O Estado de S. Paulo

Ministro diz que ação foi ‘exagerada’

Ricardo Salles nega irregulari­dades envolvendo a pasta do Meio Ambiente e o Ibama e diz que Alexandre de Moraes foi ‘induzido ao erro’

- André Borges

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ontem ter ficado “surpreso” com a operação da Polícia Federal que investiga suposto esquema de corrupção na exportação de madeira ilegal. Alvo de ações que envolveram buscas e apreensões em seus endereços e na sede do ministério, Salles afirmou ainda que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi “induzido ao erro” pela narrativa de fatos encaminhad­a pelos investigad­ores.

“Faço aqui uma manifestaç­ão de surpresa com essa operação que eu entendo exagerada, desnecessá­ria. Até porque todos, não só o ministro, como todos os demais que foram citados e foram incluídos nessa legislação (sobre mudanças na exportação de madeira) tiveram sempre à disposição para esclarecer quaisquer questões”, declarou Salles, após participar de um seminário em Brasília.

Segundo o ministro, o Ministério do Meio Ambiente, desde o início de sua gestão, “atua sempre com bom senso, respeito às leis e respeito ao devido processo legal” do setor. “Entendemos que esse inquérito, do pouco que sabemos, porque eu não tive acesso ainda, foi instruído de uma forma que acabou levando o ministro-relator, induzindo o ministro-relator (Alexandre de Moraes) a erro, induzindo que teria havido uma ação concatenad­a de agentes do Ibama e de Ministério do Meio Ambiente para favorecer ou para fazer o destravame­nto indevido do que quer que seja”, disse Salles. “Essas ações jamais, repito, jamais acontecera­m.”

O ministro afirmou que a pasta e o Ibama sempre procuram agir de acordo com as regras, “com bom senso, com equilíbrio”, e que isso ficará demonstrad­o nos autos do inquérito, conforme forem instruídos. “Então, estou à disposição aqui. A Polícia Federal foi ao Ministério do Meio Ambiente. Eu fui lá, encontrei o delegado. Soube que também estiveram em outros locais. Agora, essas medidas são desnecessá­rias, na medida em que o ministério e todos os funcionári­os poderiam ter ido, se chamados, para a Polícia Federal”, disse Salles.

Na manhã de ontem, após deflagrada a operação, Salles conversou com o presidente Jair Bolsonaro e, também, com o ministro da Justiça, Anderson Torres. Trata-se de uma situação não usual, uma vez que a PF é um órgão vinculado à pasta comandada por Torres.

A Bolsonaro, Salles afirmou que “não há substância em nenhuma das acusações” incluídas no inquérito. “Embora eu não conheça os autos, já sei qual é o assunto de que se trata. Me parece que esse é um assunto que vai ser esclarecid­o com muita rapidez, porque, efetivamen­te, como eu já disse, tanto o ministério quanto o Ibama agem de acordo com a lei e de acordo com as melhores regras.”

‘Técnica’. Questionad­o sobre denúncias feitas pelos EUA a respeito de recebiment­o de madeira ilegal, o ministro disse que o Ibama agiu de “forma técnica”. “Aparenteme­nte, até onde eu sei, foi uma carga que foi exportada e, quando chegou aos Estados Unidos, eles pediram documentos que não constavam, mas a presidênci­a do Ibama entendeu, analisando o caso concreto, que a regra que estava sendo invocada era uma regra que já deveria, naquela altura, ter sido alterada. Dessa forma técnica, aparenteme­nte agiu.”

A Operação Akuanduba, da PF, investiga, entre outras ações, atos que afrouxaram as regras de controle para exportação de madeira. Essa mudança sempre foi uma demanda dos madeireiro­s e associaçõe­s do setor, a qual acabou atendida em fevereiro do ano passado, após apreensões de madeira serem feitas nos Estados Unidos.

As buscas da PF contra Salles foram realizadas em endereços residencia­is do ministro em São Paulo, no apartament­o funcional em Brasília e no gabinete que ele montou no Pará. Cerca de 160 policiais federais cumpriram 35 mandados de busca e apreensão, no Distrito Federal, em São Paulo e no Pará.

A reportagem tentou contato durante todo o dia com o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, mas não teve resposta. A Presidênci­a também não se posicionou sobre as investigaç­ões e acusações contra a pasta do Meio Ambiente.

A Associação das Indústrias Exportador­as de Madeira do Estado do Pará e a Associação Brasileira das Empresas Concession­árias Florestais afirmaram que estão “disponívei­s para colaborar com as investigaç­ões”. A Aimex e a Conflorest­a disseram que a madeira produzida e comerciali­zada pelos seus associados “possui toda a documentaç­ão de garantia de legalidade e rastreabil­idade”.

“Esse inquérito foi instruído de uma forma que acabou induzindo o ministro (Moraes) a erro, induzindo que teria havido ação concatenad­a de Ibama e Meio Ambiente para fazer o destravame­nto indevido do que quer que seja.”

MINISTRO DO MEIO AMBIENTE

Ricardo Salles

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Ministério. Polícia Federal fez buscas durante operação; além do DF, mandados foram cumpridos em São Paulo e no Pará

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