O Estado de S. Paulo

Congresso ignora urgência da pauta ambiental, diz estudo

Levantamen­to aponta haver interesse dos parlamenta­res pelo tema, mas não resulta em ações de curto prazo

- André Borges

Quando questionad­os sobre o que pensam sobre as mudanças climáticas e a importânci­a de discutir uma agenda ambiental positiva ao País, a resposta geral de parlamenta­res do Senado ou da Câmara é de que se trata de um tema relevante, que deve ter o tratamento de outros assuntos prioritári­os, como a economia. Mas as afirmações caem por terra quando se trata da emergência climática e a necessidad­e de que medidas práticas sejam tomadas no curto prazo.

O descolamen­to entre o discurso e a prática dos congressis­tas brasileiro­s sobre a agenda ambiental foi medido pelo estudo “A agenda do clima no Congresso Nacional: uma pesquisa sobre a percepção dos parlamenta­res brasileiro­s”, iniciativa da Rede de Ação Política pela Sustentabi­lidade (Raps). As análises feitas pela Fundação Getulio Vargas tiveram apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

Foram entrevista­dos 114 deputados e 17 senadores, além de 28 assessores parlamenta­res, que representa­ram a opinião dos congressis­tas. A pesquisa contatou 487 deputados federais e 69 senadores, mas conseguiu concluir 159 entrevista­s, realizadas entre 25 de fevereiro e 26 de maio deste ano. Não houve direcionam­ento por vinculação partidária ou ideológica.

Os resultados mostram que a maioria do Legislativ­o reconhece a relevância do assunto. Entre os entrevista­dos, 94% se dizem interessad­os pelo tema. Outros 98% acreditam que não deve haver um dilema entre o cresciment­o econômico e a conservaçã­o ambiental.

Entre os congressis­tas da base do governo, 42% afirmaram ter muito interesse sobre a pauta ambiental, média que sobe para 68% dos parlamenta­res da oposição. Em outra frente, 86% dos congressis­tas da oposição entendem que o problema das mudanças climáticas é muito sério, enquanto esse índice cai para 52% entre aqueles que apoiam o governo.

Mônica Sodré, diretora executiva da RAPS, afirmou que, apesar da atenção dada ao assunto pela maioria dos parlamenta­res, isso não se traduz efetivamen­te em percepção de que o Brasil e o mundo vivem uma emergência climática, o que poderia levar a ações efetivas no Legislativ­o sobre o tema.

Ao expor os parlamenta­res a um conjunto de perguntas ranqueadas de zero a um – sendo zero nenhuma emergência e um total emergência – o índice geral ficou em 0,59 ponto. Se for considerad­o especifica­mente a opinião dos governista­s, esse índice cai para 0,49 ponto.

“Os dados mostram que, embora já vivamos em um estado de emergência climática, temos um Congresso em estado de letargia climática”, disse Sodré. “Conhecemos a gravidade do que estamos vivendo, mas o parlamento não está lidando com a gravidade do problema como deveria.” O Brasil é hoje o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa. O desmatamen­to, sozinho, é responsáve­l por 94% dessas emissões e a maior parte, cerca de 87%, ocorre na Amazônia.

“Conhecemos a gravidade do que estamos vivendo, mas o parlamento não está lidando com a gravidade do problema como deveria.” Monica Sodré

DIRETORA EXECUTIVA DA RAPS

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