O Estado de S. Paulo

Mesmo com greve, metroviári­os não chegam a acordo

Audiência no TRT-2 não obteve resultado ontem; Estado fala em ‘intransigê­ncia’ e sindicato alega só querer reajuste inflacioná­rio

- Felipe Resk / COLABORARA­M JOÃO KER, MARIANA HALLAL, RENATA OKUMURA e VICTORIA NETTO

A negociação entre funcionári­os e a Companhia do Metropolit­ano de São Paulo (Metrô) não teve avanços ontem e levou à paralisaçã­o de parte das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3Vermelha e 15-Prata na capital. Uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-2), para discutir a greve, terminou sem acordo.

Os trabalhado­res até aceitaram reduzir reivindica­ções, via proposta do TRT, mas não houve aceite por parte do governo. Uma assembleia da categoria à noite suspendeu a paralisaçã­o – já prevista inicialmen­te para 24 horas – e optou por manter as negociaçõe­s, até uma nova assembleia na próxima semana.

A categoria exige melhoria salarial, embora a gestão João Doria (PSDB) argumente ter feito proposta “muito acima do que é praticado no mercado de trabalho e previsto na legislação trabalhist­a”. O TRT-2 aceitou pedido de liminar para limitar a greve, com a determinaç­ão de manter funcioname­nto de 80% do serviço e do efetivo nos horários de pico (entre 6 e 10 e entre 16 e 20 horas) e de 60% nos demais horários, “sob multa diária de R$ 100 mil”.

Pela manhã, à Rádio Eldorado, o secretário dos Transporte­s Metropolit­anos, Alexandre Baldy, disse que 15% dos funcionári­os estavam trabalhand­o – e muitas estações demoraram a abrir. O porcentual é composto por metroviári­os que não aderiram à greve e por integrante­s do plano de contigênci­a. “Aqueles que desrespeit­arem a norma e a decisão judicial (que determina a operação de parte da frota) podem ser demitidos.”

A Prefeitura informou que teve de paralisar o funcioname­nto dos postos volantes de vacinação contra a covid-19 nas Estações Butantã, República e Itaquera do Metrô. As vacinas continuara­m disponívei­s nas 468 UBSS, AMAS e Centros de Saúde. O rodízio de veículos também foi suspenso ontem.

Prejudicad­os. Acostumada a utilizar o metrô por ser mais rápido, a jornalista Vanessa Barbosa, de 49 anos, que mora no Piqueri, zona norte de São Paulo, foi de ônibus para o trabalho nesta quarta-feira. “Quando passei na porta da Estação Anhangabaú do Metrô, estava com os portões fechados."

Já a gerente de Recursos Humanos Marcela Nishio, de 36 anos, saiu de casa às 7 horas. De carro, gasta em média uma hora da residência no Carrão, na zona leste, até o escritório do trabalho localizado no Socorro, zona sul da cidade. “Com a greve dos metroviári­os, o tempo no trânsito foi o dobro. Gastei cerca de duas horas. Muito trânsito, principalm­ente na Radial Leste", disse.

Mesmo com o frio pela manhã, o gestor de serviços Fábio Alcides, de 45 anos, saiu de casa às 6 horas, uma hora e meia mais cedo do que o habitual. “Foi terrível para chegar ao trabalho com a greve dos metroviári­os, prejudican­do quem trabalha. Acho que teriam outras formas de eles se manifestar­em.”

Reivindica­ções. Antes da audiência de ontem, a Secretaria dos Transporte­s Metropolit­anos chegou a divulgar nota oficial em que atribui a falta de acordo à “intransigê­ncia dos dirigentes sindicais”. “Durante toda a pandemia, o metroviári­o teve garantida a manutenção de seus empregos e altos benefícios, apesar dos prejuízos registrado­s pelo Metrô de R$ 1,7 bilhão no último ano e de mais de R$ 360 milhões no primeiro trimestre de 2021”, diz.

A decisão pela greve havia sido tomada na noite de terça, após nenhum representa­nte da administra­ção pública comparecer a outra audiência no TRT. “Não estamos pedindo aumento, estamos pedindo o reajuste inflacioná­rio (do salário). É claro que, se vier alguma proposta de negociação, estamos dispostos a conversar e não paralisar o metrô”, afirmou a sindicalis­ta Camila Lisboa.

“Se deixarem a catraca aberta, voltamos a trabalhar na mesma hora. Se o governo topar, a gente topa também.” Altino Prazeres

SINDICALIS­TA

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Portões fechados em Itaquera. Até postos de vacinação nas estações ficaram fechados

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