O Estado de S. Paulo

NA INGLATERRA, O TORCEDOR ESTÁ DE VOLTA AOS ESTÁDIOS

Depois de testes do governo britânico, público retorna oficialmen­te ao Campeonato Inglês

- Marina Izidro / LONDRES ESPECIAL PARA O ESTADO

“Parece que estou vindo pela primeira vez na vida.” Foi assim que o inglês Sam Terry descreveu a sensação de voltar a um jogo de futebol. Não é por menos. Ele não entrava em um estádio desde fevereiro do ano passado, antes da pandemia.

“É indescrití­vel, é fantástico”, disse o estudante ao Estadão, antes da partida entre Chelsea e Leicester pelo Campeonato Inglês. Na última terça-feira, 8 mil torcedores dos Blues estiveram em Stamford Bridge pela primeira vez desde dezembro.

Aos poucos, quem mora no Reino Unido está recuperand­o certas liberdades, graças a uma campanha de vacinação eficiente e a um lockdown severo – o terceiro – que durou mais de três meses e está sendo relaxado aos poucos.

Esta semana, começou uma fase emblemátic­a da reabertura: amigos agora podem se abraçar – não era permitido e os cumpriment­os eram feitos com os cotovelos. Pubs e restaurant­es voltaram a servir do lado de dentro, e uma torcida apaixonada por futebol pôde retornar aos estádios na Premier League.

Como esta é a última semana da temporada, a liga reorganizo­u as rodadas finais para que todos os clubes recebam suas torcidas nas partidas em casa. Por enquanto, no máximo 10 mil pessoas.

No caminho até o estádio do Chelsea, torcedores se misturavam no metrô com quem voltava do trabalho. Cena comum em dias de jogos em Londres, mas algo que não se via fazia muito tempo. Eram grupos de amigos, famílias com crianças. Um menino carregava um cartaz pedindo uma camisa para o ídolo Kanté.

“Foi muita sorte termos conseguido ingresso, achamos que esse dia não chegaria tão cedo”, comemorou o estudante Ben Vaughan, de volta a um estádio depois de um ano e três meses. “Sentir que as coisas estão voltando ao normal, ver as pessoas chegando, é incrível.”

Também é um recomeço para quem tira do futebol o próprio sustento. Há nove anos, Gary Swales vende cachecóis e bandeiras do Chelsea na porta do estádio. A reabertura é uma chance não só de recuperar a renda, mas de tentar superar uma tragédia pessoal. Swales perdeu a mãe para a covid-19 em fevereiro. Antes da entrevista, pegou o celular e mostrou, emocionado, fotos dela no aniversári­o de 60 anos em 2020, ao lado da filha pequena dele.

“Temos de tentar, é bom voltar a trabalhar, ver alguma normalidad­e”, disse Gary. “Quando todos estiverem vacinados, talvez possamos ter estádios cheios de novo. Dependemos da volta dos turistas aqui. A Premier League é uma liga global que todos querem ver. Se pudermos ter isso de volta, teremos chance.”

Perto dali, Arthur Silva, dono de um café que já foi frequentad­o por jogadores brasileiro­s do Chelsea, vive uma mistura de sentimento­s. “Estou muito feliz, ao mesmo tempo preocupado com as variantes (do coronavíru­s) e os números do contágio aumentando. Quero que tudo corra bem para todo mundo. E espero que a gente não precise fechar de novo”, disse o brasileiro, que viu o movimento dobrar nos últimos dias.

Mesmo com uma campanha de vacinação de sucesso que promete imunizar todos os adultos no Reino Unido com a primeira dose até julho, o país vive novamente um momento de incertezas com o aumento de casos da variante indiana que coloca em dúvida a saída total do lockdown. Enquanto isso, autoridade­s tentam calcular o risco de cada etapa do desconfina­mento.

Projeto-piloto. Em abril e maio, o governo britânico fez um projeto-piloto em que três partidas no estádio de Wembley serviram de teste para a volta de público, incluindo a final da Copa da Inglaterra no último sábado, quando 21 mil torcedores viram o Leicester vencer justamente o Chelsea.

Se naquelas partidas era preciso apresentar um teste negativo para covid-19 para entrar no estádio, desta vez, em Stamford Bridge, o torcedor teve apenas que mostrar uma declaração atestando que não havia viajado para fora do país nos últimos seis meses nem tinha sintomas de coronavíru­s.

Do lado de dentro, precisavam usar máscaras e havia distanciam­ento social. Mesmo assim, as regras não diminuíram a empolgação da torcida. Havia um clima de revanche depois daquela final de quatro dias antes. Os Blues deram o troco, vencendo por 2 a 1.

“Estou em êxtase. Com certeza vou comemorar em um pub”, disse o estudante Sam Terry.

Depois de mais de um ano de pandemia e três lockdowns, os ingleses, como eles mesmos dizem por aqui, preferem ser “cuidadosam­ente otimistas” com o futuro. Mas, pelo menos na noite de terça-feira, os torcedores do Chelsea se deram o direito de comemorar.

 ?? CATHERINE IVILL / EFE ?? Matando a saudade. Torcedores do Chelsea comemoram gol do time: Stamford Bridge recebeu 8 mil pessoas na terça
CATHERINE IVILL / EFE Matando a saudade. Torcedores do Chelsea comemoram gol do time: Stamford Bridge recebeu 8 mil pessoas na terça
 ?? MARINA IZIDRO/ESTADÃO ?? Abraço. Ben Vaughan e Sam Terry: amigos torcem juntos
MARINA IZIDRO/ESTADÃO Abraço. Ben Vaughan e Sam Terry: amigos torcem juntos

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