Hábito de compra a prazo ajuda o cartão de crédito a resistir
Maquininhas continuam sendo importantes para atender consumidores, mas o cartão de débito está ameaçado
Do lançamento do Pix em novembro do ano passado até março, a participação do meio de pagamento instantâneo subiu de 7% para 30%, segundo dados da Federações Brasileira de Bancos (Febraban). Isso considerando apenas as transferências por Doc/ted e maquininhas de cartões. A fatia desses dois meios de pagamento caiu, respectivamente, de 25% para 19% e de 68% para 51%.
Apesar dos números, o diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs), João Pedro Paro Neto, diz que a indústria de cartões cresce a uma média de 18% ao ano e faz 45 mil transações por minuto. Para ele, o Pix é uma forma de transferência bancária, não um meio de pagamento. “Além disso, nossas soluções são completas, com segurança e vários formatos, com compras à vista, parceladas e, em breve, em forma de crediário.”
Para ele, cabe ao cliente escolher a melhor forma de fazer seus pagamentos. “No Brasil, os consumidores têm a tradição de fazer compras a prazo”, diz Eduardo Dotta, professor do Insper. Nesse ponto, o Pix não deve provocar muitas alterações, como mostram os microempreendedores Rosangela Aparecida Teixeira de Oliveira, de 54 anos, e Aparecido “Shidon” Soares Filho, de 66 anos.
Eles oferecem praticamente todas as modalidades de pagamento: crédito, débito, dinheiro e, agora, Pix. Para eles, seria mais vantajoso o Pix, já que não há taxas. Mas, segundo Rosangela, que faz artesanato em crochê, 90% das vendas ainda são feitas na maquininha – ela tem três, de diferentes marcas. As taxas cobradas pelas empresas de meios de pagamento são diferentes, mas, no geral, os valores são maiores quando a opção escolhida é o crédito.
Débito.
Se para o cartão de crédito o Pix não representa uma ameaça, o mesmo não ocorre com os cartões de débito, diz o presidente da fintech Jazz, José Roberto Kracoskanky. Na avaliação dele, o avanço da nova modalidade vai exigir um reposicionamento das empresas de maquininhas, uma vez que o Pix deve ser incrementado daqui para frente com novas funcionalidades, como o Pix agendado, Pix Saque e Pix Troco.
Uma pesquisa da consultoria Gmattos com lojas online mostra que a aceitação do Pix nas operações pela internet triplicou de janeiro para cá. Além disso, a conversão do Pix é de 90% enquanto numa compra com débito é de apenas 30%. Isto significa que 70% dos consumidores que tentam pagar uma compra online com débito não concluem a operação, diz o presidente da Gmattos, Gastão Mattos. De acordo com a pesquisa, para a loja, “se o consumidor tiver Pix e débito, a opção pelo Pix é mais favorável, implicando receitas três vezes superiores dado o ganho na conversão do pagamento”.