França ainda briga por papel de potência independente
Para a França, o drama geopolítico desta semana – o cancelamento da venda de submarinos para a Austrália e a furiosa resposta ao fato de os EUA atravessarem o acordo – resume um problema contra o qual a outrora poderosa nação lutou por décadas: como se afirmar como uma potência independente, que os franceses consideram essencial, ao mesmo tempo em que o país mantem as alianças das quais sabe que é dependente.
Reconciliar esse dilema entre independência e confiança tem atormentado a estratégia francesa desde que a 2.ª Guerra deixou a maior parte da Europa subjugada a superpotências estrangeiras. Embora os americanos, às vezes, vejam a obstinação francesa como motivada por vaidade ou pelo desejo de recuperar o orgulho imperial há muito perdido, os líderes franceses estão bem cientes de que lideram uma potência de tamanho médio em um mundo dominado por outras maiores.
A venda planejada dos submarinos segue uma longa linha de movimentos calibrados para projetar o poder francês, mantendo a capacidade do país de dirigir seu próprio destino, enquanto se alinha aos parceiros cuja ajuda Paris sabe que precisa, paradoxalmente, para se manter por conta própria.
A perda do contrato evidenciou a dificuldade de manter as duas abordagens. A resposta da França também. A convocação de seu embaixador em Washington foi feita para mostrar que o país não tem medo de enfrentar nem mesmo os seus aliados. Ao mesmo tempo, ao buscar apoio europeu contra a traição americana, Paris demonstrou que se sente compelida a pedir apoio externo até nisso.
“Para os franceses, independência sempre significou autonomia”, disse Bruno Tertrais, vice-diretor da Fundação para Pesquisa Estratégica de Paris. “Mas isso nunca foi 100% independente. O que importa é que é 99% independente”, disse ele, acrescentando que isso traz tensões fundamentais que não podem ser resolvidas, apenas gerenciadas.
A 2.ª Guerra e suas consequências deixaram a Europa dividida entre forças americanas e soviéticas. Também levaram Washington a exercer novas pressões sobre seus aliados, muitos dos quais também ocupava militarmente, e convenceram os franceses de que aceitar um futuro como um de muitos em uma aliança liderada pelos americanos significaria se render. Mas a chegada da era nuclear, com sua ameaça de aniquilação total, convenceu os franceses de que eles teriam de garantir seu próprio caminho no mundo, mesmo que isso, às vezes, incomodasse os aliados de cuja ajuda eles precisariam tanto.