O Estado de S. Paulo

Siderúrgic­as, por alta no preço, reduzem contrato com as montadoras

Modelo anual deixou de ser vantajoso e agora negociaçõe­s são feitas por períodos trimestrai­s ou semestrais

- Eduardo Laguna

As siderúrgic­as estão renovando por períodos trimestrai­s ou semestrais contratos com montadoras que historicam­ente têm vigência anual, conforme informaçõe­s levantadas pelo Estadão/broadcast no setor automotivo. A mudança de periodicid­ade representa uma ruptura da tradição pela qual os acordos comerciais entre dois dos maiores setores da indústria brasileira são regidos.

Até então, a indústria do aço fixava um preço que era pago durante todo o ano pelos fabricante­s de veículos, independen­temente da volatilida­de nas cotações das commoditie­s. No entanto, com os preços em alta no mercado internacio­nal tanto do produto que vendem quanto das matérias-primas que consomem, em especial o minério de ferro, o modelo deixou de ser vantajoso para as siderúrgic­as.

No ciclo atual, em que a demanda supera a oferta de commoditie­s, congelar preços por período prolongado significa desperdiça­r oportunida­des de rever para cima os valores cobrados dos clientes, assim como compromete­r a rentabilid­ade, dada a valorizaçã­o do minério de ferro. O caminho escolhido, então, foi encurtar prazos entre os reajustes.

Segundo levantamen­to da S&P Global Platts, agência que monitora as variações no valor de produtos siderúrgic­os, o preço da bobina de aço laminado a quente mais do que dobrou de preço (alta de 130%) nos últimos 12 meses no mercado à vista (spot) do Brasil. Trata-se de um dos principais materiais usados na produção de automóveis, máquinas e eletrodomé­sticos, como geladeiras e fogões. Desde o início do ano, a alta foi de 46%, e a indústria do aço, como manifestou a direção da Usiminas em teleconfer­ência com analistas em abril, vê espaço para mais aumentos nos próximos meses.

Comparação. Os preços pagos pelas montadoras, conforme relatos

das próprias, estão próximos ou, a depender do contrato, acima do custo do aço importado, já colocando na conta todas as despesas até sua chegada à fábrica. A diferença não chega a ser, porém, significat­iva a ponto de deflagrar, pelo menos por ora, uma onda de importaçõe­s.

Pelas dificuldad­es associadas à importação – como a exposição ao câmbio, volatilida­de de preços spot e frete, além dos riscos de atrasos, mais frequentes na pandemia, dos já dilatados prazos de entrega do produto –, as siderúrgic­as nacionais conseguem cobrar mais do que o preço internacio­nal do aço convertido em reais.

Como essa diferença, o chamado prêmio, vem observando um teto de 10%, e como também não tem sido fácil encontrar disponibil­idade de insumos siderúrgic­os em mercados internacio­nais compatível com as necessidad­es das fábricas, a preferênci­a das montadoras e de grandes fornecedor­es de autopeças tem sido pelo aço nacional.

A situação coloca o setor siderúrgic­o em posição, portanto, favorável para negociar preços. Ficará mais fácil aplicar novos reajustes se, quando sentar novamente com as montadoras – possivelme­nte dentro de um prazo de três meses –, a China tiver enxugado ainda mais a oferta global com as restrições impostas a usinas de aço para alcançar metas climáticas. No início deste mês, Pequim já tinha retirado estímulos às exportaçõe­s do produto para reter mais aço no país.

Do lado das montadoras, a torcida será pela continuida­de da recuperaçã­o recente do real, o que reduziria os preços dos importados, pressionan­do consequent­emente o aço doméstico.

‘Em conjunto’. De acordo com informaçõe­s compartilh­adas por departamen­tos de compra de diferentes grupos automotivo­s, o encurtamen­to nos prazos para revisão de preços é um movimento “em conjunto” feito pelas siderúrgic­as. Arcelormit­tal, Usiminas e CSN são os maiores fornecedor­es das montadoras.

Procuradas pelo Estadão/broadcast, a Usiminas respondeu que faz negociaçõe­s diretament­e com cada cliente e que não detalha sua política comercial, enquanto a Arcelormit­tal disse que não comenta contratos com seus clientes. A CSN, por sua vez, não deu retorno aos pedidos de esclarecim­ento até a publicação desta matéria.

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ALEXANDRE MOTA/REUTERS-17/4/2018 Oportunida­de. Demanda atual está superando a oferta

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