3 PERGUNTAS PARA...
1. O que motivou a decisão dos governistas de adiar a votação?
Basicamente, essa decisão reflete um interesse do governo de Jair Bolsonaro em manter o tema na agenda. Não obstante, a conjuntura que se criou com as minúcias que apareceram na CPI da Covid tem a ver também com o resultado das pesquisas nas últimas semanas, que mostram uma queda muito drástica da avaliação do presidente. É uma soma de fatores adversos ao presidente. Veja que, num certo sentido, o modo como o presidente usa este tema em função da campanha eleitoral. Ele está em plena campanha, o que é ilegal, mas o presidente usa o voto impresso para fazer ameaças à democracia.
2. Por que esse é um assunto que se tornou tão disputado?
A razão de fundo, é que, no sistema democrático, embora ela não seja constituída apenas por eleições, ela é um ponto absolutamente central, o coração da matéria. Por meio delas, os eleitores exercem a cidadania. Em outros sistemas, o soberano é o rei, o príncipe, o secretário-geral. Na democracia, os soberanos são eleitores. Mas essa soberania é feita quando os eleitores fazem a escolha. Se você ameaça o processo eleitoral, é uma ameaça à democracia, não às eleições. Não é improvável que Bolsonaro esteja antecipando uma derrota em 2022. Acompanhando a família de outros líderes populistas, ele incorporou o que ocorreu com Trump. A narrativa é que se perder a eleição, houve fraude.
3. O que uma derrota significaria para o governo?
O principal efeito da derrota vai ser o esvaziamento da ameaça às eleições e por outro lado a afirmação de que se as eleições são feitas pelo voto digital, esvazia a retórica e narrativa do presidente que se ele não ganhar a eleição, elas são fraudadas. A derrota mostrará, pelo contrário, que o sistema eleitoral não depende de pessoas que estão na disputa de dirigentes ou autoridades. A questão diz respeito à sociedade como um todo, ao País, e à Constituição, os elementos que fundam o Estado democrático de direito.