EUA pressionam, mas Israel mantém bombardeios em Gaza
Premiê israelense afirma que vai continuar operação militar até que a calma seja restabelecida no enclave palestino; nos bastidores, diplomatas que participam das negociações garantem que Israel e Hamas já sinalizam disposição de chegar a um acordo
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que manterá bombardeios à Faixa de Gaza, apesar de apelos de cessar-fogo feitos por Joe Biden.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, prometeu seguir adiante com os bombardeios à Faixa de Gaza, mesmo após outro apelo por cessar-fogo feito pelo presidente dos EUA, Joe Biden. Ontem, Biden telefonou pela quarta vez na mesma semana para Netanyahu. Nas conversas, o americano vem subindo o tom das cobranças.
Mesmo assim, segundo duas pessoas que acompanharam o telefonema, citadas pelo New York Times, em nenhum momento Netanyahu deu garantias de que pretende reduzir as intensidades dos ataques. Ontem, após visitar o quartel-general militar israelense, o premiê afirmou que está “determinado a continuar a operação até que seu objetivo seja alcançado”.
De acordo com Karine Jeanpierre, uma das porta-vozes do governo americano, Biden disse a Netanyahu que esperava para ontem “uma desaceleração significativa” do conflito – o que não aconteceu. A pressão sobre Israel cresceu, com outros países fazendo coro com o presidente dos EUA.
A França vem liderando as negociações no Conselho de Segurança da ONU, mas o rascunho de resolução apresentado ontem tinha poucas chances de ser aprovado. Nos bastidores, diplomatas que participam das negociações garantem que Israel e Hamas já sinalizaram a disposição de chegar a um acordo, mas nenhum dos lados reduziu a intensidade dos combates.
Moussa Abu Marzouk, um alto comandante do Hamas, disse ontem à TV libanesa Mayadeen que espera um cessar-fogo em “um ou dois dias”. Um diplomata do Egito, envolvido nas negociações, disse aguardar uma posição de Israel sobre uma proposta de trégua.
Analistas indicam que Netanyahu vem segurando a pressão e mantendo os ataques porque está conseguindo uma importante vitória interna. Dois opositores do premiê, Naftali Bennett e Gideon Sa’ar, que negociavam a formação de um novo governo de coalizão com Yair Lapid, um desafeto de Netanyahu, já cogitam a possibilidade de uma aliança com o primeiro-ministro. Ontem, Sa’ar disse que aceita formar um governo de união, desde que ele, e não Netanyahu, ocupe primeiro o cargo.
Netanyahu não comentou as negociações para formar um novo governo, mas mostrou que a pressão internacional não vai mudar sua política. “Agradeço especialmente o apoio do presidente dos EUA, Joe Biden, por defender o direito de legítima defesa do Estado de Israel. Estou determinado a continuar esta operação até que seu objetivo seja alcançado, para restaurar a paz e a segurança para vocês, cidadãos de Israel”, disse Netanyahu.
Alto risco. O risco de prolongar demais o conflito, no entanto, é a onda de violência se espalhar pela região. Ontem, mais quatro foguetes foram lançados do Líbano contra o norte de Israel – dois caíram no mar, um atingiu uma área aberta e o último foi interceptado pelas defesas israelenses. O Exército de Israel respondeu com disparos de artilharia. O governo libanês disse que os lançamentos foram feitos por um pequeno grupo de palestinos.
O conflito em Gaza entrou ontem no décimo dia seguindo a mesma dinâmica. Os lançamentos de foguetes do Hamas são respondidos com ataques aéreos contra o enclave. Foram mais de 3,5 mil disparos desde que o conflito começou, segundo o Exército de Israel. Mais de 200 palestinos já morreram em Gaza, incluindo 64 crianças, e outros 19, na Cisjordânia. Do lado israelenses, 12 pessoas morreram.
Na terça-feira, um ataque aéreo israelense destruiu o único laboratório em Gaza que processava os testes de covid. Autoridades sanitárias do território palestino disseram ontem que equipes de resgate conseguiram recuperar as poucas doses de vacinas que estavam estocadas e afirmaram que o processamento de exames foi transferido para outra clínica.
Nos últimos dez dias, em razão dos distúrbios que afetaram cidades de Israel e da Cisjordânia, a polícia prendeu 1.319 pessoas, entre as quais 252 menores, segundo um relatório policial divulgado ontem. A grande maioria (80%) dos detidos é árabe. A promotoria anunciou ontem que 170 pessoas serão indiciadas
– apenas 15 são judeus.
A brutalidade policial e a desigualdade nos números são alguns dos fatores que aproximam a ala progressista do Partido Democrata da causa palestina – e colocam mais pressão para Biden endurecer sua posição com Israel.
Ontem, a deputada Alexandria Ocasio-cortez, uma das estrelas da esquerda democrata, redigiu uma resolução para suspender a venda de US$ 735 milhões em armas de precisão a Israel. A iniciativa, no entanto, deve parar nas mãos da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que é a favor do acordo e controla a agenda de votação.