O Estado de S. Paulo

Pazuello blinda Bolsonaro e distorce fatos na CPI

Ex-ministro nega ordem de presidente para desfazer compra de lote da Coronavac; general tem mal-estar e oitiva será retomada hoje

- Vinícius Valfré Lauriberto Pompeu / BRASÍLIA / COLABORARA­M ADRIANA FERRAZ, AMANDA PUPO, FABIANA CAMBRICOLI e CAMILA TURTELLI

O depoimento de Eduardo Pazuello à CPI da Covid foi marcado pela tentativa do ex-ministro da Saúde de blindar Jair Bolsonaro. Pazuello distorceu fatos sobre a condução da crise sanitária, disse inverdades ao negar a ordem de Bolsonaro para cancelar a compra da vacina Coronavac e foi desmentido pelo TCU ao afirmar que havia restrições da Corte à compra de imunizante­s da Pfizer. O depoimento continua hoje.

O depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid foi marcado pela tentativa de blindar o presidente Jair Bolsonaro. Ao longo de sete horas de sessão, ontem, Pazuello distorceu fatos sobre a condução da crise sanitária pelo governo, disse inverdades ao negar a ordem de Bolsonaro para cancelar a compra da vacina Coronavac e foi desmentido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ao afirmar que havia restrições da Corte à compra de imunizante­s da Pfizer.

A sessão foi interrompi­da, à tarde, porque Pazuello sentiu um mal estar durante um intervalo e teve queda da pressão arterial. O general foi atendido pelo senador Otto Alencar (PSDBA), que é médico. À saída do Senado, no entanto, Pazuello negou o problema, confirmado pelo Estadão com seus advogados. “Eu não passei mal. Não houve nada”, desconvers­ou. O depoimento será retomado hoje.

O ex-ministro deixou senadores irritados ao dizer que Bolsonaro não lhe mandou cancelar o contrato para a compra da Coronavac, vacina produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

“Nunca o presidente me mandou desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan. Ele nunca falou um ‘ai’ sobre o Butantan”, afirmou.

No dia 21 de outubro, porém, Bolsonaro usou as redes sociais para anunciar o fim do acordo. “Ele (Pazuello) tem um protocolo de intenções, já mandei cancelar, se ele assinou. O presidente sou eu. Não abro mão da minha autoridade”, escreveu Bolsonaro, que, vinte e quatro horas depois, foi visitar o então ministro. “É simples assim: um manda, o outro obedece”, disse Pazuello, na ocasião, ao lado do chefe.

Agora, a versão do general é a de que a manifestaç­ão do presidente foi uma reação a provocaçõe­s do governador de São Paulo, João Doria: “O que o presidente colocou, na rede social, ele não repetiu para mim”.

Pazuello foi submetido a constrangi­mento ao destacar que, entre os motivos para não assinar rapidament­e um memorando de entendimen­to com a Pfizer, estavam pareceres de órgãos de controle, como o TCU. Mas o tribunal informou que não havia apresentad­o nada nesse sentido. O ex-ministro, então, disse que cometera um equívoco.

Os momentos mais tensos da CPI ocorreram quando o ex-ministro negou ter recomendad­o o “tratamento precoce” com cloroquina (sem eficiência comprovada contra a covid), e quando disse ter sido informado sobre a falta de oxigênio em Manaus apenas em 10 de janeiro.

Logo depois, chegou à CPI um documento no qual o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, admitia que Pazuello soube da falta de oxigênio no Amazonas em 7 de janeiro, em conversa por telefone com o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo. A nota de Franco foi uma resposta a requerimen­to apresentad­o pelo deputado José Ricardo (PT-AM).

“Não é possível isso. O senhor assistiu com seus olhos os nossos brasileiro­s amazonense­s morrerem por falta de oxigênio”, reagiu Eduardo Braga (MDB-AM). “O depoente foi treinado e está mentindo muito. Vamos agora pedir que a CPI contrate uma agência de checagem on line de fatos”, afirmou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Até o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), bateu boca com o senador Luís Carlos Heinze (Progressis­tas-rs) e o chamou de “mentiroso” por ele dizer que o governo Bolsonaro havia enviado dinheiro ao Amazonas para combate ao coronavíru­s. “Não me chame de mentiroso”, gritou Heinze. A sessão foi suspensa e Aziz pediu desculpas.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO Pressão. Pazuello sentiu indisposiç­ão; depoimento durou sete horas
 ?? GABRIELA BILO / ESTADÃO ?? Ex-ministro. Em depoimento de cerca de sete horas à CPI da Covid, afirmações de Eduardo Pazuello irritaram senadores e foram contestada­s pelo TCU
GABRIELA BILO / ESTADÃO Ex-ministro. Em depoimento de cerca de sete horas à CPI da Covid, afirmações de Eduardo Pazuello irritaram senadores e foram contestada­s pelo TCU

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