Deputados aprovam texto-base da MP que privatiza a Eletrobrás
Medida recebeu na noite de ontem 313 votos a favor e 166 contra; após a votação, deputados deram início a análise dos destaques
A Câmara aprovou o texto-base da MP que permite a privatização da Eletrobrás. A proposta autoriza o governo a reduzir sua participação na estatal dos atuais 60% para 45%.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem o texto-base da medida provisória que permite a privatização da Eletrobrás. A proposta autoriza o governo a diluir sua participação na estatal, hoje em torno de 60% para 45%, por meio da oferta de novas ações no mercado. A MP foi aprovada por 313 votos a favor e 166 contra. Até as 23h45, sete destaques haviam sido rejeitados e ainda faltavam três para ser analisados. Os destaques poderiam alterar o teor da proposta.
Enviado pelo governo em 23 de fevereiro, a proposta é uma das prioridades do Executivo e aposta da área econômica para ampliar investimentos da empresa, que atua no setor de geração e transmissão de energia elétrica. A proposta terá de ser analisada pelo Senado Federal até 22 de junho, quando perde a validade.
A MP foi aprovada sem apoio da oposição e com resistência de partidos da base aliada. Pela manhã, partidos entraram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a votação. O líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que a votação era uma afronta à democracia, por não ter sido discutida em uma comissão mista, formada por deputados e senadores.
“É uma afronta à democracia porque não houve a comissão mista, exigida pela Constituição. O que houve foi um império do relator”, disse. Ele afirmou que a criação do colegiado é, justamente, para evitar que “uma única pessoa possa trazer o texto que quiser ao plenário”.
Apesar da negociação do governo com o relator da proposta, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), nos últimos dias, a MP foi aprovada com diversos “jabutis”, como são chamadas as emendas que mudam o teor do texto do Executivo. Por meio de um acordo, o deputado chegou a retirar algumas das medidas, mas manteve propostas que terão como consequência o aumento da conta de luz do consumidor final.
O primeiro parecer apresentado por Nascimento condicionava a privatização da Eletrobrás à contratação prévia de 6 mil megawatts (MW) de termoelétricas em locais definidos pelo relator. A contrapartida foi retirada do texto em uma nova versão do relatório, apresentado nesta tarde durante análise da matéria no plenário.
A exigência foi suprimida após o governo alegar que não havia projetos para todas essas usinas e com o risco de que isso impedisse a privatização, prevista para ser concluída no início de 2022.
Contudo, o relator manteve a contratação dessas termoelétricas, por meio de leilão, nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-oeste, onde há poucas reservas e gasodutos. A construção de infraestrutura para escoar o insumo deve resultar no aumento de custos para o consumidor. Deputados se manifestaram contra à proposta. “Estamos reduzindo a eficiência do setor como um todo, criando um custo desnecessário. Podemos, sim, contratar energia de térmicas, onde há gás e gasodutos”, disse Felipe Rigoni (PSB-ES).
Ao contrário do que foi acordado com o governo, o deputado não retirou a obrigação permanente de contratar uma mínima de pequenas centrais hidrelétricas (PCHS) em leilões de energia nova. Ele manteve uma regra pela contratação mínima de 2 mil MW de PCHS nos leilões A-5 e A-6. Depois desses 2 mil MW, os leilões ainda deverão contratar 40% de PCHS nos leilões até 2026, por 20 anos, ao preço do leilão A-6 de 2019, de R$ 285,00 por MWH.
O texto aprovado também permite a prorrogação dos contratos das usinas contratadas no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Com o vencimento dos contratos, as usinas teriam de disputar leilões de energia velha e reduzir seus custos. A MP, no entanto, vai permitir que elas tenham as outorgas estendidas de forma automática, por mais 20 anos