O Estado de S. Paulo

Nos EUA, cartão de vacinação vira o novo passe ‘vip’ .

Bares, restaurant­es, academias de ginástica, estádios esportivos e até festas particular­es só abrem espaços para pessoas vacinadas

- Jennifer Steinhauer THE TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em Fort Bragg, no Estado da Carolina do Norte, os soldados que já receberam a vacina contra o coronavíru­s podem frequentar uma academia de ginástica onde o uso de máscaras não é exigido, sem limites para o número de pessoas que podem se exercitar ao mesmo tempo. As esteiras estão funcionand­o a todo vapor, diferentem­ente dos equipament­os de 13 outras academias nas quais os soldados não vacinados são impedidos de usar os aparelhos, todos devem usar máscaras e há um limite para quantas pessoas podem usar o espaço de uma vez.

Dentro do Dodgers Stadium, em Los Angeles, onde até pouco tempo atrás a fila de pessoas aguardando a vacina contra o coronavíru­s se estendia por quilômetro­s, uma área de assentos especiais permite que aqueles já vacinados acompanhem os jogos sentados ao lado de outros torcedores.

Quando Bill Duggan reabrir o Madam’s Organ, seu lendário bar de blues em Washington, ninguém poderá entrar para trabalhar, beber ou tocar a não ser que apresente provas de que foi vacinado. “Tenho um saxofonist­a que está entre os melhores do mundo. Ele esteve aqui outro dia e eu lhe disse, ‘Walter, dê uma boa olhada neste lugar, porque você só vai voltar aqui depois que tiver sido vacinado’.”

Conforme os Estados Unidos pressionam o teto informal daqueles que se vacinam voluntaria­mente, governos, negócios e instituiçõ­es de ensino têm oferecido cenouras (na verdade, rosquinhas, cerveja e cheesecake) para convencer os retardatár­ios a seguirem o restante. Alguns chegaram a oferecer dinheiro: em Ohio, o governador, Mike Dewine, chegou a dizer na semana passada que o Estado ofereceria a cinco pessoas vacinadas US$ 1 milhão cada como parte de um programa de sorteios semanais.

Na quinta feira passada, autoridade­s federais de saúde ofereceram o incentivo definitivo para muitas pessoas quando anunciaram que americanos vacinados poderiam deixar de usar máscaras.

Estímulo. Agora, empregador­es, restaurant­es e espaços de entretenim­ento estão procurando formas de fazer com que os vacinados se sintam como clientes VIP, tanto para proteger funcionári­os e frequentad­ores quanto para estimular mais pessoas a aderir à vacinação.

Quando o verão chegar, em meados do ano, o país pode se ver cada vez mais dividido entre aqueles que podem assistir a eventos esportivos ao vivo, frequentar aulas, ir ao cabeleirei­ro ou participar de um churrasco com os outros, e aqueles que ficarão atrás da cortina das proteínas Spike (usada pelo coronavíru­s para entrar nas células).

O acesso e o privilégio entre os vacinados pode se tornar a regra para o futuro próximo, tanto nos espaços públicos quanto nos privados.

“No fundo, o que está em jogo é uma questão mais profunda a respeito do funcioname­nto da nossa sociedade”, disse o dr. Tom Frieden, ex-diretor do Centro para a Prevenção e Controle de Doenças e arquiteto de um programa de proibição ao tabagismo e controle da tuberculos­e em Nova York, que envolveram a adoção de regras obrigatóri­as. “Estamos afinal conectados uns aos outros de uma maneira importante, ou não?”

A exigência da vacinação para frequentar instituiçõ­es de ensino ou participar do Exército não é uma ideia nova. Mas, como as três vacinas contra a covid oferecidas nos EUA ainda não receberam a aprovação da Food and Drug Administra­tion (FDA, vigilância sanitária americana), o Exército não quis insistir na inoculação. Os distritos do ensino público, por sua vez, não podem pensar na exigência da vacinação até que haja vacinas disponívei­s para a maioria das crianças. A FDA acaba de autorizar o uso emergencia­l da vacina da Pfizer para adolescent­es de 12 a 15 anos.

Camarotes. Estamos na temporada do beisebol, e os torcedores anseiam pela volta à normalidad­e e a um contexto em que “onda na plateia” significav­a outra coisa além de uma nova investida do coronavíru­s. A Major League Baseball está promovendo agressivam­ente a vacinação, e os estádios se tornaram a nova linha de demarcação, onde as seções para torcedores vacinados são destacadas como uma exclusivid­ade comparável à dos camarotes.

O restaurant­e Bayou, em Salt Lake City, vai abrir suas portas somente para aqueles que já foram vacinados, de acordo com Mark Alston, um dos proprietár­ios. “A decisão foi tomada porque eu trabalho no Bayou todos os dias da semana”, disse ele. “Não fico em um escritório confortáve­l e mando os funcionári­os para o trabalho em condições insalubres. Eu trabalho ao lado deles.”

A política de “só para vacinados” fez com que sua caixa postal ficasse lotada de mensagens rancorosas. “Uma pessoa chegou a me acusar de organizar um culto de cervejeiro­s pedófilos", disse ele. “Coisa de maluco, mesmo.”

Até cidadãos individuai­s estão adotando a prática em suas casas. Um porta-voz da empresa de convites online Evite disse que, desde 1.º de março de 2021, 548.420 convidados receberam convites para eventos especifica­mente para “totalmente vacinados” ou que usavam outros termos ligados à vacina, e convites com a exigência de “totalmente vacinados” foram enviados a 103.507 pessoas.

A empresa Paperless Post, de atuação semelhante, criou modelos de convite específico­s para os já inoculados, com um RSVP destinado apenas a quem já se imunizou. /

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EMILY KASK/THE NEW YORK TIMES Exigência. Da porta de um bar em New Orleans, clientes observam posto de vacinação

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