ADAPTAÇÃO A FAVOR DO MEIO AMBIENTE
Da construção até a mobília, muitas medidas, às vezes, são mais simples do que se imagina
Mudanças climáticas, crise hídrica, aumento na conta de energia – motivos não faltam para começar a pensar em uma forma de morar mais sustentável. As medidas para se caminhar nesta direção são variadas e, às vezes, mais simples do que se espera. Uma maior adaptação ao ambiente é uma das peças fundamentais nessa questão – por exemplo, o melhor aproveitamento dos recursos naturais, da incidência solar ao vento.
O tema da habitação mais sustentável foi discutido durante a programação da 11.ª Virada Sustentável, que terminou ontem e contou com parceria do Estadão.
Um termo relacionado ao assunto e que tem sido difundido nos últimos anos é o “greenwashing” (“lavagem verde”, em inglês). Ele significa dar a aparência de algo sustentável para algo que não o é. Além disso, também há propagação de soluções que, por vezes, não são as melhores.
O consultor ambiental Luiz Henrique Ferreira, CEO da Inovatech Engenharia, dá um exemplo prático: implementar um sistema de irrigação do jardim com água de reúso. A medida pode ser sustentável, mas seria mais prático se as plantas fossem adaptadas ao ambiente e precisassem de pouco ou nenhum tratamento automatizado. “Uma grama esmeralda consome mais água que uma grama amendoim, e uma jabuticabeira consome muito mais que um limoeiro”, compara.
O caso também demonstra que a avaliação das características do ambiente é um ponto fundamental neste tema, a fim de obter maior eficiência e reduzir a necessidade de manutenções e novos investimentos. “Ainda há uma falta de conhecimento muito grande sobre o tema”, comenta. “Não há receita de bolo, cada projeto é um projeto.”
Tecnologia. Ferreira comenta que alguns recursos tecnológicos podem contribuir em projetos, como a internet das coisas para o monitoramento de vazamentos. Mas não são essenciais. “Confundir sustentabilidade com tecnologia também é um exagero. Assim como a cor da fachada pode gerar consumo de energia para a climatização.”
Professora do Instituto Federal Fluminense, a arquiteta Paolla Clayr diz haver uma visão de que a sustentabilidade é algo difícil de ser aplicado na prática. Ela aponta que o primeiro aspecto é enxergar uma construção como um ecossistema, interligado às características de onde está, climáticas, de solo, de vizinhança, etc.
A incidência solar, o vento, a incidência de chuva, o relevo e outros elementos podem ser utilizados a favor da sustentabilidade, destaca a arquiteta Clayr. Na pandemia, por exemplo, a contribuição da ventilação cruzada (que atravessa ambientes) ficou evidente por dificultar a disseminação da covid19, mas também pode contribuir na troca de calor.
Da mesma forma, árvores do lado de fora podem contribuir para reduzir o aquecimento dos ambientes e se tornam barreiras contra o vento. A vegetação exerce, aliás, este papel até mesmo dentro das edificações. A professora comenta que a incidência solar ajuda a manter um ambiente saudável mas, quando elevada, diminui o conforto térmico e exige consumo de energia para refrigeração.
Para o arquiteto Marcelo Nudel, sócio-diretor da Ca2 Consultores, essas avaliações geralmente são feitas com bae em modelos digitais, que estimam o conforto térmico e afins a partir da incidência solar, do material utilizado, do tamanho das janelas. Ele percebe que o interesse pelo tema cresceu, mas ainda é bem restrito. Além disso, entende que as exigências legais brasileiras são bem menores nesse aspecto. “Um edifício do dia a dia na Austrália, na Inglaterra ou na Espanha, mesmo sem certificado, geralmente é mais sustentável do que muitos certificados que temos no Brasil, porque a lei obriga.”
Menor impacto. Outro ponto é a adoção de sistemas construtivos que utilizem fontes renováveis e de menor impacto ambiental, como a madeira engenheirada certificada, o bambu, a terra e afins. Essas opções ainda atraem menos interesse e a mão de obra qualificada é reduzida, constata o arquiteto Rafael Loschiavo, fundador do escritório Ecoeficientes.
A discussão passa em grande parte, também, por uma melhor gestão dos resíduos e aproveitamento do entorno. Dentro disso, entra a possibilidade de captação de energia com células fotovoltaicas ou de aquecimento por meio da energia solar, enquanto a opção por eólica ainda tem pouco espaço no meio residencial.