Mesmo com greve, metroviários não chegam a acordo
Audiência no TRT-2 não obteve resultado ontem; Estado fala em ‘intransigência’ e sindicato alega só querer reajuste inflacionário
A negociação entre funcionários e a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) não teve avanços ontem e levou à paralisação de parte das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3Vermelha e 15-Prata na capital. Uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-2), para discutir a greve, terminou sem acordo.
Os trabalhadores até aceitaram reduzir reivindicações, via proposta do TRT, mas não houve aceite por parte do governo. Uma assembleia da categoria à noite suspendeu a paralisação – já prevista inicialmente para 24 horas – e optou por manter as negociações, até uma nova assembleia na próxima semana.
A categoria exige melhoria salarial, embora a gestão João Doria (PSDB) argumente ter feito proposta “muito acima do que é praticado no mercado de trabalho e previsto na legislação trabalhista”. O TRT-2 aceitou pedido de liminar para limitar a greve, com a determinação de manter funcionamento de 80% do serviço e do efetivo nos horários de pico (entre 6 e 10 e entre 16 e 20 horas) e de 60% nos demais horários, “sob multa diária de R$ 100 mil”.
Pela manhã, à Rádio Eldorado, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, disse que 15% dos funcionários estavam trabalhando – e muitas estações demoraram a abrir. O porcentual é composto por metroviários que não aderiram à greve e por integrantes do plano de contigência. “Aqueles que desrespeitarem a norma e a decisão judicial (que determina a operação de parte da frota) podem ser demitidos.”
A Prefeitura informou que teve de paralisar o funcionamento dos postos volantes de vacinação contra a covid-19 nas Estações Butantã, República e Itaquera do Metrô. As vacinas continuaram disponíveis nas 468 UBSS, AMAS e Centros de Saúde. O rodízio de veículos também foi suspenso ontem.
Prejudicados. Acostumada a utilizar o metrô por ser mais rápido, a jornalista Vanessa Barbosa, de 49 anos, que mora no Piqueri, zona norte de São Paulo, foi de ônibus para o trabalho nesta quarta-feira. “Quando passei na porta da Estação Anhangabaú do Metrô, estava com os portões fechados."
Já a gerente de Recursos Humanos Marcela Nishio, de 36 anos, saiu de casa às 7 horas. De carro, gasta em média uma hora da residência no Carrão, na zona leste, até o escritório do trabalho localizado no Socorro, zona sul da cidade. “Com a greve dos metroviários, o tempo no trânsito foi o dobro. Gastei cerca de duas horas. Muito trânsito, principalmente na Radial Leste", disse.
Mesmo com o frio pela manhã, o gestor de serviços Fábio Alcides, de 45 anos, saiu de casa às 6 horas, uma hora e meia mais cedo do que o habitual. “Foi terrível para chegar ao trabalho com a greve dos metroviários, prejudicando quem trabalha. Acho que teriam outras formas de eles se manifestarem.”
Reivindicações. Antes da audiência de ontem, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos chegou a divulgar nota oficial em que atribui a falta de acordo à “intransigência dos dirigentes sindicais”. “Durante toda a pandemia, o metroviário teve garantida a manutenção de seus empregos e altos benefícios, apesar dos prejuízos registrados pelo Metrô de R$ 1,7 bilhão no último ano e de mais de R$ 360 milhões no primeiro trimestre de 2021”, diz.
A decisão pela greve havia sido tomada na noite de terça, após nenhum representante da administração pública comparecer a outra audiência no TRT. “Não estamos pedindo aumento, estamos pedindo o reajuste inflacionário (do salário). É claro que, se vier alguma proposta de negociação, estamos dispostos a conversar e não paralisar o metrô”, afirmou a sindicalista Camila Lisboa.
“Se deixarem a catraca aberta, voltamos a trabalhar na mesma hora. Se o governo topar, a gente topa também.” Altino Prazeres
SINDICALISTA