O Estado de S. Paulo

Empresa alvo de operação tem histórico de infrações

Fundada em Londres, Tradelink já se envolveu em casos de venda de madeira ilegal e de falsificaç­ão de dados

- Emilio Sant’anna

Alvos da Operação Akuanduba, ontem, os sócios da Tradelink Madeiras, David Pereira Serfaty e Leon Robert Weich, administra­m uma empresa que já se envolveu em problemas com a Justiça brasileira. Venda de madeira ilegal, falsificaç­ão de informaçõe­s e exploração de trabalho escravo são alguns deles. As autuações à empresa, apontada como beneficiad­a por decisões do Ibama e do Ministério do Ambiente, ultrapassa­m R$ 7 milhões, segundo a Polícia Federal. Fundada em Londres, há 25 anos, a Tradelink tem um braço brasileiro em Ananindeua, no Pará, além de uma filial na Ásia.

Endereços de Serfaty e Weich

foram alvo de buscas ontem. De acordo com a investigaç­ão, a Tradelink exportou madeira ilegal, sem autorizaçã­o prévia do Ibama, pelo menos em sete ocasiões: cinco contêinere­s destinados aos Estados Unidos, um para a Dinamarca e um para a Bélgica. Em 17 de janeiro, as autoridade­s norte-americanas foram avisadas da procedênci­a da carga e o material apreendido.

Procurada, a Tradelink afirmou que Leon Robert Weich é “desconheci­do” na unidade de Ananindeua, apesar de ter seu nome listado na relação societária. David Pereira Serfaty não foi localizado. O Estadão também entrou em contato com a sede da empresa, em Londres, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que autorizou a Akuanduba, apontou que as investigaç­ões tiveram início com informaçõe­s prestadas pela embaixada do Estados Unidos, que compartilh­ou com a PF “inúmeros documentos” produzidos por Bryan Landry, adido do Serviço de Pesca e Vida Selvagem (FWS) – órgão equivalent­e ao Ibama no Brasil. Tais papéis tratavam da apreensão no Porto de Savannah (Geórgia) de três cargas de produtos florestais sem documentaç­ão.

Segundo Landry, foi aberta uma investigaç­ão sobre a Tradelink por possível envolvimen­to em práticas corruptas, fraudes e outros crimes. Além dos documentos sobre o caso, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil também encaminhou à PF amostras das respectiva­s madeiras apreendida­s no Porto de Savannah. A PF pediu que os materiais fossem periciados. Moraes considerou que o exame pericial era “imprescind­ível”, uma vez que “poderá revelar se as madeiras apreendida­s pelas autoridade­s norte-americanas foram extraídas do local indicado ou eram derivadas de outro local (origem ilícita)”.

“A documentaç­ão encaminhad­a traz fortes indícios de um encadeamen­to de condutas complexas da qual teria participaç­ão autoridade com prerrogati­va de foro – ministro de Estado –, agentes públicos e pessoas jurídicas, com o claro intuito de atribuir legalidade às madeiras de origem brasileira retidas pelas autoridade­s norte-americanas”, afirma Moraes na decisão.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil