Startup Kavak recebe aporte de US$ 700 milhões
Com novo cheque milionário no ano, empresa mexicana de carros usados vira a segunda startup mais valiosa da América Latina
Há uma nova gigante entre as startups da América Latina. A mexicana Kavak, que atua na compra e na venda de automóveis seminovos e usados pela internet, anunciou ontem uma rodada de investimento de US$ 700 milhões. Com isso, a empresa chega ao valor de mercado de US$ 8,7 bilhões, consolidando-se como a segunda startup mais valiosa da região, atrás apenas do Nubank, avaliado em US$ 30 bilhões.
O aporte foi liderado pela firma americana de capital de risco General Catalyst, que já investiu em empresas como Airbnb e Snapchat – a rodada também contou com a participação de investidores como Softbank, Tiger, Spruce House, D1, SEA, Founders Fund e Ribbit. O cheque chega apenas cinco meses após a última rodada de investimentos da Kavak, que envolveu US$ 485 milhões e fez a empresa atingir avaliação de mercado de US$ 4 bilhões.
A Kavak foi a primeira startup mexicana a alcançar o título de “unicórnio” (nome dado a empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). Fundada em 2016, a startup compra e vende carros usados em uma plataforma digital. Com oficina própria, a empresa recondiciona o automóvel antes de colocá-lo à venda no site – o comprador pode fazer o financiamento no mesmo sistema. Além disso, o carro tem dois anos de garantia e manutenção. Em julho, a mexicana, que também opera na Argentina, oficializou a chegada ao Brasil.
A nova captação tem como objetivo colocar mais gasolina no tanque da Kavak, que opera em um mercado aquecido. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram vendidos de janeiro a agosto 7,6 milhões de automóveis e comerciais leves (picapes e vans) usados no Brasil, 48,8% a mais em relação ao mesmo período de 2020 – o volume também é 6,6% maior na comparação com 2019.
Crescimento. Os recursos serão usados para sustentar a expansão global da Kavak. “Nosso negócio é muito complexo de ser escalado. É uma solução de ponta a ponta: não só resolvemos a parte transacional com o cliente, mas também atuamos do lado do dono do carro. Com a aceleração do mercado de carros usados, estamos tendo mais demanda do que podemos atender”, afirma Roger Laughlin, cofundador e presidente executivo da Kavak no Brasil, em entrevista ao Estadão.
Ele explica que o capital ajudará a alavancar o produto da Kavak na América Latina e também em novos países – o executivo não revela quais destinos receberão a operação, mas diz que o mercado asiático é um dos possíveis destinos.
Com o reforço no caixa, as fichas colocadas no Brasil também vão aumentar. Em julho, ao oficializar sua chegada ao País, a Kavak revelou um investimento inicial de R$ 2,5 bilhões. Sem dar detalhes de valores, Laughlin confirma que esse número vai crescer com o novo cheque.
A operação brasileira da Kavak está ganhando tração. A empresa iniciou as atividades com 500 funcionários no País e chegou a mil neste mês – a princípio, essa era a meta de equipe para dezembro. A cidade de São Paulo tem atualmente sete lojas da startup e o plano é dobrar esse número nos próximos dois meses. A Kavak deve chegar a Campinas e Sorocaba ainda neste ano.
“Ficamos mais de 4 anos focados na cidade do México para entender nosso produto, o consumidor e estratégias de escala. O fato de agora lançarmos novos países não significa que perderemos o foco nos mercados em que já atuamos”, diz Laughlin. “Não queremos decidir entre
“Nosso negócio é muito complexo. Não só resolvemos a parte com o cliente, mas também a do dono do carro.”
Roger Laughlin
COFUNDADOR E PRESIDENTE
EXECUTIVO DA KAVAK NO BRASIL
dar recursos para um lugar ou outro. Por isso captamos essa nova rodada”.
Congestionamento. A Kavak não é a única startup de compra e venda de carros usados. O unicórnio brasileiro Creditas adquiriu em julho a Volanty, startup do setor fundada em 2017. Em agosto, a Instacarro recebeu aporte de R$ 115 milhões. Há também a Carupi, criada no fim de 2019, e a plataforma argentina Karvi, que chegou ao Brasil no ano passado.
Na visão de Gilberto Sarfati, professor da FGV, o novo cheque da Kavak deve chacoalhar o segmento. “Os concorrentes brasileiros vão sofrer bastante com o tamanho do caixa e da operação da Kavak, que é a maior do setor atualmente”, analisa ele.
Para a Kavak, porém, haverá um desafio que é comum na dinâmica das startups: mostrar que o negócio é rentável. Por investir pesadamente em acelerar o crescimento, a empresa ainda não tem lucro. A Kavak enxerga que isso é parte do processo.
“Nossos custos fixos hoje são maiores do que podemos diluir, mas não conseguiríamos captar as rodadas que levantamos se não tivéssemos um caminho claro para o lucro”, afirma Laughlin.