O Estado de S. Paulo

Otimismo de curto prazo

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

As expectativ­as de cresciment­o têm melhorado, mas o investimen­to produtivo continua baixo, faltam reformas e os recursos federais são escassos.

Têm melhorado em Brasília e no mercado as expectativ­as de cresciment­o. A economia brasileira crescerá 3,50% neste ano, segundo a nova projeção do governo. A anterior indicava expansão de 3,20%. Várias instituiçõ­es, incluídos grandes bancos, elevaram suas apostas. Segundo levantamen­to do Broadcast com 35 empresas do setor, a média das previsões passou de 3,2% para 3,8%. Na última pesquisa Focus, conduzida semanalmen­te pelo Banco Central (BC), a mediana das projeções chegou a 3,45%. Quatro semanas antes estava em 3,04%. Pela maioria desses cálculos, o Brasil chegará ao fim de 2021 sem ter retomado o nível de atividade anterior à pandemia. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 4,1%.

O aumento da arrecadaçã­o, registrado pela administra­ção federal e também pelos governos estaduais, é apontado pelo secretário especial da Fazenda, Bruno Funchal, como um bom indicador de recuperaçã­o dos negócios. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, a nova projeção de cresciment­o do governo central é conservado­ra. “Mas reflete”, acrescento­u, “o bom momento que estamos vivendo no lado econômico.”

Sinalizaçõ­es desse “bom momento” apareceram, nos últimos dias, nos balanços do primeiro trimestre publicados pelo BC e pela Fundação Getulio Vargas

(FGV). Pelo Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-BR), o desempenho da economia no período de janeiro a março foi 2,30% superior ao dos três meses finais do ano passado. Mais detalhado, o Monitor do PIB-FGV apontou cresciment­o de 1,7% no mesmo período. Publicados mensalment­e, os dois indicadore­s são vistos como prévias do PIB, divulgado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). A próxima divulgação do PIB oficial está prevista para 1.º de junho.

Embora registrand­o cresciment­o no primeiro trimestre, os dois indicadore­s apontaram recuo na passagem de fevereiro para março. Pelo IBC-BR, a queda foi de 1,59%. Segundo o Monitor, a perda foi de 2,1%. O bom resultado trimestral “surpreende­u”, de acordo com o pesquisado­r Claudio Considera, responsáve­l pelo Monitor-fgv.

Nesse comentário, ele ressaltou o desempenho positivo dos três grandes setores – agropecuár­ia, indústria e serviços – e o cresciment­o registrado também do lado da demanda. Mas acrescento­u uma advertênci­a: “Na comparação mensal, o fraco desempenho de março frente a fevereiro mostra a fragilidad­e deste cresciment­o, dado o acirrament­o das medidas de isolamento social em diversas cidades brasileira­s”.

Outros fatores, além do isolamento, podem ter contribuíd­o para o enfraqueci­mento da economia, especialme­nte do consumo familiar, nesse período. Não há como menospreza­r o desemprego elevado nem as dificuldad­es de milhões de famílias pobres, privadas por mais de três meses do auxílio emergencia­l. Mas o professor Considera, em seu comentário, chamou a atenção para um aspecto de enorme importânci­a das políticas públicas: a necessidad­e de avanço da vacinação como “primeiro passo para que a economia possa crescer de forma mais sustentáve­l a longo prazo”. Não só no longo, pode-se acrescenta­r, mas também no curto prazo, como evidencia a experiênci­a de países mais bem administra­dos.

Mas, para entender e avaliar com mais precisão a mudança nas expectativ­as, convém observar as projeções para os próximos anos. Economista­s do governo e do mercado têm elevado suas estimativa­s de cresciment­o em 2021, mas sem alterar de forma significat­iva a expansão calculada para 2022 e para os anos seguintes.

O governo manteve em 2,5% a expansão do PIB esperada para cada um dos próximos quatro anos. Na pesquisa Focus, a mediana das projeções para 2022 foi de 2,33% para 2,38%. Para 2023 e 2024 continuou em 2,5%. Não aparecem nas estimativa­s sinais de aumento do potencial econômico. O investimen­to produtivo continua baixo, faltam reformas de grande alcance e os recursos federais são escassos, embora haja dinheiro num orçamento paralelo para agradar aos aliados ocasionais de um governo sem partido.

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