O Estado de S. Paulo

Final com os técnicos em evidência

Palmeiras e São Paulo começam a decidir o título, que pela primeira vez tem em uma decisão dois treinadore­s estrangeir­os

- Gonçalo Junior

O português Abel Ferreira, do Palmeiras, e o argentino Hernán Crespo, do São Paulo, iniciam hoje, às 22h, a decisão do Campeonato Paulista Sicredi 2021, no Allianz Parque. Nesta final, a nacionalid­ade dos técnicos precisa de destaque. Esta é a primeira final da história do torneio estadual entre treinadore­s estrangeir­os. O troféu tem peso diferente para eles: o são-paulino carrega o jejum de nove anos; o palmeirens­e já levantou duas taças recentes.

Por ter feito a melhor campanha, o São Paulo terá a vantagem de fazer o segundo confronto no Morumbi, domingo. Em caso de igualdade, o título será decidido nas penalidade­s.

Esse duelo vai encerrar um longo tabu no Paulistão. Desde 1975, nenhum técnico estrangeir­o levantou a taça no Estadual mais importante do País. Já são 46 anos. Na ocasião, o São Paulo do argentino José Poy, lendário comandante tricolor, derrotou a Portuguesa, nos pênaltis.

De lá para cá, não tem sido fácil para um estrangeir­o sequer chegar ao pódio. Isso só aconteceu duas vezes, ambas com o São Paulo. A primeira foi com o mesmo José Poy, vice em 1982. A segunda foi com Dario Pereyra, em 1997.

Esses dados vão além das curiosidad­es históricas. Crespo e Abel reafirmam o aqueciment­o do mercado brasileiro para “professore­s” de outras nacionalid­ades. Foram valorizado­s sobretudo depois das conquistas de Jorge Jesus no Flamengo e dos novos conceitos de Jorge Sampaoli com o Santos. Só na temporada passada, dez comandante­s estrangeir­os trabalhara­m em clubes da primeira divisão. É um recorde desde 2001.

No Paulistão, Crespo e Abel personific­am as estratégia­s dos clubes que dirigem. O são-paulino administra o peso emocional de um jejum de nove anos sem títulos. Nesse contexto, o troféu estadual é sinônimo de respaldo e tranquilid­ade para o restante da temporada para ele próprio e para a diretoria.

Essa obsessão orientou o planejamen­to da comissão técnica, principalm­ente nas fases mais agudas do Paulistão. Com o aval dos diretores, o argentino poupou os titulares nos dois últimos jogos da Libertador­es. Tudo para que o time principal estivesse focado e descansado na partida de ida da decisão.

Volpi nega ansiedade do grupo do São Paulo, mas fala em “muita vontade”. “Quando se trata do São Paulo, o título tem de estar permanente­mente na cabeça de cada um. É um clube grande, que não ganha há muito tempo. Temos no Estadual uma boa oportunida­de de começar isso novamente. Estamos com vontade, ansioso não é a palavra correta”, disse.

Duelo tático. Abel Ferreira adotou estratégia oposta. Depois que a Federação Paulista negou o pedido de adiamento do jogo com o Corinthian­s, ainda na fase de classifica­ção, o Palmeiras passou a escalar um time B. Às vezes, até o C no torneio. A prioridade se tornou a Libertador­es. Nas fases finais, a escalação passou a ser mais encorpada. Nas quartas, diante do Bragantino, jogaram vários titulares. Diante do Corinthian­s, na semifinal, a escalação foi a principal.

Para o treinador, a taça estadual tem um peso menor. Em pouco mais de seis meses, o português liderou as conquistas da Copa do Brasil e da Libertador­es, mas foi superado nos pênaltis nas disputas da Supercopa e da Recopa Sul-americana. É a sua quinta decisão desde que chegou ao clube, em novembro de 2020. O torneio estadual é uma conquista inédita – no ano passado, o treinador era Vanderlei Luxemburgo.

“Quando cheguei aqui, não disse que ia conquistar títulos, disse que ia ter trabalho de qualidade, que tínhamos condições com jogadores de qualidade de poder lutar por títulos. Se vamos ganhar ou não, não sei. Orgulho por perceber que essa equipe tem estado presente em todas as finais. Tem de valorizar os processos para chegar até as finais”, analisou o técnico.

Taticament­e, os dois são parecidos. A final deve apresentar um duelo de espelhos táticos: os dois times costumam usar o esquema com três zagueiros. Com mais tempo no cargo, Abel Ferreira adotou o sistema eventualme­nte em 2020, e o São Paulo não jogava assim desde Rogério Ceni, em 2017. Hernán Crespo treina titulares e reservas no sistema, com a mesma ideia de ter zagueiros que avançam. Os alas jogam bem abertos para facilitar a busca de espaço entre as linhas. Recuperado de lesão, Daniel Alves deve começar a partida. Destaque nas últimas vitórias, o meia Benítez tem sido o principal articulado­r. Os jogadores “compraram” a ideia do técnico que, em muitos aspectos, deu continuida­de ao trabalho de Fernando Diniz. O time quer sempre ficar com a bola.

Do lado do Alviverde, o 3-5-2, sistema da histórica vitória sobre o River Plate por 3 a 0 na Argentina, resolveu alguns problemas defensivos que culminaram nas derrotas no Mundial, Supercopa e Recopa. Mas também ajudaram o Palmeiras a melhorar a produção ofensiva. Com a ligação dos zagueiros com os alas ou os atacantes Rony ou Luiz Adriano e a grande fase de Raphael Veiga nos lançamento­s, o time ganha objetivida­de e verticalid­ade. Foi assim que a equipe sobrou diante do Corinthian­s.

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RUBENS CHIRI/SAO PAULOFC.NET Maestro. O argentino Benítez tem sido o principal jogador do São Paulo
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CESAR GRECO / PALMEIRAS Confiança. Raphael Veiga e Luiz Adriano estão em boa fase no Palmeiras

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