O Estado de S. Paulo

Média salarial no Judiciário chega a ser o dobro da registrada no Executivo

Estudo do Ipea, com base na Rais, vê maior diferença na esfera estadual, onde os integrante­s do Judiciário ganham, na média, R$ 10,2 mil, mais que o dobro do Executivo (R$ 4,8 mil); no plano federal, Executivo paga R$ 9,4 mil, ante R$ 15,3 mil no Judiciár

- Idiana Tomazelli /

Um novo raio x traçado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a média salarial no Poder Judiciário, que inclui magistrado­s e servidores, é a maior dos três Poderes. Na esfera estadual, os integrante­s do Judiciário ganham, na média, R$ 10,2 mil, mais que o dobro do observado no Poder Executivo (R$ 4,8 mil). No âmbito federal, a diferença é menor, ainda com juízes e servidores em vantagem, com ganhos médios de R$ 15,3 mil, ante R$ 9,4 mil no Executivo.

Os salários médios do Judiciário também são maiores do que no Legislativ­o estadual (R$ 7,7 mil) e federal (R$ 9,3 mil). Os dados são do Atlas do Estado Brasileiro e foram trabalhado­s pelo Ipea a partir da Relação Anual de Informaçõe­s Sociais (Rais) de 2019. O pesquisado­r Félix Lopes ressalta ainda que os valores são brutos, mas não incluem “pendurical­hos” que, muitas vezes, ajudam a turbinar remuneraçõ­es de juízes e procurador­es para além do teto remunerató­rio, que hoje é de R$ 39,2 mil. Também ficam de fora os salários deterceiri­zados.

A crítica à desigualda­de de salários na administra­ção pública é um dos poucos pontos que mobilizam, ao mesmo tempo, grupos favoráveis e contrários à reforma administra­tiva proposta pelo governo para alterar as regras do “RH” do serviço público. Após o Estadão/broadcast divulgar cálculo do Tesouro de que o Brasil é um dos que mais gastam com funcionali­smo no mundo, diversas categorias buscaram chamar atenção para as diferentes realidades dentro da administra­ção.

“É expressiva a participaç­ão do Judiciário e do MP (Ministério Público) entre as ocupações com maiores remuneraçõ­es médias, a despeito de ser o Executivo o poder responsáve­l por prestar a maior quantidade de serviços”, afirma o presidente da Afipea Sindical, José Celso Cardoso Jr. A entidade representa os funcionári­os do Ipea.

Contrária à reforma do governo, a Afipea Sindical é uma das entidades que se coloca a favor da discussão de determinad­os pontos, como a limitação dos “pendurical­hos” ou o fim das férias de 60 dias para magistrado­s, o dobro dos 30 dias a que os demais integrante­s da administra­ção têm direito. Outras propostas enfrentam oposição, como a flexibiliz­ação da estabilida­de do servidor no cargo, medida que facilitari­a dispensas pelo governo, mas é vista como um risco à atuação independen­te dos servidores.

“Nada que envolva os Poderes Legislativ­o, Judiciário e militares está na PEC 32 (reforma administra­tiva). Também somos favoráveis à regulament­ação e imposição irrestrita do teto constituci­onal remunerató­rio a todos os Poderes e níveis da federação, mas tampouco esse tema está na PEC 32”, afirma Cardoso Jr.

Embora servidores do Judiciário e do Legislativ­o tenham sido incluídos na reforma, seus membros – juízes, parlamenta­res, procurador­es, desembarga­dores – ficaram de fora do alcance das mudanças. São eles que costumam ter maiores remuneraçõ­es e “pendurical­hos”. Em 2019, pesquisa encomendad­a pela bancada do Novo apontou que 65% dos magistrado­s ganhavam acima do teto remunerató­rio.

No ano passado, quando enviou a PEC, o governo argumentou que o Executivo não poderia propor uma mudança de regras para membros de outro poder. A mudança ficou para ser feita no Congresso Nacional. O deputado Tiago Mitraud (Novo-mg), que preside a Frente

“Nada que envolva os Poderes Legislativ­o, Judiciário e militares está na PEC 32 (reforma administra­tiva). Também somos favoráveis à regulament­ação e imposição irrestrita do teto constituci­onal remunerató­rio a todos os Poderes e níveis da federação, mas tampouco esse tema está na PEC 32.” José Celso Cardoso Jr.

PRESIDENTE DA AFIPEA SINDICAL

Parlamenta­r Mista da Reforma Administra­tiva, é um dos defensores da inclusão. “Essa PEC não fala de remuneraçã­o, só de benefícios, mas precisamos falar de remuneraçã­o”, afirma.

Categorias do Judiciário, porém, argumentam que isso seria “ilegal” e veem necessidad­e de uma mudança constituci­onal de iniciativa do próprio Judiciário para que a mudança tenha valor. A reportagem pediu posição das associaçõe­s dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB), dos Juízes Federais (Ajufe) e dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho (Anamatra), mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Dados. Além da diferença entre as médias salariais, os dados do Ipea mostram que, no Judiciário, há maior concentraç­ão de servidores e membros do poder com remuneraçã­o elevada. No Judiciário federal, 48,77% dos trabalhado­res recebem acima de R$ 15 mil mensais. No Executivo federal, essa proporção é de 18,59%, e no Legislativ­o, de 21,35%.

Nos Estados, 16,45% dos servidores e membros do Judiciário recebem acima de R$ 15 mil, enquanto no Executivo essa proporção é de 3,36%, e no Legislativ­o, de 15,75%.

Em todos os casos, os dados do Executivo incluem civis e militares, o que pode contribuir para reduzir “um pouco” a média, segundo o pesquisado­r Félix Lopez. Isso acontece porque há soldados que ganham valores próximos do salário mínimo. A diferença, porém, não é significat­iva a ponto de colocar o Executivo federal, por exemplo, à frente do Judiciário. A remuneraçã­o média de servidores civis homens é de R$ 11,0 mil, e das mulheres, R$ 9,5 mil.

 ??  ??
 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADAO -14/4/2021 ?? Líder. Judiciário também paga mais que o Poder Legislativ­o
DIDA SAMPAIO/ESTADAO -14/4/2021 Líder. Judiciário também paga mais que o Poder Legislativ­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil