia o aumento do custo da energia para o consumidor final.

Nascimento, no entanto, retirou trechos polêmicos como os que embutiam uma solução para o tema do empréstimo compulsóri­o e que dava à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o poder de interferir no mercado de energia e evitar concentraç­ão de mercado, e não apenas no caso da Eletrobrás.

Nos bastidores, o governo entendia que esses dois itens eram um “bode na sala” e que o relator nunca teve a intenção de mantê-los, mas de usá-los como moeda de troca para negociar a manutenção dos programas para termoelétr­icas, PCHS e a renovação do Proinfa.

No texto, Nascimento manteve a possibilid­ade de renovação antecipada da usina de Tucuruí, um dos maiores ativos da Eletronort­e, e incluiu também a prorrogaçã­o da concessão da Hidrelétri­ca Mascarenha­s de Moraes para Furnas.

O deputado manteve ainda a trava de 10% para a participaç­ão de cada acionista no capital social e a ação de classe especial golden share para a União, que assegura esse limite e alterações no estatuto relacionad­os, de forma a garantir que a empresa se torne uma “corporatio­n”, com controle difuso no mercado.

Nascimento manteve, também, a obrigação da Eletrobrás de direcionar recursos para investimen­tos nas Regiões Nordeste, Norte e Sudeste e não elevou os valores prometidos. No caso do Nordeste, os recursos serão geridos por um comitê gestor a ser criado pelo Ministério do Desenvolvi­mento Regional – depois de muita polêmica, ele tirou essa atribuição da Companhia de Desenvolvi­mento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal marcada por indicações políticas e mau uso de recursos públicos.

Para ter direito a novos contratos de concessão no regime de produção independen­te, a preços livres, substituin­do o regime de cotas, que cobre apenas custos de operação e manutenção, a Eletrobrás terá de pagar à União um bônus de outorga. Esses recursos, segundo o relatório, serão divididos na proporção de 50% para o fundo setorial Conta de Desenvolvi­mento Energético (CDE), encargo embutido na conta de luz que paga subsídios e descontos tarifários a grupos de interesse, e 50% para o Tesouro.

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