O Estado de S. Paulo

Eletrifica­ção dos ônibus no transporte público é morosa

Com menos de 1% da frota eletrifica­da no Brasil, projetos de ônibus carbono neutro têm investimen­tos e são caminho sem volta

- Ricardo Brandt

Nas ruas históricas de Salvador (BA), dois ônibus elétricos entraram em circulação na última semana. No Paraná, a Expresso Princesa dos Campos lançou “o primeiro ônibus rodoviário intermunic­ipal 100% elétrico do Brasil”, no trajeto Curitiba–ponta Grossa. Em São José dos Campos (SP), começam a circular, até o final do ano, os 12 primeiros ônibus articulado­s elétricos do País, o VLP (veículo leve sobre pneus) Verde.

Em fase de testes ou em implementa­ção, a eletromobi­lidade no transporte público avança lentamente no Brasil, em descompass­o com o resto do mundo. Reduzir a emissão de poluentes gerados no transporte, melhorar a qualidade dos serviços para recuperar passageiro­s e reduzir o número de carros particular­es nas ruas são um caminho sem volta.

“A eletrifica­ção é possível, mas custa muito. No modelo atual, é impossível pensar um transporte público com energia limpa, no Brasil”, afirma Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transporte­s Urbanos (NTU).

Mudanças na infraestru­tura das cidades, com mais corredores e faixas exclusivas para ônibus, uso intensivo de tecnologia­s digitais nos serviços e mudança do modelo de negócio são essenciais, segundo especialis­tas e empresário­s do setor.

SISTEMA EM RISCO

“O quadro do transporte público, no Brasil, é o de um tabuleiro de xadrez, em xeque. O setor não tem muita alternativ­a. Se for mantido esse quadro, o transporte terá que ser assumido pelo Poder Público”, afirma o presidente da NTU.

No País, são 107 mil ônibus e 40,4 milhões de viagens por dia, segundo a NTU. Antes mesmo da pandemia, houve redução de até 50% no volume de passageiro­s. Nem 1% da frota entrou na era da eletromobi­lidade. São, pelo menos, 350 ônibus eletrifica­dos em operação.

REESTRUTUR­AÇÃO

A eletrifica­ção dos ônibus, sem melhorar a qualidade dos serviços, não vai resolver o problema de mobilidade. Tempo de viagem menor, maior confiabili­dade e conforto aos usuários são fundamenta­is. Afinal, nesse quesito, um ônibus movido a eletricida­de preso no congestion­amento é quase igual a um ônibus a diesel preso no congestion­amento. Nada muda nada.

Segundo Otávio Cunha, “é inviável imaginar o futuro, na mudança de matriz energética, sem nenhuma política estabeleci­da. É preciso reestrutur­ar todo o sistema. O mundo está trabalhand­o na eletrifica­ção. O caminho do futuro é esse, mas precisamos de uma reestrutur­ação no modelo. Só assim, podemos pensar em ter ônibus elétrico, com matriz energética mais limpa”.

ATRASO

São 421 mil ônibus elétricos no mundo, a grande maioria na China. O Brasil, que possui a maior frota de ônibus das Américas, tem ficado atrás nessa corrida. O Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que o País estagnou na eletrifica­ção dos ônibus do transporte público, enquanto cidades como Bogotá (Colômbia) e Cidade do México (México) se tornaram bons exemplos.

A plataforma E-BUS Radar, que monitora frotas de ônibus elétricos no transporte público em várias cidades latino-americanas, registrou, em julho, que 2.473 veículos zero emissão de carbono estavam em circulação em 12 países. No Brasil, São Paulo, Brasília, Santos, Maringá e Volta Redonda são cidades monitorada­s pelo radar.

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Foto: Divulgação Adenir BRITTO/PMSJC VLP Verde: São José dos Campos (SP) recebe, em outubro, 12 ônibus articulado­s 100% elétricos; modelo ficou em exposição na cidade

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