O Estado de S. Paulo

Conselho do MP anula acordo com a Ecovias

- Fausto Macedo Rayssa Motta

O Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo anulou anteontem o acordo firmado pela Promotoria de Defesa do Patrimônio da Capital com a Ecovias, concession­ária de estradas. Por unanimidad­e, os procurador­es que integram o colegiado decretaram arquivamen­to imediato do inquérito civil por meio do qual a Promotoria investigav­a formação de cartel e distribuiç­ão de propinas, pagamento de caixa 2 a dezenas de políticos e até duas Comissões Parlamenta­res de Inquérito (CPIS) estaduais que teriam sido “compradas”. A avaliação dos conselheir­os foi a de que o acordo é ilegal e não atende ao interesse público.

Pelo acordo, assinado em abril de 2020, a Ecovias se comprometi­a a pagar multa de R$ 650 milhões (montante hoje superior a R$ 700 milhões) e a revelar provas da prática de ilícitos, principalm­ente em períodos eleitorais, favorecend­o candidatos a deputados estaduais e federais e também a postulante­s ao governo do Estado. Em troca, havia obtido a garantia de que não seria alvo de ações por improbidad­e administra­tiva nem de outros processos de natureza civil propostos pelo MP paulista. O acordo abria caminho para as primeiras investigaç­ões que, no entanto, ficaram travadas até que agora o Conselho Superior decretou a anulação de tudo.

Um alto executivo ligado à concession­ária, ouvido preliminar­mente, confessou detalhes da atuação de um cartel formado desde 1997, envolvendo 80 empresas. Ele apontou os nomes de beneficiár­ios de uma rede de propinas, inclusive no Tribunal de Contas do Estado.

A decisão do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo encerra qualquer investigaç­ão da Promotoria no âmbito civil. Na esfera criminal, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) homologou o acordo.

Com o arquivamen­to do inquérito civil, a concession­ária fica livre da obrigatori­edade de devolução milionária de recursos e os políticos citados escapam da investigaç­ão.

Procurados, os promotores de Justiça Silvio Antônio Marques, José Carlos Blat e Paulo Destro, que subscrever­am o acordo com a Ecovias, não quiseram se manifestar. Os representa­ntes da concession­ária Ecovias e do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo não foram localizado­s pela reportagem até a conclusão esta edição.

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