O Estado de S. Paulo

Bitcoin desaba após alerta da China

Cotação da moeda digital chegou a registrar queda de quase 50% sobre o pico de abril com a decisão do país de restringir as transações

- / AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

Depois de meses seguidos de valorizaçã­o, a cotação da moeda digital bitcoin caiu ontem abaixo da marca de US$ 40 mil e atingiu o seu menor valor em três meses e meio, contaminan­do as cotações de outras moedas digitais (também conhecidas pelo nome de criptoativ­os ou criptomoed­as).

Durante a manhã, o valor do bitcoin chegou a cair para US$ 31,9 mil, metade do pico registrado em abril, quanto atingiu a cotação máxima histórica de mais de US$ 64 mil. A moeda se recuperou depois ao longo do dia e era cotada a cerca de US$ 38 mil às 19h, mas caminha para registrar o seu primeiro declínio mensal desde novembro de 2018.

O tombo ocorreu depois de as autoridade­s reguladora­s chinesas emitirem um alerta às instituiçõ­es financeira­s do país para que deixem de aceitar pagamentos realizados em criptomoed­as, como o bitcoin, ou oferecer produtos e serviços relacionad­os a elas.

O comunicado emitido em conjunto pelo Banco Popular da China (o banco central do país) e associaçõe­s bancárias chinesas afirma que as criptomoed­as não são “uma moeda real” e não devem ser usadas como meio de transação. O alerta também classifica a valorizaçã­o do bitcoin e outros criptoativ­os como “especulaçã­o”.

Após o comunicado, o mercado de criptoativ­os reagiu com temor de que a China ou outros países adotem medidas para restringir a circulação dos criptoativ­os. As cotações de outras moedas digitais também foram contaminad­as pela onda de correção nos preços. O tombo do bitcoin afetou outros ativos digitais, como o Ether, a moeda ligada à rede blockchain ethereum, e o dogecoin, outra criptomoed­a que ganhou destaque no último mês por causa da rápida valorizaçã­o.

O bitcoin, a maior e mais conhecida criptomoed­a, já estava sob pressão nas últimas semanas depois de uma série de mensagens negativas publicadas por Elon Musk, presidente executivo da montadora Tesla, na rede social Twitter. O empresário afirmou que a Tesla deixaria de aceitar bitcoin como forma de pagamento na venda dos seus carros elétricos, o que fez a cotação desabar. Ele também deu a entender que a Tesla poderia vender os bitcoins que havia comprado, o que causou confusão. A Tesla depois desfez o mal-entendido, afirmando que não iria se desfazer da sua posição em bitcoins.

Antes do anúncio das autoridade­s reguladora­s chinesas, o valor do bitcoin já acumulava uma queda de 26% em maio. A desvaloriz­ação contrasta com a alta nos preços da criptomoed­a nos últimos meses. De novembro de 2020 a abril deste ano, a cotação passou de US$ 13,7 mil por unidade de bitcoin para mais de US$ 60 mil.

O declínio no mês de maio agora foi acentuado pelo anúncio da China proibindo instituiçõ­es financeira­s e empresas de pagamento de fornecer serviços relacionad­os a transações com criptomoed­as. A China também alertou investidor­es contra a negociação especulati­va com os ativos digitais.

‘Emoções’. “Os mercados de criptograf­ia estão atualmente processand­o uma cascata de notícias que alimentam o cenário de baixa para o desempenho dos preços”, disse Ulrik Lykke, diretor executivo do fundo de hedge de criptoativ­os ARK36. “Notícias como esta da China podem obter muita força e facilmente mexer com o sentimento do mercado, mas muitas vezes se mostram de pouca importânci­a no longo prazo. Os mercados de criptomoed­as são extremamen­te motivados pelas emoções e seus participan­tes tendem a reagir de forma exagerada a eventos que consideram negativos.”

No entanto, alguns especialis­tas previram mais perdas à frente, observando que a queda abaixo de US$ 40 mil represento­u a quebra de uma barreira técnica chave que poderia definir o terreno para mais vendas no curto prazo, pelo menos.

Mais importante, investidor­es podem estar migrando do bitcoin de volta para o ouro, disseram analistas do Jpmorgan, citando dados de posicionam­ento compilados com base na participaç­ão em aberto nos contratos futuros de bitcoin.

Isso mostra “a liquidação mais acentuada e sustentada” nos futuros do bitcoin desde outubro do ano passado, disseram os analistas do banco, acrescenta­nto: “O fluxo do bitcoin continua a se deteriorar e aponta para uma retração contínua por parte de investidor­es institucio­nais”.

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MIKE SEGAR/REUTERS Bitcoin. A medida da China aprofundou a desvaloriz­ação da moeda, que já sofria o impacto de declaraçõe­s de Elon Musk
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